Simplesmente Imperfeito

A vida a dois

Wendel acordou pelo som da campainha... definitivamente não estava afim de receber os amigos, tinha evitado falar com eles durante todo aquele tempo simplesmente porque não sabia como explicar o que estava acontecendo e não tinha nenhum ânimo pra fazer isso agora... sabia que tinha que pensar em uma bela desculpa, e por isso tinha que evita-los por enquanto.

Abriu a porta nada animado e quase fora atropelado pela energia dos três. Ian, Verner e Bruno, falavam ao mesmo tempo. Uma enxurrada de questionamentos sem fim.

_Como pode fazer isso?! Sumir dessa forma? E aparecer somente um dia antes do inicio das aulas?

_O que tínhamos combinados am?! A gente ia surfar nas férias...

Sim, lembrava bem que tinham planejado surfar nas férias, estava tudo certo para irem para Costa Rica, afinal janeiro era o mês mais quente do ano... Um sonho que tinha sido frustrado por causa de Nícolas Huberman.

_Nem sabe o quanto Nícolas tem infernizado nas redes sociais... O desgraçado se safou e passou as férias todinha postando fotos surfando na Austrália. _Verner se largou no sofá com frustração.

_E pegando um monte de gatinha enquanto nós ficamos plantados aqui por sua culpa! _Ian desferiu com revolta.

É... tinha pisado na bola.

_Se ao menos tivesse nos avisado que não ia, não teríamos perdido o voo por sua causa. _Bruno passou na cara.

_Juro Wendel que se tivesse aparecido no auge do meu furor eu teria te quebrado a cara. _Ian falou enquanto lhe dava as costas e seguia para a cozinha.

_Pra onde você vai? _E a pergunta foi em tom de grito, já que de imediato ficara tenso só de pensar que ela poderia estar lá.

_Vou tomar um copo de água ou não posso? Acredite, ainda preciso de muito para dominar meu instinto primitivo e selvagem que clama por retaliação. Você estragou nossas férias. Além de termos perdido o voo ficamos preocupados com o que poderia ter acontecido com o mauricinho mimado da historia.

_Sabe que muito entro em contraposto ao Ian, Wendel. _Verner destacava. _Mas dessa vez ele tem razão. Custava nos avisar que tinha ido ver seu pai? Poderíamos ter viajado os três.

De fato que o inquérito e as acusações eram consistentes e tinham fundamento, deveria mesmo ter avisado, porém estava tão frustrado que naquele momento a última coisa que queria era lidar com os amigos depois de tê-los deixado na mão.

_Ian! Pra onde você vai? _Novamente indagou de ímpeto ao vê-lo retomar o caminho da cozinha.

_Já disse! Vou tomar um copo de água! Ou você prefere que eu não esfrie a cabeça e te enfie o soco na cara?

_Eu acho que merecemos uma explicação. Vamos Wendel? O que tem em sua defesa? _Bruno lhe encarava.

_É, diz aí? _Ian gritava da cozinha.

Estava tão atento a qualquer movimento pela casa que não conseguia formular uma defesa tão consistente a ponto de sobrepor as acusações... Será que iria convir dizer que seu pai lhe tinha prendido na fazenda e ameaçado tomar o carro e o apartamento e cancelar o último ano de direito se não casasse com uma roceirinha? Que no caso era a garota mais nojenta que já vira na vida e a que mais odiava no mundo todo e nas galáxias, nessa e nas outras vidas... Hum? Não... com certeza não. Era humilhação demais pra ele. Já tinha sido humilhado o suficiente ao perder aquela corrida para Nícolas.

_Eu... _Gaguejou qualquer coisa visto que esperavam uma resposta. _Eu vou tomar um copo de água também... _Tossiu forçadamente e evitou olhar para a cara deles já sabendo que não veria coisa boa e seguiu em disparada até onde estava Ian, arfando de tensão antes que ele esbarrasse com aquele fantasma pavoroso que agora habitava à sua residência. E respirou aliviado ao perceber que ela não estava alí. Em seguida se serviu de um generoso copo de água para recobrar a cor das suas faces lívidas.