Capítulo cinco

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E naquele doce e frágil momento, eu só conseguia olhá-lo. Keith estava sentado em um banquinho vermelho no centro do palco improvisado, o violão preto jazia em seu colo e ele parecia conferir se as cordas estavam afinadas para que tocasse em breve. Parei com o que era para fazer, deixando alguns, muitos na verdade, clientes com seus pedidos atrasados — não que se importassem, afinal, estavam ocupados demais, presos em um convívio social obrigatório para se atrelarem a cinco ou dez minutos de demora.

Meu humor estava nas alturas, finalmente eu estava livre de afazeres da faculdade, as matérias estavam em dia o que auxiliava para diminuir o meu estresse, acabar de vez com minhas dores de cabeça. Sem contar o fato de Kogane está ali, não em uma mesinha escondida e sim diante dos olhos de todos, principalmente dos meus que não se desviaram dele nem por uma fração de segundo desde que chegara. Nunca experimentara tamanha felicidade quanto quando sua patroa ligou naquela manhã, informando que iam tentar sua ideia no café e já haviam conseguido um músico. O amigo de Romelle. Um garoto da sua faculdade e que está sempre por aqui, que falou com ela algumas vezes durante os expedientes.

Só pela descrição eu reconhecia.

A primeira pessoa em que pensei foi nele e como estava sempre com o seu violão, que sua voz era bonita o bastante para trabalhar nessa área e que, certa vez, derrubou seu caderno de capa negra e algumas partituras caíram, se ele não tivesse recolhido as presas e deixado claro que não queria ajuda eu provavelmente teria perdido meu tempo, vasculhando naqueles papéis em busca de descobri seu nome, afastando-me caso ele ordenasse. Estava certo e me contentei ainda mais com isso, passando a sorrir de forma mais natural, menos automática, naquele finzinho de dia que demorou a passar, pareceu que um milênio estava se arrastando até que ele chegasse.
Fiz esforço para sair dos devaneios, tentando lembrar a quanto tempo eu o encarava, sem desviar o olhar e de como seria estranho se ele notasse. Apoiei a mão nas costas da cadeira, respirando fundo para acalmar ao meu agitado coração, que palpitava forte sem motivo nenhum.

Ele era bonito, isso era um fato incontestável. E vestido daquela maneira ficava ainda mais atraente e intrigante, cores escuras combinavam com o seu tom de pele empalidecido. Admito sem pudor algum, a fachada séria e rude me deixava um pouco interessado — talvez mais interessante do que deveria —, o que deveria ser para afastar as pessoas de si servia para me fazer querer chegar ainda mais perto. Querer conhecê-lo melhor.

— Boa noite, senhores e senhoritas, seja bem vindos ao Voltron Café’s nessa noite tão majestosa!

A voz doce e calma de Anna ecoou pelos alto-falantes que ficavam espalhados. Estava um pouco mais alta e agitada do que a normal. Olhei em volta, procurando vê-la em algum lugar, no entanto não consegui.

Provavelmente estava nos fundos do estabelecimento, falando pelos microfones das câmeras, ou então estaria atrás das cortinas vermelhas que colocamos nas pontas do palco e observava a todos nós, com os mesmos olhos ávidos e atentos de quando está a serviço.

Passei as mãos no avental, enxugando os resíduos de suor e farelos que restava nelas da última mesa que limpei. Meu olhar caiu novamente sobre o garoto de longas madeixas negra e eu só soube respirar fundo, ele ainda não me olhava, estava ocupado demais ajustando o apoio do seu microfone na altura dos seus lábios.

— Espero que estejam animados com a apresentação de hoje, pois eu estou! Pois bem, essa é a primeira vez que estamos organizando um espetáculo como esse e se tudo der certo, não será a única. — A empolgação no seu timbre era notável a qualquer um, provavelmente estava dando pulinhos de alegria onde quer que tivesse. — E para começar com chave de ouro, deem as boas-vindas para o nosso querido Keith Kogane que aceitou de bom grado cantar e tocar para vocês.

𝘉𝘦𝘤𝘢𝘶𝘴𝘦 𝘐 𝘩𝘢𝘥 𝘶 - 𝘒𝘭𝘢𝘯𝘤𝘦Onde histórias criam vida. Descubra agora