Impressionismo | Kim SeokJin • 2

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Boulevard Montmartre de noite

"Boulevard Montmartre, Effet de nuit"

por: etthereall

Revisora: chromogogh

Capítulo 2 - Cores, luz e sombra.

Por mais que soasse completamente irreal, não existia nenhuma outra explicação plausível para justificar como uma fenda no tempo havia me levado diretamente para dentro de um quadro, no local e hora exata que havia sido pincelado pela primeira vez. Repetir em voz alta que aquilo, de alguma forma, fazia parte da realidade era até engraçado. Nenhum dos garotos jamais acreditaria em mim se eu dissesse, e me sinto estúpido por não ter sequer trazido meu celular nesse momento, uma foto valeria mais do que mil palavras. Eu estava sentado ao lado de Camille Pissarro, num banquinho qualquer em Paris, observando as tonalidades que ele escolhe para dar profundidade aos efeitos de luz da mesma tela que daqui a alguns séculos estará em exposição no museu mais importante da cidade e que visitarei, esta manhã.

Ajusshi¹, posso ficar aqui para observar? - Pergunto, sem a intenção de intimidá-lo. Seus olhos me observam de cima à baixo.

— É um daqueles aspirantes à artista, huh? Não trouxe sequer um papel para tomar notas, meu jovem?!

— Não, é que eu-

— Sente-se. Pode observar em silêncio, caso queira.

Os olhos voltam para a tela, misturando as cores quase num ritmo mítico, criando tons que eu sequer imaginaria que juntas poderiam criar um efeito tão bonito.

— Me diga, meu jovem, quais são suas ambições como artista? - Pissarro-hyung perguntou, enquanto contornava as lamparinas na tela, quase idênticas às reais. Não saberia exatamente o que responder, afinal, quando se tratava de arte, não poderia dizer que era o meu forte. Não necessariamente a arte que envolvia tintas, telas, cores. É claro.

— Eu canto, gosto de música.

Os olhos de Pissarro se iluminam, e se voltam para mim novamente.

— Oh, como os cantores de Burlesque²?

Sua empolgação chega a ser inocente, e concordo.

— Sim, como os cantores de Burlesque.

Sua empolgação também me anima, e aproveito para perguntá-lo sobre sua obra.

— Me conte, ajusshi, por que decidiu pintar justamente esse lugar de Paris?

Pissarro parece pensativo, toma um tempo até se levantar e recolher com delicadeza todo seu material de pintura, inclusive a tela, protegida por uma capa que a mantém afastada da tinta-fresca.

— Você não vem, meu jovem?

Ele pergunta, enquanto caminha pela ponte que cobria a Montmartre.

— Sim!

Seguimos lado a lado, o acompanho pelo caminho e me ofereço duas vezes para carregar sua maleta com materiais de pintura, embora ele permaneça relutante.

— Paris é diferente de qualquer cidade do mundo... - Ele começa. — ... por mais que você tente retratá-la, diversas vezes a mesma cena, nunca será igual. Como se a cada fração de segundo, conhecêssemos uma nova Paris. - As palavras de Pissarro parecem tão bonitas que de alguma forma, passo a observar Paris com a mesma delicadeza do seu olhar, cada singularidade da cidade, é apenas um resquício da cidade moderna em que desembarquei dois dias atrás, para compromissos e tanta correria que sequer notei o quão bonita poderia ser.

— Ajusshi, você está certo, Paris é única.

Ele sorri. Satisfeito porque tomei nota mental disso.

— Quero te mostrar alguém, venha comigo.

Continuo caminhando ao seu lado pelas ruas da cidade, entre vielas, avenidas, ruas longas e outras repletas de moças com suas saias de cancan, precisava me lembrar de agradecer Taehyung por me obrigar a assistir todos aqueles filmes franceses com ele, ao ponto de decorar até mesmo as mínimas referências.

Pissarro parece conhecer bem cada lugarzinho da cidade, a indiferença com que trata todo e qualquer evento que acontece à nossa frente enquanto me impressiono com cada detalhe, chega ser cômico.

— Quero que conheça alguém que me inspirou quando eu era um jovem assim como você. - Pissarro comenta, quando entramos no jardim escondido num canto de Paris, quase como se não fosse real. Mas no fim, nada aqui parecia ser.

Caminhamos pelas folhas secas fazendo barulho pela grama, de longe avisto um grupo pequeno de garotas, enfiadas em vestidos gigantescos e observando a paisagem utilizando pequenos binóculos.

— Ah, meu caro Monet! - O ajusshi comenta para o outro, que está sentado mais à frente, utilizando um chapéu de verão e observando as moças enquanto rabisca na tela.

— Camille, meu amigo!

— Quero que conheça este rapaz, ele me procurou hoje para tomar notas sobre arte, embora não tenha trazido sequer um papel. - Ambos sorriem. — Como você também fazia, não é Camille?!

Levo alguns minutos para associar que o Monet em questão se trata de Claude Monet³, meu organismo provavelmente ainda não conseguiu considerar a possibilidade de estar tomando lições dos dois pintores mais conhecidos de toda uma era. Ok, Seokjin, modos.

— Ele é um cantor de Burlesque. - Pissarro comenta, orgulhoso.

— É um rapaz muito bonito... - Monet comenta, enquanto olha para mim e petrifica o olhar nos meus sapatos. — ... mas com roupas tão diferentes, nenhum senso de moda parisiense pelo visto.

Ok, meus par de tênis esportivos não foram aprovados por Monet, talvez Jungkook estivesse certo sobre eles serem exagerados demais.

— Sentem-se, as modelos já estão prontas.

Sento-me ao lado de Pissarro, entre o cavalete de Monet e próximo de toda parafernalha artística escolhida por ele. Observo atentamente seu cuidado ao recriar com fidelidade na tela, a mesma copa frondosa da árvore, os primeiros raios de sol da manhã atravessando as folhas, clareando os vestidos das moças sentadas na relva, com seus rostos sorridentes e animados. Monet parecia retratar sempre a beleza que vinha da natureza, nunca enfatizava as feições femininas, nada além de cores de cabelo e vestidos bonitos. Me sentia privilegiado de estar vivendo um momento como aquele, definitivamente era muita sorte. Por alguma razão, tenho a sensação de que gostaria de ficar ali por mais tempo, e só então me dou conta de que sequer me apresentei.

— Ajusshi, eu não pude falar meu nome, eu sou o Seokjin.

— É um belo nome para um cantor de Burlesque.

— É, não é? Quem sabe um dia eu possa ser um modelo vivo para o ajusshi?!

Sorrimos.

Os garotos jamais acreditariam nisso!

🎨

Glossário

Ahjusshi¹ - PT - "Senhor."

Burlesque² ou Burlesco é um trabalho literário, dramático ou musical com o intuito de causar riso ao caricaturar a maneira ou o espírito de trabalhos sérios ou por tratamento grotesco de seus assuntos. A palavra é de origem , que por sua vez deriva da palavra burla, que significa "piada", "ridículo" ou "zombaria".

Claude Monet³, Oscar-Claude Monet foi um pintor francês e o mais célebre entre os pintores impressionistas. O termo impressionismo surgiu devido a um dos primeiros quadros de Monet, "Impressão, nascer do sol", de uma crítica feita ao quadro pelo pintor e escritor Louis Leroy: "Impressão, nascer do Sol" – eu bem o sabia!

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