The 5's Romance

Capítulo 3

Newt esperava ansioso pela chegada do trem, junto à plataforma descoberta da Estação Oeste de Canterbury no final de tarde de domingo, sob o capuz do moletom molhado pela garoa que começava a causar a ele um desconfortável tremor de frio. Tomaria o trem das cinco horas para Londres como todas as vezes, a previsão de chegada à universidade estimada para as oito da noite.

Havia passado o dia anterior retirando da mochila coisas que poderiam ser deixadas na casa dos pais e colocando em sua bagagem tudo aquilo que fosse necessário levar de volta para seus estudos em Oxford. Assim como nos três anos anteriores, ficaria sem voltar à Canterbury pelo próximo mês, retornando apenas no começo de dezembro para as festividades de final de ano. Livros de fitoterapia e farmacêutica seriam itens essenciais para o período letivo que iniciava-se, o conjunto completo de temporadas de uma série de comédia policial que depositou no fundo da mochila deveria oferecer alguma distração para o isolamento e a solidão de suas acomodações pelas próximas semanas.

O trem acinzentado parou pouco à frente do ponto em que o garoto permanecia em pé e ele aproximou-se, reservado, do aglomerado de pessoas que entravam apressadas pelas portas. Trabalhadores da capital, turistas retornando de suas aventuras pelo interior do condado de Kent e alguns poucos alunos que retornavam às suas respectivas universidades após o final de semana faziam de Londres um destino aparentemente mais requisitado do que a pequena cidade de Canterbury.

O garoto esperou educadamente que uma senhora de idade avançada tomasse seu assento ao lado do corredor antes de rumar ao seu próprio, sempre junto à janela no lado esquerdo do corredor da parte mais dianteira do trem. Sabia que os demais passageiros preferiam os assentos mais posteriores e sentia-se confortável em aproveitar a viagem com aqueles ao seu lado e à sua frente sempre vazios.

Retirava da bolsa o livro de fitoterapia muito gasto pelo uso e recheado de anotações de rodapé em uma caligrafia fina e bem pequena quando reconheceu, de imediato, o rosto da moça que ocupava um assento poucos metros à frente do seu, junto à janela do lado oposto do trem. Goldstein observava, distraidamente, a paisagem borrada de uma Canterbury que agora ficava para trás.

Deitado em sua cama, na noite anterior, Newt refletiu sobre a cena que testemunhara na livraria naquela manhã de sábado. Não tinha certeza se sua tentativa de agregar bens à imagem da moça teria sido suficiente para amenizar os sentimentos coléricos a ela direcionados pelo dono do estabelecimento e temeu a possibilidade de que o real motivo de sua visita pudesse ser descoberto, o que poderia ter agravado a situação após a sua ausência. O rapaz adormecera com uma preocupação incessante em seu peito.

O livro de fitoterapia aberto em mãos, Newt tentava focar suas atenções a um capítulo sobre o uso de ervas medicinais para o tratamento de doenças circulatórias. Vez ou outra arriscava olhares por baixo da franja em direção à menina que apoiava sobre a mesa, entre os dois assentos duplos que ocupava, um livro aberto e um caderno.

Interrompia a leitura do grosso livro para fazer anotações no caderno, alheia às observações do rapaz. Usava um suéter cor de vinho que contrastava com sua pele pálida, um cachecol cinza no pescoço ocultava parte de seus lábios e, no rosto, portava óculos de grau. Distraidamente colocava uma mecha de cabelo atrás da orelha que, curto como era, insistia em escapar. Newt achou graça da frequência com que repetia o gesto. Era a primeira vez que o garoto encontrava naquela face um semblante de serenidade.

Pouco mais de uma hora e meia após o início da viagem, os prédios victorianos do subúrbio londrino começavam a ser reconhecidos, o borburinho dos passageiros que ansiavam pelo desembarque espalhando-se pelo trem. Newt, por sua vez, manteve o livro aberto em mãos, sua atenção contraditoriamente voltada para a garota que guardava o caderno na bolsa enquanto o trem fazia sua parada.