Capítulo 10: O mapa

13 7 1
                                    

- Os reis estão levando mais escravos do que nunca, é ótimo para os negócios, porém mal consigo repor o abastecimento. Os reis estão se tornando cada vez mais estranhos, mais frios e tiranos. Não tenho ideia do que está acontecendo. – Zohinj identificou Nian Waymar como o homem alto, de cabelos grisalhos e um rosto duro e frio. – Me reuni esta semana com o Rei Thandor das Volcano Islands, estava com uma aparência diferente, ameaçou a tomar a fortaleza caso não lhe conseguisse os escravos rapidamente, consegui me virar como pude para atrasá-lo.

O segundo homem, Zohinj identificou como o filho mais velho de Nian, que parecia uma versão mais jovem do comerciante de escravos.

- Precisamos de mais expedições para capturar escravos em Ownerless Lands, são um tanto rebeldes, mas dão ótimos números. – sugeriu Lens Waymar.

- Ainda assim, não seria suficiente. Precisamos mais que capturar, criar mais escravos. Há várias crianças de rua por todas as cidades e vilarejos de Mahusay Saaristo, precisamos de alguns homens para observar as crianças de rua e para persuadi-las a serem capturadas.

Zohinj sentiu seu coração parar. Bile subiu à garganta conforme a ânsia que o assassino sentia. O ódio fervilhava em seu sangue, aqueles homens morreriam, mereciam morrer, falavam de vidas como se fossem objetos, mercadorias, compelir crianças a caírem em suas armadilhas...
Aquilo merecia acabar, teria que acabar. Todos sabiam que Movrahlk não queria impedir o comércio de escravos e sim tomar o controle, mas Zohinj podia persuadir Karsten...

O assassino percebeu movimentações atrás de si, virou-se e foi investigar. A iluminação do local era péssima. Zohinj não via mais que sombras e silhuetas que marcavam o local como um grande túnel esquecido, ou talvez uma rota de fuga para os Waymar, em caso de cerco.
Sentiu o ar pesado do local e o desconforto com a escuridão, da qual seus olhos não se ajustavam não se via nada além das escadas que levavam de volta ao alçapão escondido da sala de Nian. Aquele lugar parecia errado, o desconforto das sombras não era normal, não se via nada além de sombras e não se sentia outro cheiro a não ser poeira e um cheiro mais distante, diferente, maligno e ruim. Pareciam os cheiros que os exércitos dos deuses da morte exalavam nas histórias que sua vó lhe contava na infância.

Ouviu o ressoar de asas batendo, se aproximando. O assassino deu um passo atrás e tentou identificar o som. Algo não muito grande, pela forma que as asas batiam de uma maneira rápida e inconstante. Zohinj deu outro passo atrás, viu uma sombra de uma grande mariposa passar diante de seus olhos naquele resquício de luz, em seu voo inconstante e pesado. O único resquício de vida naquele lugar pútrido e antigo que lhe fazia lembrar-se daquele labirinto onde Movrahlk os testara. Outro sádico nojento. Karsten também deveria acabar com ele, por tudo que fazia a nós e ao nosso grupo o chefe dos assassinos merecia pagar por todas as atrocidades que já fizera e que ainda faria ao conquistar Tomorrow Islands
Zohinj sentiu que algo estava estranho naquele local. O assassino decidiu subir as escadas de volta, rezando para que os Waymar já tivessem saído. Chegou ao alçapão e olhou entre as frestas da madeira. O lugar estava silencioso e vazio.

Empurrou a porta do alçapão e entrou de volta no grande quarto redondo. Os mapas ainda estavam sob a mesa, embaixo de alguns papéis e documentos sobre vendas jogados. Para senhor de um negócio tão sujo, Nian era bem organizado.

O assassino encontrou uma folha de papel em branco e começou a copiar o mapa da fortaleza de Nian Waymar.

---

Karsten caminhava pela fortaleza, sempre às sombras, sempre escondido dos guardas até à antiga ferraria do castelo, quanto mais explorava, menos guardas patrulhavam e cuidavam daquela região, uma vantagem perigosa. O jovem assassino chegou à porta de metal que separava a ferraria do pátio principal aberto, as pedras escuras marcavam o local onde eram criadas as armas e as correntes dos escravos. Karsten já estava farto das que prendiam suas pernas uma na outra, o que dificultava muito o andar. Pelo menos não era como alguns outros escravos que eram literalmente acorrentados uns aos outros. Os únicos que não usavam correntes eram os faxineiros, por isso, pediu a Zohinj que bisbilhotasse, ele não emitiria nenhum ruído.

O assassino empurrou a grande porta metálica que emitiu um ruído alto o bastante para acordar os mortos, rezou para que ninguém percebesse.

Karsten observou, no meio dos grandes fornos empoeirados e inutilizados há décadas o guarda. – Rauh – um jovem guarda de cabelos castanhos e uma aparência relativamente comum, não fosse pela longa espada cujo metal era apenas produzido e trabalhado em castelos e propriedades ricas. Talvez a família do guarda se enquadrasse em um destes aspectos.

Rauh deu um sorriso ao ver Karsten. O assassino não retribuiu, apenas encarou, de braços cruzados o guarda sorridente.
Poderia ser uma armadilha. Alguma sabotagem. Karsten não descartou esta possibilidade não possuía armas, mas aquela ferraria ainda possuía algumas peças metálicas que podiam dar algum trabalho a Rauh.

