Eu e você

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E quando lhe beijou novamente. Kíria sentiu que poderia fechar os olhos e voltar no tempo... e ser extasiada por uma emoção que transcendia tempo e espaço e ser aquela garota inocente novamente que não sabia o que era ser beijada mas almejava por isso... e por ele...
Assim... se permitiu sentir... sentir a emoção do toque da boca dele na sua e como aquele toque envolvia cada milímetro do seu corpo... cada segundo de memoria... e cada nuance daquele sentimento estranho que sentia por ele.  Wendel lhe beijava com tão arrebatodara emoção... era como se pudesse sentir-se completa com ele... e nada mais havia além daquela força devastadora que prendia um ao outro.  Mas esse turbilhão de emoções que ele lhe despertava lhe impediam de se sentir leve... era muito a superar... foram muitos anos... muitas brigas.... e por mais que fisicamente se sentisse fraca pelo desejo... seu corpo sempre iria obedecer a sinapses e reflexos do que sua mente guardava contra ele... trauma.
E quando novamente as mãos dele desceram para sua cintura e entraram por baixo de sua blusa sentiu-se gelar.

Wendel parou de lhe beijar assim que percebera sua mudança repentina, com pesar encostou a testa na sua.
_Eu te amo... por favor me perdoa...

E não conseguiu responder... não tinha uma resposta para isso... ia além dos domínios de seus comandos psicológicos. Apenas devastada por toda aquela carga de emoções começou a chorar.  

_Não faz isso comigo Kíria... _Ele também não se conteve sua voz soara rouca e seus olhos umideceram _Eu sinto muito...Eu te amo tanto... e sempre vou te amar...

***

E foi assim... um beijo com sabor de lágrimas. A emoção suprema de perceber que ela era sua e sempre fora. Lembrava do quanto odiava quando seu Zeca dizia que iam acabar casando, que os dois viviam grudados demais e que aquelas brigas nada passava de amor... nessas horas tanto ele quanto Kíria gritavam e berravam reforçando o quanto odiavam um ao outro e o velho Zeca dava aquela sua típica gargalhada e completava; Escrevam o que eu estou dizendo.   E quando Baíra dava bronca nos dois como se existisse a possibilidade de fazerem "coisa errada" como ela dizia, já que os dois viviam juntos pelos campos e tinham liberdade demais. 

Nessas horas via a cara de Kíria ficar vermelha de raiva... mesmo que não fizesse ideia do que significava as insinuações de sua babá. Era quase inacreditável como ela era tão inocente. Ser criada sem a presença de uma mãe fez com que Kíria fosse privada dos saberes naturais do mundo feminino. Ter Baíra, uma indígena, como babá a tornou ainda mais em uma garota sem limites. É... filhos criados sem mãe e com pais fazendeiros, que tinham um monte de coisas pra se preocupar, era assim mesmo... com isso tinham toda a liberdade, aquele mundão de campos verdes, a mata e as fazendas, cafezais, laranjais... os riachos e a cachoeira... eram como os pequenos conquistadores das Américas... Eram como os dois sobreviventes na Lagoa Azul...  Atravessavam as fronteiras de uma fazenda para a outra como quem simplesmente estivesse brincando no quintal de casa...

Ao relembrar aquela época não podia entender como seu Paulo não tinha nenhum temor de deixar Kíria entregue em suas mãos sendo ele bem mais velho que ela... É... mas era até engraçado lembrar já que ele e seu pai sempre o tiveram como uma mocinha. Um mosca morta... com certeza era isso... o que mudou depois que crescera... começara a namorar... seu corpo começara a mudar e o de Kíria também... as brigas ficaram mais sérias e houve por fim um momento em que já não mais se esbarravam com frequência. Cada um tinha seu mundo agora e por fim na sua formatura do ensino médio vira ela lá sentada e ficara apenas de longe... A distancia... Até tudo mudar completamente anos depois...

Ver Kíria naquela mine saia rosa foi uma das visões mais chocantes de sua vida... E ver novamente aquela boca que antes tinha algo completamente infantil mas que agora parecia o convite do pecado... meu Deus...como ela poderia ser tão linda assim? Como poderia ter aquele par de pernas e aquela cintura tão fina e delicada? É... quantas vezes não a vira nua na infância. Até o dia em que ela já não queria tirar a roupa pra pular na cachoeira. E ele rira dela... e depois a empurrara com roupa e tudo e quando ela saiu com as roupas molhadas percebeu dois pequenos botões despontarem debaixo da blusa dela e fizera troça disso. E isso virou um pique pega, ela correndo atrás dele tentando lhe acertar. Foram muitos tapas em sua cara. Afinal a atrevida tinha mania de bater em sua cara. E quanto mais ela lhe acertava mais segurava em seus braços rindo dela. Kíria ficava linda com aqueles cabelos longos chacoalhando em sua frente. Ela com raiva era uma das visões prediletas na sua infância. Fazia tudo que estava ao seu alcance para provocá-la. Mas as vezes em seu íntimo sabia que a melhor visão do mundo era seu sorriso... aquele sorriso que praticamente morrera depois que ela lhe vira com Cecília na cachoeira...

Naquela tarde ela lhe acertara com uma pedra. A dor foi intensa, a retaliação tinha sido dura e o relacionamento que antes era complicado se tornou impossível. Tratara de fazer da vida dela um inferno e com certeza conseguira. Tanto que Kíria não tivera se quer um namorado. E esse inferno se tornou ainda mais grotesco quando ela conhecera Nícolas Huberman... De pensar em todas as loucuras que fizera pra impedir que ela caísse na dele... de pensar nas malditas besteiras que fizera quando acreditara que ela tivesse caído... Como fora burro... como fora cruel... 
Kíria tinha uma doçura e ingenuidade que eram só dela... Como fora capaz de violar isso? Sabia que tinha marcado ela pra sempre naquele dia. Tentar força-la foi o ato mais hediondo que cometera na vida... a mácula estava apenas em seu coração e não no dela. Kíria sempre o amara e sabia disso. Ela sempre o amara com pureza e verdade. Aquela verdade que agora experimentava nos lábios dela, sua boca era deliciosa e lhe correspondia com ternura, sua respiração exprimia desejo... ela era sua...
Wendel segurou firme em sua nuca, de repente sentira um medo terrível daquilo não ser verdade. Sentira um medo avassalador de abrir os olhos e perceber que estava apenas sonhando. Num reflexo desesperado abriu os olhos e a encarou profundamente. Sim, ela estava alí na sua frente... era tudo verdade.

_Eu te amo... _Wendel pronunciou com emoção voltando a beijá-la com paixão. Num abraço ansioso e desesperado. _Eu te quero... _afundou a mão em seus longos cabelos enquanto amparava suas costas com a outra. No instante seguinte já não conseguia se conter já se encaixava nas pernas dela a empurrando para cima da pia.

_WENDEL?!
Wendel teve um sobressalto diante da intensidade do grito.
O som fino e estridente batera nas paredes da cozinha numa acústica que quase o ensurdecera. E não precisara se esforçar muito pra reconhecer aquela voz porque não fora Kíria... Alí plantada à entrada do ambiente estava Maressa com uma cara de terror como quem acabara de sofrer um choque.

Kíria o afastara de ímpeto, saindo de seu abraço como se de repente isso lhe desse nojo.
_Kíria...

Só pudera suplicar, já que ela o afastou de suas pernas o empurrando com força e desceu do balcão passando por ele e em seguida por Maressa correndo, sem se quer lh chance de interceptá-la. 

Simplesmente ImperfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora