Capítulo IV

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    –Neném, vai pro quarto, fica quietinha, vou pedir para um tio te buscar, você vai passar uns tempos comigo.

    –Obaaaa, vou ficar na casa da praia?

    –Não meu amor, você vai vir pra casa de vidro. – falei contendo o peso no peito. Desliguei o telefone, pedi para que Yamato, que estava na Califórnia, buscasse Moegi e trouxesse para Seattle, perto de mim. Ouvi a porta de entrada abrir e fui correndo.

    –Kakashi... Ele matou Alicia. Ele matou a minha amiga, apenas porque eu comecei. É por isso que eu não posso me envolver com ninguém, é por isso que eu vivo sozinha nesse inferno.

    –Você tem que se acalmar Sakura, Alicia decidiu o destino dela quando se envolveu com Joshuel, seus pais a avisaram, seu pai deixou claro para ela a função dele nos negócios, ela sabia que a cabeça dela poderia rolar a qualquer momento. Não é culpa sua.

    –Yamato está trazendo Moegi para cá, não sei quanto tempo vou ficar com ela, talvez a mande para Vancouver, com a tia Tsunade, ela iria cuidar bem da criança.

    –Pense nisso depois. Vou atrás do corpo de Alicia, ela não merece ser despachada como uma qualquer. Merece um enterro.

    –Tudo bem. Vou reunir as meninas da escola, éramos todas muito amigas. Elas vão me ajudar nisso. Ah, antes que me esqueça, o senhor Uchiha passará o tempo dele em Seattle aqui, separe um carro da preferência dele, menos meu Aston, e mantenha um segurança de olho. Não precisa ser você, o Asuma ou Yamato, porquê cada um já está cuidando de uma coisa, mas que seja de confiança, e seja bom.

    –Sim senhorita.

    Fui até meu quarto, no segundo andar. Sasuke ainda estava dormindo.  Tão lindo. Caminhei até minha penteadeira, peguei meu maço de cigarro e meu isqueiro e fui para a sacada, fechando a porta atrás de mim.

    Não posso colocar mais ninguém em risco. Não posso assassinar todas as pessoas que amo de tabela. Moegi agora não terá uma mãe, nem um pai, crescerá sozinha, não consigo pensar como será a cabeça dela, se ela vai odiar Sasori ou a mim, se ela vai crescer a mesma menina boa que é ou vai se revoltar.

    Um trago. Dois tragos. Lágrimas emergiram. Eu não me permito chorar, tenho que ser forte. Três tragos. Quatro tragos. Isso tudo é culpa minha, eu não precisava matar Joshuel, e por que infernos fui andar por aquele lado das docas? Talvez eu conseguisse sair sem matar aqueles caras. Cinco tragos. Eles teriam me matado, e a Sasuke também. Seis tragos. Nada podia ser diferente. Eu tenho culpa, mas não sozinha. Termino meu cigarro convicta de que não matei Alicia, tive participação, mas não fui eu quem a matou.

    Há sangue nas minhas mãos, mas não de inocentes. Nunca matei ninguém que não tivesse culpa no cartório, jamais tirei vidas somente por prazer, carrego todas as vidas tiradas como demônios me lembrando da escuridão que mora em mim, e que muitas vezes me assume o controle. Mas não são inocentes. Assim como eu não sou. Não sou uma pessoa má, mas não sou boa.

    Três batidas no vidro da sacada e a porta se abrindo em seguida me tiraram do devaneio. Olhei para trás e os olhos escuros me fitavam profundamente.

    –Bom dia. O que aconteceu?

    –Bom dia, apenas negócios.

    –Já te vi tratar negócios e seus olhos não costumam ficar marejados ou tristes assim.

    –Uma amiga importante faleceu essa madrugada. A filha dela está vindo morar comigo uns tempos. Não se preocupe, ela é um amor, vocês vão conviver bem juntos. E eu já quitei sua estadia no meu hotel, vai ficar aqui até decidir voltar para a Califórnia.

Hellraiser - Aceite a escuridão ou lute contra elaOnde histórias criam vida. Descubra agora