-Hoje à noite há festa. -a Maria falava alto chamando à atenção da turma.-No "NEW"ás 4 da manhã, vai lá aparecer aquele rapper famoso, alguém está a pensar em ir?
Instalou-se uma balburdia geral de respostas e a Maria foi apontando-as mentalmente.O Miguel olhou para mim e eu abanei a cabeça. Lugares fechados e atolados de gente não era a minha onda.
-Anda lá, vai ser giro! Eu prometo Jo! -o Miguel fez beicinho e eu acabei por ceder.
-Okay, okay. Em minha casa à meia noite.
-Hey Maria?
Ela virou-se para trás e sorriu cinicamente:
-Sim Miguel?
-Nós também vamos. -e passou o braço por cima dos meus ombros.
Mentalmente eu estava a desesperar para ele tirar o braço, contacto humano não. Por favor tira o braço.
-Tenho de ir à casa de banho. -sacudi os ombros. -Já volto.
Contornei a mesa onde estávamos sentados e entrei na casa de banho fechando-me numa das cabines. Porquê é que tinha de ser tão estranha? Não podia aproveitar uma noite descansada com os meus escassos amigos e esquecer tudo? Comecei a passar as mãos pelo cabelo e a puxá-lo na raiz, iam caindo pedaços de caspa brancos parecendo flocos de neve no meu casaco preto e eu puxava ainda mais com força, soluçando baixinho com o facto de não saber lidar com os meus sentimentos. Larguei as mãos do cabelo e dei repetitivos murros na parede até me passar a raiva de mim própria, de seguida tirei o casaco e sacudi-o até voltar a estar novamente sem "flocos de neve". Saí da cabine e olhei-me ao espelho,eu era um desastre. Tirei um lenço de papel do bolso, molhei-o e passei-o à volta do rosto. Melhor. Limpa.
(..............)
Estava a passar batom pela 3 vez pelos meus lábios enquanto o Miguel estava deitado na minha cama a trocar mensagens com a mais recente namorada.
-Vê só- o Miguel passou-me o telemóvel para as mãos onde estava um par de mamas com uma mão em cima de uma delas.-Fixe, não é? São bem boas, tens de admitir.
-Nojento, muito nojento. -passei-lhe o telemóvel e passei as mãos pelas calças de modo a limpa-las.
-Oh vá lá!-riu-se alto e eu dei-lhe um pontapé na perna.
-Vais acordar os meus pais idiota!
-Peço imensa desculpa princesa. -levantou-se e fez uma vénia- Vamos embora? O batom está perfeito garanto-te.
-Obrigada por fazeres de meu amigo gay.
Dei mais uma olhadela ao espelho. Tinha um top preto largo,umas calças de ganga largas também e umas all stars pretas até ao tornozelo. O meu cabelo castanho, ainda molhado, contrastava com o batom castanho-avermelhado que tinha escolhido e que só me apetecia tirar porque me fazia sentir extremamente ridícula. Já o Miguel tinha um polo de manga curta verde escuro e umas calças de ganga que ligavam diretamente ás suas sapatilhas azuis escuras. Ninguém imaginaria que um rapaz tão popular e tão bem vestido se desse com uma pessoa como eu.
(.............)
-Joana! Estás-me a ouvir?
Eu dançava ao som da música mexendo o meu corpo de encontro a outro, não era o Miguel. A desconhecida pôs me as mãos na cintura e eu movimentei as até ao meu peito. Continuá-mos a dançar até que me virou para ela. Tinha uns olhos verdes e o cabelo preto, mas pouco tempo tive para a observar porque ela enfiou logo a sua língua dentro da minha boca, sabia a vodka e a tabaco. As minhas mãos agarraram o cabelo dela, impedindo a de se afastar de mim, não queria que aquela sensação de prazer acabasse. Ela apalpou-me o rabo e murmurou qualquer coisa que não deu para perceber até ela deslizar a sua mão para dentro das minhas calças, eu estava com a minha primeira bebedeira e não pensei bem no assunto quando lhe disse para irmos para a casa de banho. Ela agarrou-me na mão e puxou-me com ela. Eu estava a pensar que apenas à umas horas atrás estava sentada nas escadas da discoteca a deprimir e agora estava a ser levada para dentro de uma cabine da casa de banho por uma rapariga que eu nem sabia o nome. O álcool faz um efeito demasiado bom em mim. Ela encostou me contra a porta e começou a beijar-me o pescoço. Devia ter avisado o Miguel, espera, onde estava o Miguel? Afastei a rapariga:
-Onde está o Miguel?-
-Quão bêbeda tu estás?-ela olhou para mim muito séria.
-Onde é que ele está?
-Joana! Estás-me a ouvir?
A rapariga sentou me na sanita e tirou da mochila dela uma água.
-Bebe, vais-te sentir melhor. O Miguel foi com a minha irmã para casa dela-eu olhei para ela muito confusa-A rapariga com quem ele anda é a minha irmã mais velha. Já tem 18, carta e casa, não te preocupes, ele está seguro apesar dela ser um pouco..ahh..porca.
-Ele deixou me sozinha?
Ela abanou a cabeça a dizer que sim. Consegui sentir que ela ficou muito triste, não parecia má rapariga, à luz da casa de banho parecia querida, tinha umas bochechas fofas e um sorriso meigo. Não me conseguia lembrar do nome dela, tenho a certeza que ela mo tinha dito, mas a cabeça estava demasiado leve. Sentia que estava dentro de um sonho, estava tão bem, mas agora estava a começar a passar e vinha aí uma crise de ansiedade e eu sentia-o. Tenho de sair daqui. Pensei e não o disse. Tentei abrir a porta mas a rapariga pôs-se à frente. Ela murmurou alguma coisas como o quão bêbeda eu estava e que esperasse que ia ligar à mãe dela mas eu não ouvi nada disso porque um segundo depois estava a vomitar para dentro da sanita. Ela segurou me o cabelo e de vez em quando ia-me passando a garrafa de água. Ao fim de um tempo parei de vomitar, encostei-me e comecei a chorar desalmadamente. Não sabia o porquê, seria da Inês, seria pelo casamento falhado dos meus pais, seria pelo Miguel ter-me abandonado na minha primeira saída? Abracei aquela estranha e ela abraçou-me de volta enquanto eu lhe molhava a camisola de lágrimas que nunca mais paravam. O telemóvel dela tocou e levantou-me do chão e passou um braço pela minha cintura de forma a eu ficar de pé e caminhou comigo até à entrada da discoteca. Olhou para mim e eu acenei com a cabeça. Tirou-me a mão da cintura e caminhei com ela até um taxi que nos levou a casa dela. A minha cabeça estava tão perdida que não abri a boca até ela me descalçar e deitar na cama dela. Tapou-me com um cobertor e pouso um copo de água na mesinha de cabeceira, quando ia fechar a porta lembrei-me:
-Obrigada Maria.
Ela sorriu e eu soube. Eu estava completamente bêbeda e amargurada mas também estava apaixonada por aquela rapariga.
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A minha escolha
מתח / מותחן"A verdade não depende da história em si, depende apenas de quem a conta." Joana só quer encaixar na sociedade e quando conhece Inês, uma força da natureza, tudo parece certo. Até que Inês é assassinada tendo como única testemunha Joana. Ela ao ten...