Capítulo quatro

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Keith se encontrava em seu quarto, seu refúgio do mundo e da faculdade, estava no pequeno apartamento que possuía no Norte da fria, calma e solitária cidade que habitava, estava sentado sobre a cama, em cima das panturrilhas e com as pernas cruzadas. Mexia distraído no violão que estava em seu colo, o objeto preto, um tanto que desbotado, aos poucos ia adquirindo a mesma afinação que um dia já possuíra, as cordas sendo ajustadas de forma que a melodia não saísse distorcida.

Respirou fundo, seu cansaço estava tão presente quando a ansiedade. O vento frio que entrava pela janela circulando pelo espaço minúsculo e resfriando ao seu corpo, provocando arrepios agradáveis em sua epiderme que, mesmo um tanto febril, estava acostumado ao agradável clima. Subiu a manga do moletom cinza que usava, pegando a palheta que estava sobre o travesseiro, a corda vibrando sonoramente quando começou a tocar devagar.

Fazia tempo que não pegava em um instrumento, sentir aquela sensação eufórica de êxtase era revigorante, principalmente por estar naquele estado crítico de agito. Seus batimentos cardíacos pareciam acompanhar o som lento que produzia, ou talvez, fosse ao contrário, o que não mudava em nada a situação.

Precisava escolher uma música, mas estava difícil, sentia-se preparado fisicamente, já havia ajeitado tudo, com exceção, é claro, do mais importante. Não tinha escolhido uma música, não conseguia decidir.

Era complicado.

Seu vício por músicas lhe prejudicava nesse ponto, a indecisão aparecia e desfilava caótica ao seu redor, dentro da sua mente, surgiam inúmeras músicas, opções demais, profundas e rasas, das mais acústicas, as mais instrumentais, emocionais ou insignificantes. Tinha que pensar com cuidado sobre tudo aquilo.

Um passo em falso e sua sorte poderia ir para o buraco, a oportunidade que teria não passaria de uma decepção, de uma recordação frustrada de como as coisas poderiam ter acontecido. Parou de tocar, balançando a cabeça negativamente para afastar aqueles pensamentos, estava distraído, sendo pessimista.

Keith apoiou as costas na parede ao lado da janela de vidro que permanecia aberta, a brisa suave que agora entrava, balançando a fina cortina. Esticou as pernas para o lado de fora da cama, as meias de algodão abaixo de seu tornozelo, descendo um pouco mais, quando o rapaz balançou os pés. Largou o violão ao seu lado, respirando fundo ao pega o caderno de capa preto, que jazia em cima da cômoda, abriu em uma página marcada por um marca texto azul e uma caneta quase sem tinta.

Atentou-se a um pequeno barulho que ouviu, olhando para a frente. A maçaneta da porta se mexeu como se alguém estivesse destrancando e por um momento o coração do moreno parou, pensando nas probabilidade de ser o pior, de que fosse um assaltante. Morava sozinho e aquele era seu quarto, não haveria a quem recorrer no último momento - desconhecia seus vizinhos, menor chance ainda deles o ajudarem. Keith expirou assim que a porta se abriu, não havia notado que estava prendendo a respiração, e uma cabeleira loira recém retocada se fez presente no ambiente, colorindo aquele quarto cujo o vermelho, branco e preto eram as cores mais destacadas.

- Quantas vezes eu já disse para bater na porta? Na verdade, como conseguiu entrar? - Perguntou, ficando com a postura ereta e encarando a garota.

Romelle sorriu eufórica, sua expressão vacilando por alguns segundos ao colocar apressadamente a mão dentro do bolso da saia florida que usava.

- Peguei a chave nas coisas da Allura. - Deu de ombros, um tanto que desinteressada, só conseguira que a namorada lhe entregasse depois de muito esforço, só por garantir que não iria invadir sem motivos, algo que por acaso fizera, porém, claramente a platinada não precisaria saber desse detalhe.

- E como ela conseguiu?

- Lotor...

Keith suspirou. Deixou suas coisas de lado ao se levantar da cama e se aproximar da garota. Lembrava-se vagamente de ter entregado uma cópia da chave ao platinado na época que estavam juntos, era útil já que ele ajudava na arrumação algumas vezes e ficava frequentemente no seu apartamento.

𝘉𝘦𝘤𝘢𝘶𝘴𝘦 𝘐 𝘩𝘢𝘥 𝘶 - 𝘒𝘭𝘢𝘯𝘤𝘦Onde histórias criam vida. Descubra agora