Ela foi atendida na emergência do Hospital Rashid. Aquele hospital foi construído por seu irmão mais velho, e era referência nos países árabes. Rashid nunca se empenhou em um empreendimento à toa, tudo que ele fizesse tinha de ser o melhor. Estar ali nunca era fácil.
Ele aguardou numa sala reservada por mais de uma hora. Entendia que ela iria passar por diversos exames para se descobrir as consequências do acidente, mas a falta de notícias estava começando a irritá- lo. Ismaeil havia se juntado a ele há dez minutos. Said e os outros tinham sido mandados para casa. A polícia também tinha aparecido no hospital, e agora buscavam por algum parente ou amigo de Lynn Isabella.
O rosto da moça tinha ficado gravado em sua mente. Mesmo apesar do sangue, era impossível não prestar atenção aos traços delicados dela. Na verdade, ela parecia frágil. Era uma mulher pequena e magra. O cabelo era abundante e longo, a pele clara e ele tinha certeza de que os olhos dela também eram claros. Ainda não sabia se se tratava de uma turista, ou se ela morava no país. Por que estava tão distraída a ponto de não ver o carro?
A entrada do médico distraiu Khaled de seus pensamentos.
— Paz, irmãos — O médico os cumprimentou.
— A paz esteja sobre você — responderam Khaled e Ismaeil.
— Bem, a nossa jovem paciente está consciente. Fizemos diversos exames e não há fraturas, nem qualquer coisa que seja de séria preocupação no momento. Mas é preciso que ela fique em observação por algumas horas, por causa do impacto da queda.
— Ela chegou a desmaiar. Isso não é preocupante? — Ismail perguntou exatamente o que o príncipe estava pensando.
— Ela bateu a cabeça e por isso ficou inconsciente. Por essa razão ficará em observação. Amanhã passará por novos exames. Se tudo correr bem, será liberada em vinte quatro horas.
— Gostaria de ver a paciente, Doutor. — Khaled pediu.
— Sim, alteza. Daqui a pouco uma enfermeira virá buscá- lo.
Alguns momentos depois, uma enfermeira com um hijab branco guiou Khaled até o quarto.
Lynn Isabella estava sentada na cama, e olhou para ele com os olhos azuis muito curiosos. Sim, os olhos eram claros. Khaled tentou manter sua melhor postura de príncipe.
— Como está se sentindo agora, Lynn? — Perguntou em Inglês. Não se arriscou a pronunciar o Isabella, porque tinha certeza de que não iria fazer corretamente.
— Bem, como se tivesse sido atropelada. — Ela respondeu com um sorriso sem jeito.
O príncipe sorriu de volta.
— Eu sinto muito. Vamos providenciar tudo para que você se recupere bem.
— Obrigada— ela olhou para baixo.
O príncipe se perguntou porque ela estava tão tímida. Será que sabia quem ele era? Isso acontecia com frequência com as mulheres. Ficarem sem jeito na sua presença.
— Sua família está em Dubai? — o príncipe continuou. — A polícia gostaria de saber. Eles estiveram aqui, mas você estava inconsciente. Tem alguém que você gostaria de avisar?
— Não e não. O médico me perguntou a mesma coisa — Ela o encarou— Estou aqui há algumas semanas, e vou ficar por mais uns meses. Minha família está nos Estados Unidos. Eu estou trabalhando aqui.
O príncipe passou a mão pela barba bem feita. Decidiu perguntar mais.
— Você demorou a perceber o carro. Cheguei a pensar que você pudesse ter algum problema auditivo. Mas você parece escutar muito bem. Costuma ficar tão distraída? — O tom do príncipe continha uma repreensão.
— O pôr do Sol estava lindo. Peguei minha câmera e comecei a tentar uma foto. Eu nunca dei atenção a essas coisas, e agora ... — ela parou no meio da frase. Sacudiu a cabeça, como se para espantar um pensamento e continuou — Bem, fiquei concentrada demais na foto. Sinto muito, você deve ter se assustado muito.
Na verdade, ele também tinha se distraído com uma foto naquele momento. E acabou distraindo Said também. A culpa fez com que ele abandonasse o tom repreensivo.
— Bom, eu fico feliz que esteja bem Lynn. Você é meio americana? — a pergunta não tinha muito sentido. Mas quando lembrou que não sabia a pronúncia de Isabella quis perguntar.
— Sim, meu pai é americano. Minha mãe é brasileira. Meus pais me deram um nome americano e um brasileiro. Lynn Isabella — ela deu de ombros, como se aquilo fosse algo meio esquisito da parte dos pais.
— Isabella. — O príncipe pronunciou como que saboreando o som do nome. Ele gostou da pronúncia. — Lynn Isabella. Bonito nome.
Ela sorriu e ficou um pouco vermelha. Khaled não soube porquê, mas adorou ver aquilo. A enfermeira retornou, com uma bandeja de metal nas mãos. Dentro havia vários medicamentos. O príncipe entendeu que precisava ir embora.
— Meu secretário vai manter contato com você. E providenciar o que você precisa para se recuperar tranquilamente. Não se preocupe com nada. E se algo te deixar preocupada é só falar com Ismaeil.
— Não precisa fazer nada por mim, acho que no fim, foi tudo culpa minha. — Os olhos azuis estavam apreensivos.
— Eu quero fazer isso, Lynn. Não tente me impedir — ele disse com um tom autoritário.
O príncipe estendeu a mão para ela em despedida. Ela pegou na mão dele, e deu um olhar curioso.
— Você é o Fazza não é? O poeta. — falou e mordeu o lábio inferior. O príncipe ficou surpreso. Ela o identificava como o poeta, ao invés de como o príncipe herdeiro de Dubai.
— Gosta de poesia? — perguntou sem soltar a mão dela.
— Sim. Adoro.
— Sim, eu sou Fazza. O poeta. — o príncipe sorriu. Soltou a mão dela e foi embora.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Enquanto Houver Razões (Concluído)
RomanceQuando seu guarda costas atropela uma estrangeira, Hamdan logo se sente atraído por ela. No entanto, o príncipe não demora a descobrir que a jovem tem espírito livre e pouca responsabilidade. Quanto mais ela escapa de suas mãos, mais ele deseja pre...