O Falcon deslizava elegantemente pelas águas azuis do Golfo. O dia estava ensolarado e tudo estava perfeito para um passeio de barco. Do solário na proa Khaled observava o céu e o mar sem mal conseguir conter a empolgação. Já estavam navegando há cinco horas em direção à Ilha Hormuz, um pequeno paraíso histórico e cultural no Irã. Foi necessário sair de madrugada, para que pudessem aproveitar a tarde de sexta-feira na ilha, passar a noite e retornar no sábado à tarde. O príncipe teria muito trabalho no domingo, mas não se importava de estar cansado.
Optou por um staff completamente britânico, tripulação e segurança, tendo como único árabe Said Hilal, que se recusou a permitir que Khaled viajasse sem ele. Mas Said era confiável, e nunca julgou suas atitudes, de modo que o príncipe se sentia à vontade com a presença dele.
— Ainda é estranho pra mim, os fins de semana nos emirados serem na sexta e sábado. E o domingo ser dia de trabalho. — A voz de Lynn fez seu coração dar um salto. Estava muito a fim dessa garota.
Ele se virou a tempo de vê- la subindo pelas escadas. Ela tinha ido tirar o moletom com que havia saído de casa na madrugada, e agora voltava com um bonito vestido de verão. Longo, com estampa alegre, e um belo decote nas costas e recortes que expunham as curvas da cintura.
Ele estendeu a mão para ela e a guiou até um sofá confortável na sombra.
— Hormuz tem algo da cultura portuguesa, assim como o Brasil. — Falou enquanto servia um refresco para ela. — Alguns nativos da ilha ainda falam português.
— É interessante pensar nisso. Nasci no Brasil, uma soma da cultura portuguesa, indígena e africana. Em Hormuz a cultura árabe se misturou à cultura portuguesa e à indiana. Temos coisas em comum, e ao mesmo tempo somos tão diferentes.
— Quando se mudou para os Estados Unidos?
— Quando fui adotada — Ela respondeu com um sorriso terno.
Isso surpreendeu Khaled. Ele acreditava que os olhos azuis fossem herança da parte americana. Mas fazia todo sentido, ela não se parecia nada com os pais que ele viu nas fotos do Instagram. Devia ter sido adotada junto com o irmão.
— Você parece se sentir à vontade com isso. — O príncipe falou cauteloso.
O olhar da jovem mostrou surpresa, e depois compreensão. Muitos árabes acreditavam que a má sorte de ser órfão era atraída pela própria pessoa. Um castigo de Deus. Eles ajudavam os órfãos, mas raramente os levavam para casa.
— Me sinto muito grata. Fui adotada ainda pequena. Nunca soube quem era meu pai. Minha mãe morreu quando eu tinha cinco anos, não me lembro muito dela. Mas a adoção mudou minha história. Eu e meu irmão não tínhamos muitas chances, mas nossos pais nos deram uma vida nova.
Khaled sentiu um calor no peito ao ouvir a ternura com que ela falava dos pais. Mas porque então aquela mulher adorável estava tão distante de casa? Para Khaled estar próximo da família era essencial. Apesar de ter sua própria casa, dormia muitas vezes na casa da mãe.
— O que a trouxe a Dubai?
— Distância. Queria um tempo para mim, queria viver algumas coisas sozinha. Não queria que as pessoas que eu amo, presenciassem todos os eventos da minha vida.
Enigmático. No olhar ele percebeu um pouco de dor. Um momento antes, ela falava com ternura e amor, agora parecia haver problemas em que a família participasse da vida dela. Lynn olhava para longe, mais longe do que o mar infinito ao seu redor, olhava para dentro de si. Ele achou melhor deixar o assunto de lado.
O almoço foi um pouco atrasado, na própria ilha Hormuz. Havia um pequeno restaurante em um canto da ilha, onde as mesas e cadeiras eram de pedra. A comida era tradicional e a vista do mar era encantadora. Além disso, a maioria dos visitantes eram europeus.
A tristeza de Lynn havia passado tão facilmente como chegou, e ela voltou a ser risonha e agradável. Parecia amar e se interessar por cada coisa que via. A forma como os olhos dela fechavam a cada sorriso, fazia Khaled querer vê-la sorrindo para sempre. Já sabia que aquilo era mais que desejo. Mas não podia evitar.
Depois de visitarem um pequeno museu e de mergulharem com os belos peixes e corais da região, resolveram caminhar pela praia.
Khaled não se intimidou em pegar a mão dela. Nunca tinha tido a experiência de namorar livremente. Mas dessa vez ele queria assim. Se alguém se aventurasse a tentar tirar uma foto, Said Hilal estava autorizado a reagir violentamente.
Pela primeira vez, desde a perda do irmão mais velho, ele se sentia bem na companhia de alguém.
— Olha... — Lynn sussurrou, apontando para a enorme bola de fogo em que o Sol se convertia ao se pôr — Não é incrível? Eu demorei tanto a perceber o quanto a vida é linda.
— Eu também — Ele ouviu a própria voz concordar. Mas ele não olhava para o pôr do sol. Ele olhava para aqueles olhos azuis, aquele sorriso fácil, o rosto pequeno e os lábios rosados.
Sim, a vida é linda. Mas ele não sabia que a vida poderia ser uma pessoa. Que o amor poderia saltar sobre ele daquela forma surpreendente.
E ele soube que era a hora.
Segurou o rosto dela entre as mãos. Ela pareceu não entender, mas então ela sorriu. Também estava pronta. Quando seus lábios se tocaram, Khaled soube que estava perdido.
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Enquanto Houver Razões (Concluído)
RomanceQuando seu guarda costas atropela uma estrangeira, Hamdan logo se sente atraído por ela. No entanto, o príncipe não demora a descobrir que a jovem tem espírito livre e pouca responsabilidade. Quanto mais ela escapa de suas mãos, mais ele deseja pre...