The 5's Romance

Epílogo

    Algo sobre o canto dos pássaros ou o som de ondas chocando-se contra a superfície do mar, ao longe, fez o homem abrir as pálpebras pesadas relutantemente naquela manhã de domingo. Cumprimentado pelos raios de sol que adentravam o ambiente ainda escuro, de maneira parcial, pela cortina branca de tecido fino, Newt percorreu os olhos pela mobília clara do espaçoso quarto da antiga casa de férias de seus avós.

    Observou a movimentação discreta do tecido a esconder a grande janela de vidro e de madeira azul clara de vista extremamente bonita, certamente havia esquecido-se de fechá-la na noite anterior. Depositou os olhos sobre o armário antigo, mas bem conservado, de ornamentação bem detalhada, a poltrona confortável sob o abajur cor de creme para que, por fim, acompanhasse o desarranjo dos lençóis entrelaçados de forma não proposital às pernas pálidas e desnudas sobre a espaçosa cama de casal.

    As longas mechas de cabelo escuro espalhavam-se sobre o colchão em um contraste explícito aos tecidos bastante claros que o revestiam. O tecido fino e delicado da camisola de cetim azul claro deixava à mostra a superfície alva das costas em suas subidas e descidas discretas no ritmo calmo e sereno de sua respiração. Erguendo o tronco para sentar-se sobre a maciez da cama de casal, Newt sorriu, apaixonado, para a imagem adormecida de sua esposa.

    Preenchendo os olhos com a imagem da aliança dourada brilhante em sua mão esquerda, o homem retirou alguns fios escuros que caíam sobre os olhos cerrados da face sempre muito pálida, deslizando inconscientemente o polegar sobre toda a extensão quente localizada entre o pequeno brinco e o pescoço parcialmente encoberto pela cascata castanha escura. Sorriu quando pequenos movimentos sutis começaram a ser desenhados para anunciar o despertar de sua companhia favorita.

    Como era de seu costume fazer, Newt trilhou os lábios macios sobre as vértebras proeminentes da mulher deitada ao seu lado, vez ou outra deixando por seu trajeto um beijo gentil, até alcançar a base do pescoço bastante arrepiado. Pôde testemunhar a aparição teimosa de um sorriso divertido nos lábios femininos antes que a voz rouca pelo desuso fosse ecoada, em uma falsa repreensão, entre as paredes do cômodo repleto de quietude.

"Newt..."

    A risada baixa soou ao pé do ouvido da mulher e o rosto sonolento voltou-se em direção ao seu espectador, os olhos castanhos piscando algumas vezes para acostumarem-se com a claridade do ambiente. Tina avaliou a figura parcialmente depositada sobre seu corpo, os cabelos desalinhados ao topo da cabeça combinavam perfeitamente com o ar juvenil das expressões suplicantes e brincalhonas de seu marido.

"Já faz tanto tempo, Tina..." - ele murmurou, dedilhando distraidamente a barra da camisola de cetim azul.

    Acompanhou o cenho de sua companheira franzir-se e os olhos escuros provocativos cerrarem-se antes que fossem desviados para seu pulso, onde o relógio acinzentado repousava, sempre esquecido. Durando apenas alguns instantes antes que os dois pares de olhos arregalassem-se em desespero e as mãos masculinas fossem depositadas rapidamente, mas com grande cautela, sobre os lábios cerrados, uma gargalhada ecoou alta pela estrutura silenciosa da casa de férias. Com as sobrancelhas erguidas instantaneamente, a mulher trouxe o acessório destacado ao pulso do homem para que adentrasse o seu campo de visão.

"Faz sete horas, Newt!" - e ele sorriu ao vê-la erguer o tronco para alinhar o rosto desafiador ao seu.

"Você entendeu o que eu quis dizer..."

    Com um sorriso tranquilo em seus lábios, a mulher deixou sobre as bochechas levemente rosadas de seu companheiro um afago ingênuo e gentil, sentindo contra a superfície delicada da palma de sua mão o roçar discreto de uma quase imperceptível barba por fazer. Buscou pelos lábios pintados por sardas para depositar sobre eles uma série de beijos desapressados.