Capítulo 15

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    O final de setembro chegou com dias parcialmente nublados e ares de melancolia para o casal que desfrutava silenciosamente do pôr do sol sobre as águas azuis da praia de Tankerton. Com os olhos castanhos fixos às velas brancas de um barco ao horizonte, sobre o tecido delicado de uma toalha de praia estendida à areia fina, os dedos de Tina perdiam-se em movimentos espiralados pelos fios claros esparramados em seu colo. As íris claras refletiam o tom alaranjado do céu das seis horas enquanto acompanhavam o zigue-zague despretensioso de uma ave oceânica.

    Abençoados pelo amanhecer de um dia ensolarado e de temperaturas amenas para aquele sábado, o casal aproveitava as paisagens mais belas daquela cidade e todas as horas da véspera da mudança do jovem zoólogo para solos americanos em companhia exclusiva um do outro. Enquanto deslizavam sobre as águas calmas do grande Stour na pequena e estreita gôndola de passeio e caminhavam pelos corredores frios e escuros da imponente igreja da Cantuária, Newt e Tina trocavam intensos olhares silenciosos repletos de promessas seguras para um futuro nunca antes tão incerto.

    Tentavam não pensar no prazo estipulado pela correspondência do reitor de Stanford por todo o desenrolar daquele mês, mas a aproximação sorrateira da data em que o rapaz deveria apresentar-se ao cargo oferecido tomava-os, cada dia mais, de angústia pela ausência de oportunidades semelhantes vindas de outras instituições mais próximas. Quando o final de semana antecedente aos primeiros dias do mês de outubro destacou-se no calendário pendurado à cozinha da residência em Harbledown, não houve a Newt opções outras além de retirar pilhas de roupas do armário de seu quarto para depositá-las no interior espaçoso de seu malão de viagem.

    Os olhos amendoados da matriarca carregavam sombras pesadas de noites mal dormidas e acompanhavam entristecidos os olhares ansiosos do filho lançados ao portão, ao relógio pendurado à parede, à figura da menina sempre tão presente em sua residência. O seu brilho carinhoso e alegre, aparecido de maneira involuntária em resposta a uma confissão em particular do caçula ao café da manhã de um domingo chuvoso qualquer, desmanchava-se rapidamente pela certeza dolorosa de presenciar, pela segunda vez em pouco tempo, a decolagem de um avião de destino distante.

    Observando o movimento das pontas dos fios escuros no balanço da brisa gelada de início de noite, Newt percorreu todos os mínimos detalhes da face pálida que por ele já haviam sido impecavelmente decorados. Fechou os olhos para o deslizar carinhoso das costas da mão gelada sobre a superfície quente de seu próprio rosto, suspirando para amenizar as sensações agridoces escondidas em seu íntimo.

"Voltarei para Oxford amanhã, Newt, no expresso das cinco horas" - a voz feminina soou baixa entre o sopro sonoro da corrente de ar sobre a superfície da água - "Não conseguirei permanecer essas duas semanas aqui, sem você"

    As pálpebras pesadas abriram-se para que ele encarasse as feições um tanto silenciosas da namorada, sentindo nos lábios o gosto amargo de partilhar de expressões semelhantes. Ergueu o tronco para nivelar os olhos estranhamente opacos aos seus, depositando uma mecha de fios atrás da orelha da menina antes de unir as pontas dos narizes em um carinho delicado.

"Estarei de volta em um piscar de olhos" - ele sibilou com segurança, o polegar deslizando pela lateral do rosto de sua companhia - "Comemoraremos juntos o Hanukkah, o que me diz?"

    Ainda que um pequeno sorriso carinhoso fizesse presença no semblante triste de Tina, o rapaz notou a leve vermelhidão adquirida pelos olhos castanhos antes que fossem desviados para o par de botas femininas de cano alto. Ela entrelaçou os dedos calejados aos seus, assentindo à proposta singela, mas tão significativa, de seu melhor amigo. Sentiu a pressão leve dos lábios macios sobre os fios escuros do topo de sua cabeça antes que o rapaz propusesse uma visita tentadora ao seu vendedor de cachorro-quente favorito, no coração da cidade de Canterbury.



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