O fim...

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A Luna parece impotente alí. E eu não posso fazer absolutamente nada. Apenas observar.

Nicole se aproxima, com o rosto em sofrimento e alívio ao mesmo tempo, e me da um abraço. Nunca fui próxima a ela, só desejava o melhor para Luna, que era estar com Nicole, e isso já bastava para eu ficar feliz. Decidi retrubir o seu abraço, e só então eu percebi que estava chorando. Por causa de Luna sim, mas também de tudo que estava acontecendo na minha vida. Tudo se colidia nas minhas memórias, me fazendo abraçar Nicole mais apertado e até gemer de dor. Dor emocional. Nunca conseguirei descrever isso, você só saberá como realmente é se sentir algo semelhante.

Eu tremia, mas a vergonha era menor do que todos os meus sentimentos sendo despejados em lágrimas.

Nicole não ligava nem um pouco para isso, beijando o todo de minha cabeça e acariciando meu cabelo como se eu fosse apenas uma criancinha com medo de relâmpagos.

Me afastei minimamente, tentando respirar fundo, regular meus batimentos cardíacos, mesmo eu sabendo que demoraria para isso acontecer. As lágrimas pararam de descer, mas a dor parecia se aprofundar mais a cada segundo.

ㅡ você quer tomar algum ar?ㅡ Nicole me olhou nos olhos, e eu via apenas preocupação.

Com medo de minha voz falhar ou de voltar a chorar, apenas neguei com a cabeça e me direcionei para Luna novamente.

Agora sua expressão era preocupada, o sorriso já esquecido. Quando ela foi abrir a boca para pronunciar algo, percebi que seus lábios estavam extremamente ressecados. Ela abria e fechava, mas parecia não conseguir dizer nada. Estava incapaz de pronunciar qualquer coisa.

Aquilo me destruiu mais ainda, mas resolve aguentar dessa vez e me sentar na cadeira ao lado da maca. Luna não tirava os olhos de mim. Ela parecia querer dizer algo importante, que apenas ela sabia e provavelmente mudaria muita coisa ou simplesmente me deixaria ocupada, como se estivesse protegendo o maior segredo de todos e pensando se me contaria ou não.

Então uma lágrima escapou de seu olho.

ㅡLuna...ㅡNicole tampo sua própria boca com a mão, escondendo seus soluços.

Francielle veio até mim, me segurou pelos ombros e apenas sussurrou "vamos". Me deixei ser conduzida por ela, me sentindo confortável por tê-la alí.

A privacidade de alguém é a melhor coisa que você pode fazer por ela.

Suspirei, finalmente percebendo o alívio que estou sentindo no momento.

Francielle olha pra mim, finalmente demonstrando um sorriso. Todos estavam sorrindo. Sorrir é algo bom. Então por que eu não estou sorrindo...?

Ainda me sinto vazia. Tento esquecer. Mas aconteceu há tão pouco tempo... Não sei se tem momento certo para sair do luto...

Nathaniel

Quase 10 anos se passaram. Tudo mudou. Andei por aquelas ruas tem tão pouco tempo, mas tudo está diferente.

Eu consegui voltar a ser um humano comum. Estou envelhecendo, finalmente! Acho que tenho quase 30 anos, nem sei a minha idade... Alec falou que eu morreria mais jovem que o normal, pois nasci a vários anos atrás. Mas eu não me importo. Finalmente vou poder ter uma vida sem complicações com a Christina. Por favor, que ela esteja bem. Por favor, que ela ainda me ame e que esteja disposta a me perdoar. Por favor, que ela esteja feliz, que esqueça tudo. Por favor, que ela esteja disposta a recomeçar. Por favor...

Vou até a sua casa. A casa onde sua mãe mora. Bato na porta, ansioso, andando em círculos. Finalmente, depois de tanto tempo, irei reecontrá-la e criaremos nossa família!

Um idoso abre a porta. Ele tem uma aparência um tanto desgastada. Seu olhar desconfiado me encarava, com um "o que você faz aqui nessa hora da noite?".

ㅡComo posso ajudá-lo?ㅡ Sua voz sonolenta denunciava que havia acordado contra a sua vontade.

ㅡAh... a Christina Fisher está aqui?ㅡPergunto. Fico respirando fundo, tentando normalizar minha voz que está estridente.

