O primeiro contrato chegou, três semanas depois da reunião com Movrahlk. Matar Nian Waymar – um cruel traficante de escravos – talvez o mais famoso entre eles por toda Tomorrow Islands
Karsten, com todo o prazer acabaria com o maldito. Quando se aproximou do pai para reivindicar o contrato, foi interrompido pelo mesmo, que começou a falar:
- Não seria justo se eu escolhesse o esquadrão que cumpriria o contrato... desta forma, sempre antes de uma missão, eu e meu esquadrão avaliaremos os candidatos de acordo com as habilidades, plano e preparação. Vocês, interessados, têm duas horas, para formular um plano antes que a competição comece.
Os esquadrões reunidos assentiram e saíram da sala, sem mais comentários. Karsten foi o último a sair da sala, fazendo questão de olhar o pai uma vez. Movrahlk o olhou de volta com um desdém frio, como sempre o fizera, sem demonstrar uma gota de sentimento pelo único filho.
O esquadrão de Karsten seria o melhor, tinha de ser, ele o faria para provar a Movrahlk que era digno de mais do que um olhar qualquer, que era um dos assassinos mais habilidosos em atividade e um ótimo líder de esquadrão.
Karsten se dirigiu às ruinas do antigo templo abandonado de Quantix, o deus da noite, estrelas e sombras, era lá que costumava se encontrar com seu esquadrão. Ali eles planejariam o melhor ataque a Nian Waymar e se preparariam física e mentalmente para o treino de habilidades.
- Poderíamos organizar uma festa e o convidar para tratar de negociações do tipo, então executaríamos o homem ali mesmo, com a taça de vinho envenenada. – sugeriu Luanna.
- Ele é o comerciante de escravos oficial dos reinos, é um homem inteligente, não cairia nessa armadilha e, caso caísse, iria nos expor demais, poderíamos arruinar completamente o plano principal. – respondeu Iounnes, com firmeza. Luanna franziu a testa e olhou com escárnio para Iounnes, o que provavelmente indicaria uma longa e chata discussão.
- A fortaleza dele fica em uma pequena ilha em Volcano Islands, seria interessante se nos infiltrássemos no lugar e o atacássemos lá dentro, certamente seria mais transparente e dependeríamos apenas de nós mesmos, não esperando que ele caia em uma armadilha. – sugeriu Karsten, interrompendo a iminente discussão de seus dois comandados.
- O plano faz sentido, na maioria dos aspectos, apenas precisamos de uma maneira de entrar lá dentro. Desta forma, não precisaríamos depender da sorte para o plano fluir – interveio Zohinj, de braços cruzados, as feições diziam que ainda não passara dos 25 anos, porém era sábio em vários aspectos.
Karsten avaliou algumas possibilidades de entrar lá dentro, mas foi Luanna quem deu a ideia, sorrindo.
- Poderíamos nos disfarçar como os escravos de Nian, certamente algum de seus guardas deve ser corrupto, nós o subornaremos, nos escondemos lá por alguns dias até o momento certo. Eu já passei de navio por perto da fortaleza dele, não é muito grande é relativamente fácil espalhar o caos por ali. – Luanna sorriu diante do olhar de concordância e aprovação dos assassinos reunidos. – Só precisamos calcular todos os momentos certos para tudo fluir perfeitamente.
Karsten precisou de um minuto para avaliar o plano. O jovem assassino apenas assentiu em concordância antes de dizer:
- Alguém propõe algo melhor? – indagou Karsten, por fim.
Não houve objeção, e aquele era, realmente um plano promissor. Karsten olhou para o grupo reunido. Luanna, Iounnes, Zohinj e Quelinon, membros de seu esquadrão e grandes amigos. Karsten os conhecera dois anos antes, quando o pai o obrigara a se tornar um assassino e dissera que deveria montar seu esquadrão. Karsten escolheu convocar os assassinos mais jovens que Movrahlk tinha e, tirando Zohinj – o mais experiente – os outros ainda não havia passado dos 20 anos de idade.
Karsten e o grupo começaram a caminhar no quente dia ensolarado no verão. A baixa grama do topo da montanha brilhava nos tons de verde esmeralda conforme reluziam sob luz do sol.
Os jovens assassinos chegaram aos portões da fortaleza sob a montanha no auge do dia, os raios solares aqueciam a pele das pessoas e abafava o ar quente da estação. Os assassinos estavam suando e com os corpos pegajosos.
O grupo se dirigiu ao salão principal onde Movrahlk e seu esquadrão esperavam. Não demorou para que todos os grupos se reunissem na grande sala de treinamento em volta de Movrahlk e seu cruel e frio esquadrão de assassinos.
O chefe sorria sadicamente para os outros assassinos, ele e o lendário esquadrão votariam o melhor plano e, escolheriam quem o executaria com o teste de habilidade.
- Espero que tenham trago um bom plano, o esquadrão ganhador terá uma ótima recompensa em ouro quando o contrato for concluído.
Gyalli, um assassino experiente e frio, que palpitou primeiro.
- Ele certamente precisa ir à capital em algum momento, poderíamos fazer uma chamada falsa para ele, então interceptamos sua embarcação e a afundamos com ele dentro, ninguém suspeitaria que fora um atentado.
Movrahlk assentiu, considerando a ideia, Liam e seu esquadrão deram um passo para trás, quando Halil, se aproximou e começou a falar:
- Poderíamos convidá-lo para um baile ou reunião para tratar de negócios. Então, ele não voltaria vivo e nosso contrato estaria completo.
Movrahlk avaliou o plano e balançou a cabeça, discordando.
- Nian é um homem inteligente e, com certeza deve ter bons conselheiros, ele dificilmente cairia em uma armadilha dessa e não estaríamos sendo completamente transparentes, isso dificultaria muito os nossos planos futuros.
Assim, todos os líderes exibiram e apresentaram seus planos, até que Karsten, o último dos líderes deu um passo à frente e disse:
- Nós nos disfarçaríamos de escravos, entraríamos, nos infiltraríamos em várias partes da fortaleza, podendo organizar uma rebelião, neutralizaríamos os guardas e assim Nian acabaria morto e todos achariam que foi por causa da rebelião, desta forma, não dependeríamos nem da sorte e teríamos uma ótima transparência.
O rosto de Movrahlk ficou lívido de ódio e raiva. Ele sabia que o plano do esquadrão de Karsten tinha sido o melhor. Isso satisfez o jovem assassino que caminhou triunfantemente até o salão de treino, onde os jogos ocorreriam.
Movrahlk e seu esquadrão chegaram quinze minutos depois. O pai de Karsten olhou friamente para os assassinos reunidos, ele os contaria quem teria dado o melhor plano.
- Vocês apresentaram vários planos interessantes... – disse Movrahlk, acariciando a barba, apreensivo. – Nós votamos e decidimos o melhor plano. Informo-lhes que o plano votado e escolhido foi o de Karsten.
Não era surpresa alguma, mas Karsten se viu sorrindo em satisfação com a afirmação do pai. A conquista o alegrou tanto que mal percebeu quando Movrahlk continuou a falar.
- Porém isso não significa que eles o farão, e sim, o mais qualificado. A primeira disputa será em combate corpo a corpo. Nian tem muitos guardas pessoais e preciso saber qual esquadrão está melhor preparado para isso.
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Os combates foram sorteados. O esquadrão de Karsten lutaria contra o esquadrão de Gyalli, que era composto pela mesma quantidade de assassinos que o dele, a luta seria totalmente justa.
Os confrontos seriam realizados corpo a corpo, um de cada vez, o que desarmasse o adversário primeiro, seria declarado o vencedor. Assim, o esquadrão que obtivesse mais vitórias passaria para a próxima fase
Karsten teve dez minutos para organizar a ordem dos combatentes. O líder do esquadrão lutaria primeiro. Depois viria Iounnes, Zohinj, Quelinon e Luanna. As primeiras vitórias seriam extremamente importantes para se impor contra o adversário e garantir a passagem para a próxima fase.
Karsten entrou no ringue e esperou o adversário. Era Titus, sombra de Gyalli, um sádico assassino que era conhecido por sua brutalidade.
Os assassinos escolheram as armas. Um par de espadas simples, foi a escolha de Karsten, Titus, alto e corpulento preferiu a grande espada de treino. Os assassinos se posicionaram no ringue e esperaram a confirmação de Movrahlk.
Ao sinal, Titus atacou, a grande espada desceu, mas Karsten estava preparado, esquivou-se para o lado e golpeou enquanto Titus tentava se recuperar do ataque malsucedido. Atingiu-o com um golpe lateral que fez Titus urrar de dor.
O brutamontes se desvencilhou e atacou novamente descendo a grande espada na direção de Karsten, que se esquivou para o lado esquerdo com graciosidade mortal, acertando-lhe uma cotovelada nas costelas seguido de uma joelhada no estômago, empurrando-o em seguida para o outro lado do ringue.
Ódio e ira irradiaram dos olhos de Titus. Ele avançou novamente e, mais uma vez, encontrou o ar, porém ele já esperava por isso, girou, esperando encontrar Karsten desprevenido, mas o golpe foi parado pelo par de espadas menores.
Titus se desequilibrou e Karsten partiu para o ataque, as espadas pareciam fazer parte de seus braços, o jovem assassino golpeou a espada de Titus com uma mão e lhe deu uma forte joelhada no estômago que fez o grande assassino perder o ar. O desequilíbrio foi o suficiente para que Karsten o derrubasse no chão, uma espada apontada para o pescoço de Titus e a outra apontada para a mão que estava próxima à grande espada que o assassino escolhera.
Karsten foi declarado o vencedor pelo pai. A satisfação triunfal foi apenas momentânea, a segunda luta ia começar, Iounnes entrou no ringue. Lutaria contra Utraniak, um assassino extremamente rápido e silencioso.
Não foi uma luta longa. Iounnes atacava e defendia como um verdadeiro guerreiro lendário das histórias épicas sobre os deuses e a magia. Utraniak apenas conseguia e defender e atacar de maneira ineficiente, Iounnes conduzia a luta até que um golpe com o pomo da espada, atingiu a cabeça de Utraniak, nocauteando-o.
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Movrahlk Wannis fervilhava de ódio. O esquadrão de jovens inconsequentes e idiotas que seu filho escolhera estava levando uma grande vantagem contra um dos grupos de assassinos mais tradicionais.
Assistira Iounnes destroçar Utraniak, o experiente assassino treinado pelo próprio Movrahlk. Ainda restavam três combates, e esperava o ultraje da “força jovem” que Karsten tanto defendia.
Zohinj e o líder do esquadrão, Gyalli lutariam. Movrahlk confiava que Gyalli venceria facilmente.
A luta estava durando mais de dez minutos. Mesmo não sendo perfeitamente eficiente com espadas, Zohinj ia se defendendo bem dos ataques implacáveis de Gyalli.
Porém o assassino das Ilhas do Sul já estava cansado, os golpes e defesas iam se tornando mais lentos até que, após um forte golpe da espada de treino de Gyalli, Zohinj desabou ao chão.
O chefe dos assassinos sorriu em satisfação. Zohinj foi aplaudido pelo grupo de Karsten, ridículo, pensou Movrahlk, ele açoitaria qualquer um de seus homens caso perdessem em combate corpo a corpo.
A próxima luta começaria logo, afinal, não tinham todo o tempo do mundo. Quelinon se posicionou no ringue, lutaria contra Andor, um homem brutal, que costumava brincar com as vítimas antes de mata-las.
Essa luta sim, foi rápida. Andor nocauteou Quelinon com uma facilidade absurda e mortal. Movrahlk sorriu, o jogo estava empatado novamente.
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Luanna lutaria. Seria a responsável pelo sucesso do time. A decisão estava sob as costas dela.
Seu adversário era Thomas Leiden, um ex-soldado que fora deposto do exército por maus comportamentos. Já tinha visto o homem em treinamento, era cruel, rápido e brutal. Ele não se importaria em mata-la se isso significasse que a luta acabaria mais rápido. As espadas de treino não tinham gume, portanto não cortavam, mas ainda perfuravam.
Thomas entrou no ringue. As espadas duplas reluzindo sob as luzes das tochas que iluminavam o lugar. Luanna escolheu sua arma, assim como Thomas, a garota optou por espadas gêmeas para o combate.
A garota se dirigiu ao ringue, engoliu em seco a cada passo que dava. O nervosismo a fazia tremer. Antes de entrar, Karsten a abordou.
- Eu acredito em você – disse ele, sorrindo.
- Não sei se consigo... está tudo em minhas mãos. É um ex-soldado. – disse Luanna de cabeça baixa e olhos tristes. – se eu o desapontar...
- Não vai me desapontar, ele pode ser duas vezes maior que você, mas é duas vezes mais lento também. Não é pensando desta forma negativa que você vai vencê-lo, vai entrar lá Luanna Rotters e vai derrubar aquele brutamontes no chão, desarmá-lo e nos dar a vitória.
Karsten olhou para sua sombra com determinação, a garota assentiu e entrou no ringue, onde Thomas já se encontrava esperando, com uma quietude mortal e fria.
Foi dado o sinal. A luta tinha começado. Thomas circundava Luanna como um predador faz com sua presa.
O primeiro ataque veio. Tão rápido que Karsten mal conseguiu detectar. Luanna bloqueou o golpe com as espadas duplas e contra-atacou. o ex-soldado se defendeu bem e desferiu um poderoso golpe contra a cabeça exposta de Luanna. O golpe seria letal, mesmo com as espadas de treino, a força do golpe destruiria o crânio da jovem garota.
Karsten não teve tempo para ficar aflito. Luanna posicionou as espadas em “X” e defendeu muito bem o golpe e fez o mesmo com o seguinte e com o seguinte. Thomas desferia golpe após golpe com uma ferocidade predatória, porém Luanna se defendia bem, parando e esquivando dos inúmeros golpes do assassino.
Uma hora ele se cansaria. Suor escorria no rosto, molhando as feições frias e duras de Thomas.
Estava fazendo efeito então. O assassino começara a ofegar e os golpes estavam ficando cada vez mais lentos.
Karsten e os outros membros do esquadrão assistiam à luta, apreensivos e preocupados. Quando Thomas grunhiu, exausto após Luanna se esquivar de mais um forte ataque, Karsten viu um lampejo de um meio sorriso no rosto de Luanna, conforme ela começou a atacar.
O ex-soldado tinha muitos problemas para parar os inúmeros e intensos ataques de Luanna. Estava cansado demais e era lento demais. Até que, Luanna, com um giro gracioso, se livrou das lâminas, acertou-lhe um forte golpe na panturrilha, que fez o homem perder o equilíbrio e cair sobre um joelho. Antes que Thomas pudesse fazer qualquer coisa, a jovem assassina posicionou as espadas em frente à garganta do ex-soldado.
Karsten vibrou e gritou euforicamente com a vitória, ousando olhar para o pai que fervilhava em ódio.
Luanna saiu do ringue de luta e foi recebida por um abraço forte de Karsten.
- Eu sabia que conseguiria.
FelipeTheWriter – espero que tenham gostado.Não se esqueça de votar! :)
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O Conto dos 5 Reinos - As Crônicas das Ilhas
FantasyKarsten é um assassino de West Islands. Assombrado por uma infância onde o pai tinha apenas a intenção de transformá-lo em uma arma. Ele apenas quer viver uma vida tranquila e pacífica. Aiden é um príncipe de Cold Islands. Oprimido pelos irmãos e pe...