Shape of you

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_Tudo bem Kíria... _Wendel se aproximou. _Tudo bem... Você pode sim me denunciar... Afinal eu reconheço que cometi todos os pecados... eu reconheço que passei de todos os limites... Se cumprir pena iria limpar minha ficha com você... por favor me denuncia então... Eu não sei mais o que fazer por você.... e vou te dizer que se continuar se jogando pra cima dele pra me provocar vou continuar fazendo loucuras... vou continuar pecando, porque eu não vou desistir de você...

Talvez tenha sido o som da voz de Ed Sheeran ao fundo vinda do celular dele, ou simplesmente uma nostalgia repentina que lhe fez retornar a adolescência... Uma lágrima despontou em seus olhos...
Kíria se sentiu novamente naquela cachoeira quando descobriu o quão amargo era sentir amor por alguém que não valia a pena. Alguém que só lhe machucava. Alguém que lhe odiava.
Desde criança o único garoto com quem brincava...
O único garoto com quem conversava...
Aquele que lhe ensinara a nadar, que subia na árvore com ela e passava horas  conversando sobre seus sonhos infantis de voar e conhecer as galáxias.
O mesmo garoto que lhe carregava nos braços quando se machucava e que guardava seus segredos para que seu pai não descobrisse suas aventuras arriscadas... esse mesmo garoto com quem milhares de vezes rolara na grama aos socos... com quem discutia aos berros... que sempre estava perto.... aquele a quem mais era apegada...
Aquele que despertava todos os seus sentimentos, os mais extremos e viscerais... num turbilhão de sensações controversas, numa relação marcada pelas emoções a flor da pele em uma necessidade de usufruirem um do outro como se dependessem disso para viver, mesmo quando identificavam tal sentimento como ódio, num prazer insaciável de ferir um ao outro e de machucar, como se fosse a única maneira de uma expressão física e literal.

A fidelidade implícita consistia dessa convivência contínua onde um necessitava do outro para desfrutar das vivências de criança, dos sonhos, da natureza, as aventuras e de esconder dos adultos as peraltices arriscadas que cometiam... Os segredos... a liberdade... sorrisos e gargalhadas... lágrimas e dor... dor... Não sabia o que era dor... até ver ele lá na cachoeira beijando e tirando a roupa de outra garota. A ilusão de acreditar que era a única pessoa na vida de Wendel se quebrara alí. Mesmo que não soubesse se quer o que era amor... Mesmo que acreditasse que tudo era ódio... precisava de Wendel só para si, mesmo que fosse só para odiá-lo. Mesmo que fosse só para vencê-lo em uma corrida e ve-lô tentar lhe derrubar do cavalo. Precisava de Wendel só para si, mesmo que fosse para vê-lo falar mau de seu cachorro ou para revidar quando lhe desse um chute ou um empurrão... não sabia o que era amor... mas sabia que precisava de Wendel e ao vê-lo beijando outra seu mundo caiu... tinha perdido seu inimigo. Tinha perdido seu amigo... tinha perdido seu primeiro amor... 

Girl, you lnow I want your love
You love was handmade for
Somebody like me
Come on now, follow my lead
I may be crazy, don't mind me
Say, boy, let's not talk too much
Grab on my waist
Ans put that body on me
Come on now follow my lead
Come on now follow my lead

