Pode crer que é verdade!

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Aquela danada da minha saúde... Vivia de me pregar peças, eu juro.
Por várias vezes incomodei-me com a danada me dando sustos e fazendo-me achar que me encontrava mais perto da morte do que meus vizinhos.
Saúde cabrita! Era assim que a chamava. Dava-me raiva! Parecia uma menina sapeca quando pede pra apanhar.
Certa vez eu estava com uns medos bobos por causa de minha coluna que não parava de doer; dizem que a dor é aviso.
Parecia-me, então, mais um grito de protesto à minha falta de movimentos. Achava-se em mim, talvez pelo mesmo motivo, coisas assim:
Palpitações;
Dores no corpo;
Enjoos;
Dores de cabeça;
Frios;
Quenturas...
Aparentemente, todos sem nenhuma explicação.
Mas porque queixava-me naquele momento da dor na coluna, fiz grande cena na minha mente.
Voltei-me contra ela! Sim, minha saúde. E podes crer que é verdade, leitor; ela muito me enfureceu! Descreverei aqui, a meios de igual protesto, a tal cena que se formou em minha mente:
"Tal qual a comparei, estava ela lá, garota sapeca; usava tranças, vestido e, na cara, sardas.
Estávamos, é verdade. Duas criaturas opostas. Ambas num teatro imenso, vazio, todo em tom avermelhado e dramático.
Vazio e vento! Minha saúde no palco e eu na primeira fileira de cadeiras. Dissertava-me ela a respeito dos riscos que eu corria por sentir tantas coisas e não ter em vista diagnóstico.
Pois a danada dissertava, era boa atriz. Mas embora o talento, o sorriso maroto no canto da boca zombava de mim.
A cara esquentou-me. Senti a raiva crescer e sem saber como, achou-se ao meu lado, na poltrona vazia, uma cesta de tomates. Aproveitei-me da ironia e danei-me a tacar-lhe os tomates, um por um, como plateia revoltada que se desagrada da apresentação.
Ri comigo mesma. Enquanto tacava-lhe as tomates, dizia aos berros: — Cala a boca, nojenta! Toma essa, sua danada!
Aos protestos a cena desapareceu. E pode crer que é verdade; sim, a mais pura verdade.
Bem, agora, descartando a loucura e a insensatez de tais palavras, recolham-se as mesmas ao sigilo e que, por gentileza, nenhum médico nunca as venha ler!

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