The 5's Romance

Capítulo 7

    Dois envelopes descansavam sobre o balcão de mármore branco da cozinha da residência em Harbledown sob o molho de chaves cobiçado pelo gato preto sentado ao chão que, vez ou outra, agitava a longa cauda em movimentos rápidos durante sua contemplação. Frente à pia da parede que abrigava uma janela de vista para o grande quintal, a senhora de cabelos ruivos cuidava com maestria de algumas pequenas pencas de mirtilos, colhidos de seu próprio jardim, em companhia do filho mais novo.

"Que pena! Veja, Newt, eles não estão tão firmes" - exclamou, examinando o pequeno fruto redondo na palma de sua mão.

"Talvez tenhamos que deixar a torta para uma outra vez" - Newt arriscou um sorriso assegurador para encorajar as feições bastante desapontadas da mãe - "Mas eles estão frescos, parecem bons para preparar uma geleia. O que acha?"

"Acho que é uma ótima ideia" - acariciou carinhosamente as bochechas do filho - "Se puder pegar uma xícara de açúcar dentro do armário enquanto lavo os mirtilos, ficarei agradecida, querido"

    Dentro de uma das seis portas do armário de madeira clara da cozinha encontravam-se, ao nível dos olhos do rapaz, os mais distintos tipos de ingredientes culinários a serem utilizados naquela que havia tornado-se a atividade favorita da senhora de meia idade desde sua recente aposentadoria. Prateleiras sustentando potes de açúcar, frascos de essência de baunilha, sacos de farinha e caixinhas empilhadas contendo especiarias esperavam para serem esvaziadas, em uma tarde de sábado ou domingo qualquer das férias do garoto de cabelos encaracolados, transformando-se em deliciosos assados pelas mãos habilidosas.

    Devolvendo o pote de tamanho médio que continha o pedido requisitado pela mãe ao interior do armário, Newt testemunhou o salto ligeiro realizado pelo gato para a superfície do balcão e sua aterrissagem ruidosa sobre o envelope de cor amarela descansado em seu semelhante, o molho de chaves agitando-se em um zigue-zague frenético por entre as finas patas dianteiras bastante ágeis do bichano.

"Já lhe disse que não deve pegar aquilo que não é seu" - Newt sibilou em uma voz contraditoriamente calma, retirando o mascote da mobília com cautela pela terceira vez para depositá-lo de volta ao chão - "É melhor que eu leve o envelope dos avaliadores para postagem e entregue a cópia de Tina antes que eles fiquem ainda mais amassados"

"Espere mais alguns minutos, Newt. Não deve demorar até que a receita fique pronta. Gostaria que levasse a ela um pouco desta conserva como minha lembrança" - depositou as unidades de mirtilo em uma panela sobre o fogão, a face bondosa divertindo-se com um sorriso - "Afinal de contas, você disse que Tina gosta de geleias, não disse?"

"Devo ter mencionado, sim"

    O rapaz ocupou-se em procurar por uma colher em uma das gavetas próximas para evitar o olhar provocativo e brincalhão da outra. Eram bastante expressivas as alterações do semblante da matriarca em momentos nos quais Newt fazia observações ou citava triviais curiosidades sobre a amiga que conhecera em Oxford. Se soubesse, entretanto, que para a mãe não havia no mundo contentamento maior do que presenciar a ligeira e inconsciente empolgação que o mais novo demonstrava ao compartilhar casualmente qualquer situação que vivera em presença da menina, talvez não sentiria-se de todo constrangido pelos olhares contemplativos que a ele eram direcionados.

"Então um presente não deverá fazer mal" - sorriu afetuosa, aceitando a xícara de açúcar que lhe era estendida - "É bom saber que conquistou uma amizade que lhe faz bem, meu filho"

"Tenho sorte em tê-la como amiga. Ela é muito inteligente, a melhor aluna de sua classe" - Newt suspirou, agitando a colher em mãos para um Pelúcio curioso à sua frente - "Tina não é como as outras pessoas, mãe. Ela pensa diferente, ouve sem julgar..."