A música ao fundo. E ele alí na sua frente olhando em seus olhos... como se fosse capaz de ler seus pensamentos. Como se o tempo não tivesse passado... mas passara. E houve um momento em que já não podia rolar na grama com Wendel... houve um momento que ele deixara de ser o garoto branquelo e franzino e  começara a crescer. Houve um momento em que descobriu que a fragilidade feminia não era implicita apenas de uma condição social de gênero... era física, quando despontou pequenos sinais em seu corpo tornando o que antes era insensível em pontos doloridos...
Agora tinha os primeiros sinais de seios e já não era como antes, já não podia se largar na grama aos socos com ele... e nem tampouco tirar a roupa pra se jogar na cachoeira... Enquanto ele crescia e triplicava de tamanho ela apenas descobria sua imensa fragilidade o que se concretizou quando viu sangue descer por suas pernas pela primeira vez.
Já não era a mesma... já não podia ser como antes... agora mensalmente tinha sangramento e periodicamente hemorragia, com isso se enclausurava em casa. Não suportava que ele lhe tocasse e já não nutria nenhuma força diante dele... Mas o afastamento não aconteceu de imediato sempre se esbarravam em um de tantos pontos que dantes era local de encontro, brigas e brincadeiras....
E já não podia encará-lo como antes afinal tinha que erguer a cabeça para encontrar os olhos marotos de Wendel. E ele sempre rindo debochado. Desdenhava de sua repentina mudança física então revidava com ódio, cada palavra que dizia ou gesto que fazia. E assim era na escola ou em qualquer outro lugar do mundo se se esbarrassem... Eram como unha e carne, mesmo que de uma forma até doentia como se não se cansassem de brigar, mas a noção de pertencimento acabou alí... na cachoeira... ao se deparar com a cena dele alí beijando e acariciando outra, sentira uma dor aguda, uma dor que não soubera explicar. A dor do fim... do fim da infância... Wendel agora não era mais criança. Não sabia se quer ao certo o que estavam fazendo, tudo o que sabia era que todas as descobertas de Wendel deveriam ser com ela e não com outra...

_É muita história Kíria... temos muita história para que tudo se resuma em segundos... para que eu seja julgado apenas por meus momentos de loucura ou quando errei...
I'm in love with the shape of you
We push and pull like a magnet do
Although my heart is falling too
I'm in love with your body
And last night you were in my room
And now my bedsheets smell like you
Every day discovering something brand new
I'm in love with your body

_Mas claro. Você descobriu que eu era uma menina e que tinha corpo de menina agora... lá... lá na cachoeira você...

_Você era uma criança Kíria. Você tinha 13 anos eu seria só mais um criminoso se tivesse feito isso com você. Meu Deus... você nunca iria me perdoar. Sem contar que meu pai teria me matado. Isso se seu pai ja não tivesse estourado minha cabeça com a espingarda.  Oh I, oh I, oh I, oh I. I'm in love with your body. _Ele cantarolou em um sussurro.  _E isso desde sempre...

_Tanto que fez da minha adolescência um inferno... sempre me humilhava dizendo coisas horríveis a meu respeito. Sempre deixou bem claro para todos que me achava horrível.

_E você nunca se deu conta que eu sentia ciúmes? Ciúmes e raiva. Meu pai até me questionou sobre qual tinha sido minha vingança contra você depois do que me fez me lançando para o arame farpado. Eu disse que ele nunca iria saber... Mas tive vergonha de falar que levei o maior chute entre as pernas da história quando tentei te agarrar.

_Por que fez aquilo?  Só me fez sentir mais raiva de você e te odiar definitivamente.

_Você era arredia. E eu um adolescente inconsequente. Você sabia que tínhamos aquela necessidade de estar em contato físico um com outro. Uma necessidade agressiva. E depois que perdi minha virgindade e descobri o que era o sexo tudo em você passou a ter conotação sexual para mim. Mas você era uma criança ainda. Com aquele jeito arredio, os cabelos ao vento e aquela boca infantil de lábios carnudos e ousados que me fazia sentir vontade de morder principalmente quando você me chamava de frouxo e mocinha. Eu queria te mostrar quem era a mocinha.
Wendel aproximou as mãos de sua cintura e a boca de seu ouvido e passou a sussurrar a última parte da música. _Come on, be my baby, come on. Come on, be my baby, come on...

Kíria se sentiu envolta naquele mar de nostalgia, na voz melodiosa de Wendel... naquele convite ousado e simplesmente se deixou beijar. A boca dele já era conhecida de seu corpo o qual simplesmente respondia sem esforço algum... como se o reconhecesse desde sempre... as mãos ousadas de Wendel lhe aqueciam a cintura com movimentos delirantes até que se deslocou para debaixo de sua blusa.

_Humm... _Kíria afastou as maos dele.

_Qual é... só estava tentando fazer você lembrar do que fez comigo ontem. _Ele sorria com suavidade. _Você pode me bulinar a vontade e eu não posso te tocar? Mulheres né..._Acariciou seu rosto com adoração. _E quando você passa a mão em mim é por diversão. Se eu passar em você é crime... _ria.

_Evidentemente...

_Então posso com sua permissão? _Ele segurou em seu queixo e aproximou os lábios...


Simplesmente ImperfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora