Capítulo 16

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O sol escaldante fazia gotas de suor escorrerem pela testa do príncipe. Mas ele continuava a fixar a vista nas areias do deserto procurando infinitamente. E naquele momento, a obsessão em encontrar trazia ao seu rosto a aparência de um falcão. O que lembrava muito o irmão mais velho, Rashid nunca desistia de algo que quisesse muito.

Um movimento quase imperceptível no vale de uma duna chamou a atenção de Khaled. Ele sentiu um arrepio, a intuição lhe dizia que tinha encontrado o que havia procurado desde o amanhecer.

Ali! — Indicou com o dedo para o biólogo ao seu lado.

O homem usou um potente binóculo para tentar localizar o movimento no vale de areia. Após alguns momentos confirmou a presença da gazela arábica no local.

Sheikh , o senhor nunca precisará de óculos! — Ambos sorriram. Encontrar aquele animal era muito importante, e isso melhorava os ânimos.

Pelo rádio, as equipes ao redor foram avisadas e todas se dirigiram discretamente para o local.

Khaled e Hunter, o biólogo que estava com ele, foram os primeiros a chegar.

A cena cortou o coração do príncipe. Um lindo exemplar de gazela arábica macho, caminhava debilitada pela areia. Muito magra e com diversos ferimentos. A causa de tudo era uma tela plástica, presa nos chifres e patas dianteiras do animal.

No dia anterior, alguém havia avistado o pobre bicho vagando pelo deserto, e avisado as ONGs de proteção. A Gazela Arábica, um animal em extinção, era uma das razões pelas quais o príncipe mantinha equipes de biólogos e veterinários por todo o país. Quando soube da situação, partiu imediatamente em busca do animal, mas foram mais de 24 horas de buscas.

Ao perceber a chegada das equipes, o animal tentava fugir, mas já estando no fim de suas forças e com os movimentos contidos pela tela, só conseguiu se afastar por poucos metros. Com a ajuda de um lançador de dardos tranquilizantes o animal foi contido.

Os veterinários se aproximaram e retiraram a tela, Khaled auxiliou nos curativos. Na tentativa de arrancar a tela, o pobre animal havia se ferido diversas vezes. Ao final de tudo, a gazela foi posta numa jaula e levada a um centro de recuperação. Seria devolvida ao deserto logo que possível.

De volta aos carros, Khaled se despediu de todos, e ficou sozinho no deserto. Olhando a paisagem, ele sentiu calma. Por centenas de anos, seus antepassados estiveram caminhando sob aquelas areias. O deserto estava em seu DNA, corria em suas veias, pulsava junto com seu coração. Nem toda riqueza adquirida por sua família poderia fazer com que deixassem de ser parte do deserto.

Observou um vento leve começar a movimentar a areia, iniciando um processo que cobriria as pegadas deixadas pelos membros da equipe de salvamento. O deserto era assim, a dança dos ventos e das areias, modificaram continuamente sua forma. Tudo que acontecia por ali, logo era apagado.

Infelizmente, isso Khaled — um filho do deserto — não conseguia imitar. O que acontecia com ele, moldava sua alma e transformava sua personalidade e consequentemente sua vida.

Pouco mais de um ano atrás, Lynn o havia deixado. Mas a forma de existir daquela mulher, tornava as lembranças dela algo doce ao invés de doloroso. Havia aprendido muito sobre amor com ela. Descobriu que nunca havia conhecido o amor até viver aqueles anos maravilhosos com a jovem. E entendeu que amor não era intensidade, mas paz. Por muitas vezes, a vida sexual não existia por causa da saúde dela. Mas as conversas e amizade permaneciam. Por que o amor era existirem juntos, um ao lado do outro.

Ao invés de dor, lembrava da esposa com gratidão. Por toda felicidade e ensinamento que trouxe para sua vida. Por curar as dores passadas. Por ensinar a viver e amar de verdade.

E isso era algo que ele teria de fazer em breve. Precisava amar de novo. O noivado de Ahmad havia sido anunciado, e o rapaz enviado de volta ao exército. Isso indicava bem suas futuras funções, e o tirava da corrida pelo trono. Mas também deixava claro que era o momento de definir o futuro.

Para sua surpresa, o casamento de Abdul havia sido marcado. A noiva escolhida pelo pai. Isso poderia fazer o irmão parecer mais qualificado entre os irmãos para cuidar do país. E apesar de amar e confiar em Abdul, Khaled queria ser o próximo Emir. Uma família era tudo de que precisava para vencer essa batalha.

Pensava em escolher alguém que não fosse parte da família, mas era imprescindível ser emirati, ter boa reputação, e seguir o islã. Havia escolhido alguns dos seus amigos de confiança para procurar alguém que preenchesse as qualificações. Em breve ela teria de aparecer. Antes que seu pai decidisse escolher por si mesmo.

Enquanto Houver Razões (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora