Miguel
A vida é curiosa e imprevisível. Gosto disso, sempre me senti atraído por aventuras no desconhecido, agora não sei até que ponto isso se adequa ás minhas vivências pessoais. Nunca fui muito de viver o dia de hoje, acho que perdia demasiado tempo a pensar no amanhã, a construir um futuro que ainda nem sequer existia. Se tivesse morrido provavelmente não estaria a pensar nisso. Claro puto, estavas morto.
Já a minha irmã era o contrário. Dois anos mais velha que eu mas com menos juízo. Adorava viver como se não houvesse amanhã, desde as festas ás bebedeiras passando pelas drogas, ela era completamente fora de controlo. Uma aluada que queria viver a vida ao extremo. Não era muito boa aluna e as discussões em casa por causa dos seus excessos eram muitas. Não havia paz. Acabada de ser repreendida por algo que tivesse feito de mau ía logo fazer outra asneira. Ela não era uma criança, mas a facilidade com que ela se metia em confusões fazia parecer que sim. Apesar de tudo isto, ela não era de todo má irmã. Levava-me muitas vezes a sair com ela, emprestava-me sempre algo seu que precisasse e ajudava-me com as raparigas. Em troca disso tudo, eu encobria as suas saídas noturnas e as festas que dava lá em casa. Até era bom irmão. Não fazia de irmão protetor ou algo do género, mas preocupava-me muito com ela, e tenho a certeza que ela o sabia. Gostava de lho poder dizer agora mas está morta.
Depois daquela festa nunca mais fui o mesmo. Ainda me lembro como se fosse ontem, a Lara, a minha irmã, estava mais uma vez de castigo porque tinha sido apanhada bêbeda, os meus pais tinham ido para fora em trabalho e ela estava a contar-me que ia dar uma festa. Não sou um tipo de festas, então disse-lhe que ia dormir a casa de um amigo. Nunca pensei que isso pudesse levar à sua morte.
Visto isto prefiro culpar quem esteve com ela nessa noite, a Inês. Provavelmente isto é apenas uma maneira de lidar com a culpa. Não estou muito preocupado neste momento. Tenho música a dar aos altos berros nas colunas do meu quarto, tenho o meu maço de cigarros a uma mão de distância e ninguém em casa para me chatiar. Afinal faltar ás aulas compensa. Não sou do tipo que falta ás aulas mas acho que não sou um "tipo", sou só eu. Fiquei o dia todo sem fazer nada, a curtir a música e a fumar o máximo possível. Faltava pouco para as 9 da noite quando dei conta do tempo,o sol começava a pôr-se, o bafo do calor de junho estava a dissipar-se e havia uma arajem que chegava até mim vinda da janela aberta. Eu sabia que se passasse a noite sem ir arejar a cabeça, eu ia eloquecer, já tinha tomado a minha dose de anti-depressivos e com a quantidade de cerveja que tinha bebido não podia arriscar e tomar mais alguns. Então decidi ir correr.
Odiava correr. Era tão desnecessário, mas eu precisava, para me manter são no mínimo. Havia uma pequena mata no cimo da cidade, a 10 min de minha casa, seria o sítio perfeito para correr, pensei eu. Ao longo dos anos tinham criado trilhos e imensa gente ia para lá caminhar ou apenas estar com os amigos num parque á entrada da mata porque poucas crianças o utilizavam.
Quando estava no 1 trilho e parei para respirar, vi Inês ao longe. Estava com uns micro calções e uma sweat comprida apesar de estar ainda 38 graus. Não parecia muito preocupada. Nem suada pelo menos, parecia ter acabado de sair de casa, andava devagar e olhava demasiadas vezes para o céu respirando fundo. Dava a entender que estava á espera da morte e não gostei nem um bocadinho disso. Sim, ela era uma filha da puta e muito tempo desejei que ela caísse de um precipício a baixo e sentisse a minha dor na sua planitude mas a morte? Isso é algo demasiado definitivo e tenho a certeza que não conseguia carregar esse peso para o resto da vida, sou demasiado cobarde. Reparei passado algum tempo que alguém vinha atrás dela, era apenas um vulto, mas quase que podia jurar que a estava a seguir, de qualquer maneira não liguei muito e segui caminho. Por ironia do destino ela seguia o mesmo caminho que o meu mas em sentido contrário. Trocámos olhares e ela tinha de falar:
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A minha escolha
Детектив / Триллер"A verdade não depende da história em si, depende apenas de quem a conta." Joana só quer encaixar na sociedade e quando conhece Inês, uma força da natureza, tudo parece certo. Até que Inês é assassinada tendo como única testemunha Joana. Ela ao ten...