A Descoberta/2

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Wendel deu um passo a frente frenético. Ela estava fria, seus lábios estavam brancos e uma enorme poça de sangue cercava seu corpo na cama...


_Kíria... _Não conseguia sentir sua pulsação talvez suas próprias mãos estivessem trêmulas demais para isso. Ele a ergueu em seus braços com lágrimas... a dor e a culpa o massacravam. Ela tinha abortado com certeza e a culpa era sua... Como pudera ser tão cruel em agredir uma garota grávida... _Meu Deus... _Gemeu suplicando. _ Kiria por favor acorda... _Não tinha tempo pra pensar saiu correndo do quarto com ela nos braços. Descera as escadas e nem sabia como tinha conseguido abrir a porta tão rapidamente. Colocara ela em seu carro e passara a dirigir sem ver o que vinha pela frente... tudo que precisava naquele momento era de socorro. A vida dela e do bebê corriam risco... se é que ainda havia esperança... Se Kíria morresse por sua causa iria fazer valor 700 cavalos por quem tanto brigara de sua Lamburghini... e lançar-se com eles de um penhasco.


_Me perdoa... _Era tudo que conseguia dizer em meio as lágrimas apesar de saber que nunca seria perdoado... nem a si mesmo conseguiria perdoar... Não soube ao certo como estacionara em uma clínica. Sem demora correu para dentro com ela em seus braços gritando alto por socorro. Chegaram com uma maca e ela foi levada às pressas para o andar superior. Ouvia os sons ao seu redor como ecos no profundo do oceano, os passos apressados do médico e o barulho das rodas da maca ecoando pelos corredores, mas sua mente vagava apenas na possibilidade de não conseguirem ressuscitá-la e na impossibilidade de continuar vivendo depois disso.  Segurava na beirada de ferro gelado da maca correndo junto com os socorristas...

_O que houve? _Pela milésima vez ouviu a pergunta e mais uma vez gritava a mesma resposta.

_Ela está abortando...

_E você é o namorado?

_Sou o marido dela!!

_Desculpe mas não pode passar dessa porta.

_Mas...
Uma das enfermeiras segurou em seu braço. Viu então a maca passar pela porta e ele ficar para trás.

_Senhor... precisa se acalmar. O medico fará todo o possivel para salvar seu bebê ok? _Ela o direcionou para o lado contrário do corredor. _Agora seria bom preencher a ficha... não se preocupe... todos torcemos pra que fique tudo bem.

Wendel parou diante de um balcão onde uma moça passou a lhe fazer milhões de perguntas. Nome dele e dela, endereço e todas as identificações possíveis... data da ultima menstruação dela... Como ia saber?
Se ela tinha historico de algum problema ginecológico?.. Não fazia ideia...
Periodo fertil? Sentia dores na relaçao sexual? Por quanto tempo tinha tomado anticoncepcionais? Qual tinha sido a ultima ida a um ginecologista? Se tinha sofrido alguma emoção forte ou pequeno acidente? Essa sabia a resposta mas jamais teria coragem de falar por pura covardia.
 Estava pirando diante daquela carga emocional. Ao pegar a caneta viu que suas a~so estavam cobertas de sangue... o sangue dela...
Cruzou os braços no balcão e encostou a cabeça neles... era terrível demais o que estava acontecendo e tudo que sentia era vontade de morrer.

Andara de um lado pro outro...
Não conseguia se conformar... Seria agora um assassino? E ela teria sobrevivido? Ha todo momento esperava o pior... Ansiava por ver o médico e cada funcionário que passava pelo corredor interrogava... Todos diziam que ele tinha que aguardar... mas já fazia muito tempo... uma eternidade! Só que uma eternidade sinistra porque o relógio não andava...
E se...
E se ela não sobrevivesse? Com o tanto de sangue que perdera poderia ter ido a óbito por hemorragia... E o bebê... na verdade àquela altura com certeza já não havia mais bebê nenhum... tinha matado o filho dela e nunca mais poderia e encará-la depois disso... Nunca mais poderia se olhar no espelho sem sentir culpa... Se tivesse matado o bebê não iria se perdoar... preferia morrer...


Simplesmente ImperfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora