Capítulo onze

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Superficialmente, eu me sentia bem o bastante para que minha cabeça não estivesse pesada demais e meus olhos não ardessem. Está de folga no começo da semana era relaxante, principalmente quando me encontrava acompanhado.
Uma quieta companhia.

Descendo três copos médios de café puro em menos de uma hora, se tornava a maior prova de que Keith não estava nada bem naquele dia. O rosto pálido demonstrava um cansaço muito maior do que normal, e olhe que parecia um morto comumente, vagando para lá e cá com a cara moribunda de berço. Sombras escuras rodeavam seu corpo magrelo, lhe cercando e deixando sem escapatória, e o mais curioso, era que o garoto mal parecia notá-las, indiferente demais ao momento que vivíamos.

Suas pálpebras estavam tão pesadas que, constantemente, piscava os olhos e encarava o teto da cafeteria, sonolento, voltando a observar a tela do seu notebook logo em seguida, como se aguardasse a chegada da inspiração. Ele não dava bola para ninguém ao seu redor e doía um pouco, ao mesmo tempo, que me alegrava.

Seu TCC não passaria de uma idealização mal resolvida, caso não começasse a escrever em breve. No entanto, ele nem sequer sabia como deveria começar e eu não podia ajudá-lo, pois tão pouco tinha criatividade para tal, o rapaz estava no penúltimo ano de música e eu mal comecei o meu curso de Administração, era um calouro cabeçudo aos olhos dos meus professores.

— Onde está aquele seu amigo sorridente e arrogante? — Perguntou baixo e só então percebi que me olhava, a sobrancelha se ergueu como se realmente estivesse curioso e não procrastinando.

Mordo o lábio, contenho a careta.

— Quem?

— Você sabe... O tal de Kinkade — explicou e o canto da sua boca se curvou.

Desgosto. Foi discreto em demonstrar, mas estava lá, proporcionando-me um agradável divertimento.

O tal de Kinkade. Meu melhor amigo. O modo como o nome saia por seus lábios era extremamente prazeroso, soara enojado e nunca trocou mais do que cumprimentos com ele.

"Há pessoas que foram feitas para viver longe uma das outras." Verônica dizia. Talvez fosse sua forma de lidar com o recente divórcio de nossos pais, ou poderia ser uma indireta para mim. Para que eu tomasse cuidado e não saísse da linha com tanta frequência.

Mas voltando ao ponto. Aquele era o famoso "nossos santos não se batem" sendo exclamado por ambos em circunstâncias diferentes, mas com o mesmo sentimento de superioridade e alto preservação.

O rapaz pareceu envergonhado por pensar justamente em Kinkade, mas a lembrança do moreno delicioso estava lá, lhe assombrando e fazendo com que pensasse em bobagens. Bobagens que, outrora, foram verdades, mas agora não passavam de doces lembranças que eu não repetiria, tanto pelo meu melhor amigo ter começado a namorar uma garota maravilhosa que me tratava superbem, quanto por eu saber como Keith ficaria sobre isso.

Sobre como o rapaz afirmava não nutrir nenhum sentimento além de amizade por mim, mas franzia a testa toda vez que outro alguém investia.

“Não estamos juntos, McClain, eu sinto muito pelo que sinto.”, lembrava do sussurro cansado de quando estávamos deitados no sofá do apartamento que Keith divide com o irmão. Shiro na cozinha junto do marido, cozinhando da forma apaixonada que sempre faziam. Eu não entendia bem o que queria dizer, talvez tenha sido o sono lhe dominando e a lógica tendo se esvaído, mas fiquei em silêncio, contemplando sua face dorminhoca.

Meu sorriso brincalhão não morreu mesmo com aquela frase, fiquei magoado mesmo não tendo demonstrado, era estranho me sentir ferido por ouvir a verdade, por precisar lidar com a realidade.

No fundo, eu torcia discretamente para que, a qualquer estante, aceitasse um namoro de verdade ou, mesmo que por brincadeira, me permitisse beijá-lo mais uma vez.

𝘉𝘦𝘤𝘢𝘶𝘴𝘦 𝘐 𝘩𝘢𝘥 𝘶 - 𝘒𝘭𝘢𝘯𝘤𝘦Onde histórias criam vida. Descubra agora