- Achei que não viria. Um plano realmente louco este seu, uma história digna de canções se der certo. – um meio sorriso chegou aos lábios do guarda – ficarei feliz em ajudar a acabar com este negócio sujo.

Isto não acabará. Só trocará o proprietário. Quase respondeu Karsten, mas se manteve quieto.

- Precisarei de armas. O suficiente para o meu pessoal e para os escravos que se rebelarem, posso contar com seu silêncio e sua ajuda?

- E se eu disser que não?
Antes que pudesse continuar uma grande barra de ferro estava apontada em sua direção.

- Desaconselharia isto. – respondeu Karsten, com um sorriso sombrio nos lábios.

Rauh também puxou a espada.

- Você não está em uma posição de grande vantagem aqui.

- Já matei um homem em uma situação parecida, creio que eu adoraria ficar com esta espada depois que eu acabasse com você.

O guarda gargalhou.

- Certamente este é você, ganharei uma boa recompensa ao te ajudar. Armarei seu pessoal, mas não garanto um equipamento de ponta, não vou poder sair pegando as principais espadas e machados sem chamar muita atenção.
- De toda forma, serve. Posso ser letal com metal barato também. – Karsten respondeu com um sorriso. – é melhor dar o fora daqui assim que me conseguir as armas. Me encontre na capital de West Islands, seu pagamento estará lá.

O guarda assentiu e Karsten deixou as antigas forjas e voltou ao trabalho. Iounnes tinha dado conta de muita coisa sozinho que fez com que os fiscais mal percebessem a ausência de Karsten.
Os assassinos carregaram caixas pelo dia todo, notaram a presença dos homens que foram açoitados no dia anterior. Ferimentos marcavam as costas dos rapazes em cores vivas de vermelho. Karsten ainda ouvia os gritos dos rapazes quando passaram o sal grosso por suas feridas, uma prática de tortura aparentemente comum por ali.

Os dois rapazes carregavam caixas pesadas de madeira que eram colocadas no portão da fortaleza. Os guardas e fiscais não confiavam que eles saíssem para as docas. Movimento inteligente.
Houve uma troca de turno, assim que Karsten se certificou que ninguém estava observando, se aproximou dos rapazes de Ownerless Lands.

- São todos tiranos. Tiram-nos de nossas casas, nossas famílias para trabalhar forçadamente, sem ter a opção de decidirmos nossos destinos...

- Eles nos vendem como mercadorias. Como se fôssemos descartáveis. Isso não é certo, alguém deveria acabar com isso. – disse um dos jovens, os cabelos negros como ônix caindo sobre os ombros e sobre as costas feridas.

- Vamos acabar com isto então, vamos tomar este lugar junte se a nós e acabaremos com Nian Waymar. – disse Karsten em voz baixa, quase um sussurro para que ninguém pudesse ouvir. Os homens trocaram olhares frios e assentiram em concordância.

- Certo, consiga convencer mais pessoas. Eu o manterei informado sobre o ataque em breve.

O jovem assassino teve sorte. Jogou corretamente e recrutou dois para sua causa precisava que os outros assassinos também recrutassem pessoas para sua causa. O caos faria toda a diferença naquele plano. Enquanto os guardas estivessem tentando controlar a rebelião, Karsten poderia se esgueirar para a torre de Nian Waymar sem ser visto.

---

O dia passou tão rápido quanto um raio corta o céu em uma tempestade. O jovem assassino suava da cabeça aos pés, estava precisando de um banho. É claro que os escravos não tinham acesso às luxuosas banheiras que os nobres de Central Islands possuíam e ostentavam. Havia um tempo depois da chamada diária para os escravos que se “destacaram” em serviço ter sua última refeição. Havia um pequeno poço perto da antiga ferraria onde poderia sair e banhar-se sem chamar grandes atenções.

Iounnes o acompanhou até o pátio principal onde fiscais e escravos já se reuniam. A chamada seria mais breve que a anterior, não tinham chegado novos compradores de escravos.

Os fiscais falaram, um a um sobre os serviços até que uma coisa inusitada aconteceu.

Enquanto o fiscal da cozinha relatava os serviços, até que foi interrompido pela escrava que era responsável pelo monitoramento de serviços.

- Eu gostaria de relatar o fato de uma garotinha arrogante que se recusou a fazer os serviços.

Henz Waymar a olhou perplexo.

- Quem é você? Uma escrava tem direito a opinar enquanto um fiscal fala durante a chamada? Se fosse comprada faria isto ao seu mestre?

- Sou Jenna, meu lorde, fui ordenada a monitorar os serviços da cozinha, gostaria de relatar que uma escrava se recusou a trabalhar no dia de hoje Amy, o nome dela. Já foi açoitada uma vez, mas parece que não aprendeu muito bem a lição.

- Então eu deveria açoitar as duas – respondeu Henz Waymar rispidamente. – uma por se recusar a trabalhar e a outra por insolência ao seu superior.

Jenna ficou calada por um tempo antes de falar:

- Ela ainda foi encoberta por uma vadiazinha novata que se rebelou sob minhas ordens. Ela me ameaçou... – Jenna baixou a cabeça como se estivesse abatida. – só estou contando a vocês por medo d-do que podem me fazer.
Henz dirigiu um olhar duro e frio a Jenna e depois para os escravos. Tragam-me Amy e a garota que a ajudou.

@FelipeTheWriter – espero que tenham gostado 

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jul 21, 2019 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

O Conto dos 5 Reinos - As Crônicas das IlhasOnde histórias criam vida. Descubra agora