The 5's Romance

Capítulo 10

    As paisagens do segundo trimestre de aulas para os estudantes da Universidade de Oxford foram banhadas pela camada espessa de neve que caíra entre os meses de janeiro e fevereiro, cobrindo as estruturas medievais de seus mais famosos pontos turísticos. Os residentes da cidade do condado de Oxfordshire coloriam-se com seus casacos, suéteres e toucas quando, em momentos de coragem ou de infeliz necessidade, deixavam os ambientes confortáveis do interior de suas acomodações para enfrentar, nas ruas, as brisas de temperaturas que beiravam a zero.

    Ao crepúsculo de alguns dos dias letivos, o corredor monótono da Longwall Street presenciara a agitação de dois pedestres que caminhavam sem pressa pelo tapete níveo à altura de seus tornozelos sobre o passeio de concreto de uma de suas margens, o som de risadas abafadas pelos cachecóis ecoado pelas fachadas das casinhas de dois andares que ali eram instaladas.

    Abaixavam-se para pegar pequenos punhados de gelo ao solo, transformá-los em amontoados redondos e atirá-los o mais longe que fosse a eles possível em uma divertida competição. Quando a menina julgava sua companhia distraída o suficiente para esboçar qualquer reação de defesa, tomava como alvo a silhueta alta do menino de cabelos castanhos encaracolados apenas para iniciar, com bastante dificuldade, uma corrida em direção à St. Cross Road, sentindo eventualmente, em meio ao som de suas risadas altas, um peso leve e gelado acertar-lhe as costas.

    Fora em um desses momentos, entre a última semana de janeiro e a primeira do mês seguinte, que a menina errou o passo em sua brincadeira e sentiu uma dor lancinante ao tornozelo impedir que permanecesse de pé por mais tempo. Embalada por uma angústia que perdurara pelos longos minutos em que fora carregada até o hospital mais próximo, Tina julgou-se finalmente capaz de recuperar o ritmo tranquilo de sua respiração ao observar, ainda ligeiramente aflita, a órtese que agora protegia a extremidade final de sua perna esquerda.

    Trocaram, então, as longas caminhadas até a cafeteria da High Street por maratonas de filmes e seriados nas acomodações do menino, ao quarto andar do prédio, acompanhados de uma caneca caseira de chocolate quente. Arriscaram retornar à neve que circundava a estreita Jowett Walk apenas para construir e decorar um pequeno boneco de gelo que, mesmo não aproximando-se ao mínimo das expectativas da dupla de amigos, rendeu a eles uma lembrança divertida e recheada de risadas.

    Tina guardou com mais carinho, entre os diversos momentos que aqueceram-lhe o peito nas semanas mais geladas do ano, aquele em que Newt oferecera-se para acompanhá-la em seu trajeto de ida até a Faculdade de Direito e de volta para o número 205, não hesitando em pedir permissão para carregá-la em seus braços no percurso de subida e descida dos lances de escada entre um andar e outro dos interiores de ambas construções. Mesmo recuperada sua capacidade de caminhar habilidosamente com as duas pernas, Tina nunca mais fizera aquele trajeto de ida e volta sozinha.

    Quando a menina tivera liberação médica para voltar a trabalhar durante os finais de semana, Newt sentira o peso do silêncio instalado entre as mobílias espalhadas pelo pequeno espaço de sua acomodação. Acostumara-se com a figura esguia e alta a observar os flocos de neve em seu zigue-zague demorado para alcançar o solo pela vidraça de sua janela, o timbre da voz que soava como música para seus ouvidos ao comentar coisas triviais do cotidiano dos corredores da faculdade por ela frequentada. No condado de Kent, por sua vez, Tina achava estranha a sensação de manter-se em silêncio por toda a viagem de trem realizada e ter como única companhia em sua caminhada pela Sturry Hill o uivar baixo e fino da brisa gelada de fevereiro.

    Precisamente por essa razão, o menino decidira economizar em suas despesas para voltar a passar os finais de semana na cidade de Canterbury durante aquele final de período letivo e no início do próximo.