Capítulo dois

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O dia já estava na metade, corria apressado desde que eu saí do meu turno no café. Estava na hora do almoço, um dos meus horários favoritos, pois significava que logo a aula extra classe que eu fazia, iria começar. Eu e Pidge estamos sozinhos em uma mesa afastada das outros, não é como se não gostássemos da presença de outras pessoas, mas preferíamos ficar perto de amigos próximos.

- Pidge! O que faço?! Sonhei com ele de novo! - Digo baixo.

De novo. Não havia termo que se adequasse melhor as repetições cotidianas e inoportunas que aconteciam naquela semana. Todavia, não era pela segunda vez, nem pela terceira, muito menos pela quarta que eu sonhava com tamanhas provocações e esquecia sua voz pela manhã, a frequência em que minha mente vagava e ia para no belo desconhecido era impressionante, de cada dúzia de pensamentos cinco ou seis eram sobre ele, sobre sua voz embaralhada com o barulho que havia lá, suas bochechas vermelhas quando deu permissão para que eu o beijasse de língua ou até mesmo sobre a forma como sua aparência parecia tão incomum, tão indefinida.

- Por favor, escuta-me! - O tom de súplica que usei foi sem intenção, porém, fora-me muito útil.

A garota tirou os olhos do livro que antes lia atentamente e me encarou, os orbes brilhando como se tivesse surpresa, a expressão de sabichona estampada em sua cara e um pequeno sorriso lateral nos lábios. Ela ajeitou os óculos que escorregava pelo fino nariz e suspirou. Estou ouvindo. Foi o que quis dizer mesmo não tendo pronunciado.

- Deveria esquecê-lo, como digo para fazer desde que aquilo rolou. - Respondeu calma.
Revirei os olhos.

- Você fala como se fosse fácil. - Como se eu já não houvesse tentado inúmeras vezes e não conseguido, tentar tendo tornado a lembrança ainda mais forte e presente na minha mente. Completei mentalmente, sem dizer em voz alta.

O gosto de seus lábios, a sensação quente e eletrizante, seu aroma, seu toque, tudo estava impregnado em mim, não importava quantos banhos frios eu tomasse, não conseguia tira-lo da cabeça. E talvez, não quisesse o fazê-lo.

- Lance, você sabe o nome dele? Perguntou qual era? - Neguei com a cabeça, vendo-a suspirar novamente, dessa vez sua expressão quase demonstrava pena. Eu realmente deveria ter perguntado, deveria ter feito aquilo enquanto havia tempo, enquanto conversávamos. - Você não se lembra do rosto dele, só tem... Recordações confusas do rapaz. Nem tem certeza se vai ou não encontrá-lo novamente, provavelmente nunca mais se verão.

Não queria concordar com a garota, pois, seria usado contra mim depois. Mas ela está certa. Sei disso e é o que mais me irrita, porém, eu não ia desistir. Não sei o motivo desse desconhecido mexer tanto comigo, preciso descobrir. Tenho que descobrir!

- Não sei, Pidge. Estávamos ocupados demais para que eu lembrasse de perguntar, a bebida em meu organismo também não permitia. - Falei envergonhado, apoiando os cotovelos na mesa e o rosto nas mãos. Por que eu havia bebido tanto? - O que faço? Quero vê-lo de novo.

- Como você quer ver alguém de quem nem lembra? - A voz grave de Hunk soou atrás de mim, assustando-me. Ele cruzou a mesa, chegando a minha frente, ao lado da garota, uma bandeja cheia de comida em suas mãos.

Pidge olhou-o por alguns segundos antes de votar a me encarar, parecia concordar com o que o garoto dissera.

A quanto tempo ele ouvia nossa conversa? Bufei indignando.

- Isso é só um detalhe! - Reclamei alto.

- Sim, claro, um detalhe. Quando você vê-lo novamente, irá se recordado do rosto e de o resto, né? Porque, por mais que estivesse sem a menor consciência do que fazia, conseguirá distinguir o rosto dele em meio a multidão. - Pidge disse sarcástica, uma sobrancelha arqueada.

𝘉𝘦𝘤𝘢𝘶𝘴𝘦 𝘐 𝘩𝘢𝘥 𝘶 - 𝘒𝘭𝘢𝘯𝘤𝘦Onde histórias criam vida. Descubra agora