ㅡAcho que errou de casa, porque não conheço nenhuma Christina.

ㅡAh, certo... obrigado.ㅡ Eu nunca confundiria a casa que passei os dias mais felizes de minha vida. É claro que eu sabia que ela morava ali, mas se passaram anos. Talvez ela tenha se mudado...

Saio de lá e retorno a andar pelas ruas tão familiares, com construções totalmente novas. Dez anos não é nada pra mim, que já vivi milênios, mas é muito para as pessoas... Você perde a noção do tempo quando ele deixa de ser importante.

Com as mãos nos bolsos da calça e sentindo o frio da noite, vou até o apartamento de Luna. Sei que ela trabalhava desde cedo para pagar o aluguel. Tomara que ela ainda more lá.

Após 20 minutos caminhando demasiadamente devagar, chego até lá. Toco o interfone, na esperança de que alguém atenda, mas quem atende é uma voz infantil de uma garotinha. Suspiro, já motivação.

ㅡAlô!ㅡ A garota fala como se estivesse alegre em atender, não com uma pergunta.

ㅡHum... a Luna está?ㅡEu pergunto por perguntar. Sei que tem chances baixas.

ㅡSim, ela mora aqui! MAMÃE! TEM UM HOMEM COM VOZ BONITA QUERENDO TE VER!ㅡ Dou uma risada. Escuto um "Nina, ele está escutando!" E logo após barulhos de algo sendo arrastado.

ㅡAhn, alô? É a Luna.ㅡSua voz. A suavidade dela me faz lembrar de todos os momentos que tive com meus amigos.

ㅡLuna, que saudade... Não se lembra de mim?

Não ouço nada. Então ela desliga o interfone. Mas que porra... o que aconteceu?

Creio que ela não queira falar mais comigo. Eu entendo. Já viro de costas, pronto para voltar para o Egito, quando ouço a porta atrás de mim se escancarando e braços finos e quentes me rodearem.

ㅡNathan! Ah, meu Deus, Nathan, é você mesmo!ㅡViro-me de frente pra ela, sorrindo e retribuindo o seu abraço. Percebo que seus olhos estão marejados, e Luna está se esforçando muito pra não chorar.

ㅡSim, sou eu. Desculpe sumir sem avisar. Eu posso explicar com calma depois, mas agora quero me encontrar com Christina.

Ela me aperta mais forte, e o que pareceu horas de um silêncio reconfortante, ela limpa suas lágrimas que escorreram e segura meu braço levemente.

ㅡVamos entrar, temos muito o que conversar. Você veio muito tarde, sabia? Sorte sua que eu estava vendo filme até agora.

Apenas sorrio, seguindo ela pelo hall do prédio, e indo em direção ao elevador. Ela aperta o botão 5, esperamos alguns segundos, e entramos nele. As vezes ela olha pra mim e fala algo como "eu senti saudades", "você está mais bonito", "onde está Natalie?". Nada de Christina.

Ela abre a porta e uma garotinha que parece um anjinho, com cachos dourados e desarrumados, pequena o suficiente para ter no máximo 8 anos, com seus grandes olhos castanhos me observando.

ㅡNina, venha cumprimentar meu amigo. Chame a mamãe também.ㅡLuna está radiante. Eu sempre a via sorrindo forçadamente, sempre no seu canto, mas agora ela não para de sorrir. Um sorriso verdadeiro.

ㅡO-oi! Meu nome é Marina.ㅡ Ela diz e rapidamente corre para um cômodo, desaparecendo.

ㅡEu a adotei junto com Nicole. Ela é a nossa vida.ㅡMas seu sorriso deaparece quando ela se volta pra mim.ㅡTemos que conversar sério.

Segura minha mão e me leva para um quarto, trancando a porta delicadamente.

ㅡÉ sobre Christina.

ㅡO que tem ela? Aconteceu alguma coisa? Ela não está na sua antiga casa.

ㅡNathan... a última vez que eu a vi foi quando eu acordei no hospital. Achei que ela tinha viajado com você, porque vocês sumiram no mesmo dia, mas... agora sei que não foi isso. A Christina está correndo perigo.

O EstranhoOnde histórias criam vida. Descubra agora