Capítulo 7: A Viagem

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O alvorecer chegou assim que Karsten entrou no barco. O orvalho da madrugada obrigou Karsten a vestir um sobretudo ébano sob suas roupas. O capitão gritava ordens para os marinheiros e tripulantes, o navio iria zarpar em 15 minutos.

Os assassinos estavam todos no barco. Karsten fez um sinal para que descessem para explicar-lhes o plano.

- O capitão irá nos vender como escravos para Nian Waymar, estaremos juntos de alguns outros escravos que supostamente também serão vendidos, mas não importa, serão libertos. O capitão é um contratado meu e estará encarregado de tornar um guarda à nossa causa pela quantidade de ouro necessária. – Karsten olhou para todos os assassinos reunidos, inclusive os de Ashin, que todos sabiam que eram espiões, mas deveriam estar informados para que o plano corresse bem. – teremos duas semanas para assassinar Waymar e pretendo libertar os escravos.

- Como faremos isso? – indagou Luanna, com brilho nos olhos.

E Karsten explicou. Ao terminar, subiu no convés do grande barco e observou a paisagem.

As belas e verdes montanhas que compunham a maior parte do território de West Islands. O nascer do sol deixava a água em tonalidades de laranja e amarelo. A luz chegava às folhas molhadas pelo orvalho, fazendo com que ficassem brilhantes como joias belas e preciosas, um cenário digno de uma divindade.
Se tudo corresse bem, chegariam à fortaleza de Nian em sete dias e se infiltrariam em mais dois.

O jovem assassino tornou a descer as escadas e se dirigiu ao pequeno quarto que chamava de seus aposentos, mas na verdade era uma despensa, abriu a porta de madeira e entrou. O filhote de lobo que ele havia batizado de Sopro da Noite veio em sua direção, abanando a cauda. Karsten acariciou o pequeno animal atrás das orelhas e pegou petiscos de carne e deu ao pequeno animal, que comeu com ferocidade.

Karsten pegou um livro que estava em cima de uma caixa de laranjas e Sopro da Noite se aninhou entre suas pernas e se colocou a dormir. O jovem assassino começou a ler o grande volume, que o prendeu durante horas, só parou de ler para comer o bom ensopado de peixe no almoço.

Luanna estava contemplando a beleza marítima. O barco balançava levemente sobre as ondas das águas azuis demais de West Islands. Pequenas ilhas cheias de árvores marcavam a paisagem da região que se chamava Baía das Montanhas.

O barco não era exatamente rápido, nem tão grande, mas se passaria como um comerciante de escravos e podia se defender de possíveis ataques de piratas.

Ao outro lado do barco Iounnes se sentia enjoado. Colocara todo o café da manhã pra fora e ainda sentia ânsia. Zohinj e Quelinon jogavam cartas junto com alguns marinheiros do capitão Ounner. A viagem se seguiria desta forma até que ficassem próximos à fortaleza de Nian Waymar em Volcano Islands.

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Os dias iam se passando e a vegetação das ilhas iam ficando mais densa e verde conforme se aproximavam de Volcano Islands as chuvas iam ficando frequentes e o clima ia ficando cada vez mais úmido. Estavam a um dia de viagem da ilha de Nian Waymar segundo Ounner, então entraram em seus disfarces de escravos. Acorrentados e cabisbaixos os assassinos esperaram o grande barco atracar na ilha.

As águas calmas e cristalinas da baía de Ashlands brilhavam com a luz do Sol quente. A brisa primaveril úmida açoitava os rostos dos assassinos e fazia com que as roupas esfarrapadas oscilassem com o sopro do vento. A fortaleza erguia-se por entre as grandes árvores tropicais como um gigante de pedra. Nian Waymar tinha lucrado o suficiente com as vendas de escravos em Tomorrow Islands, Waymar era um homem com dias contados.

O guarda da fortaleza se aproximou do barco e perguntou diretamente ao capitão:

- Quem é você e de onde são os escravos? – disse o mal-humorado guarda da fortaleza.

- Sou Ounner de West Islands. Trouxe escravos para Lorde Nian por um ótimo preço. – respondeu o capitão.

- De onde eles são? Precisarei marcá-los e definir um preço.

- São de grande parte, da própria West Islands, pessoas que deviam à mim, certamente não farão mais dívidas. – o capitão Ounner sorriu, olhando para o guarda de rosto frio e cansado.

- Certo, compro todos seus escravos por duas moedas de ouro. Já entrarão hoje para a fortaleza, onde serão definidas as funções até o dia da venda.

Acorrentados e com roupas esfarrapadas, Karsten e os assassinos foram puxados para fora do barco aos empurrões e bofetadas. Mantendo sempre os rostos baixos e devastados, como se tivessem perdido tudo, como se não tivessem dignidade da vida.

Os portões da fortaleza ergueram-se. As muralhas de pedras escuras pareciam roubar a luz, deixando o lugar com uma aparência escura e sombria. Os outros escravos trabalhavam, seja limpando o chão ou carregando mercadorias. Todos acorrentados à grilhões que tilintavam ao andar, fazendo ruídos metálicos que não contrastavam com o silêncio e tristeza nos olhos dos muitos escravos. Guardas estavam posicionados aos arredores do pátio da fortaleza, como estátuas sob armaduras metálicas.

O guarda que os trouxera lhes entregou a outro dizendo:

- Caruzzo. Leve estes para serem marcados, depois lhes dê as boas vindas antes de designar as funções.

Caruzzo assentiu e puxou as correntes. As iam passando rapidamente ao forte puxão do silencioso guarda de Nian. O grande homem só abria a boca para rosnar ordens rápidas.

Os escravos chegaram à uma grande sala de pedra. O local estava abafado e seco, o chão e as paredes estavam marcadas com sangue velho e escuro. Equipamentos e agulhas para tatuagem estavam encostadas sob a parede, eles seriam eternamente marcados como escravos.
Karsten foi o primeiro. Caruzzo desatou suas correntes, o despiu e tornou a prendê-lo na parede.

- Para um escravo você parece em boas condições. – disse avaliando os músculos e o tamanho do corpo de Karsten. Vou marcá-lo no peitoral, ficará tempo suficiente sem camisa para que todos vejam.

Karsten estava aterrorizado e devastado. Ele seria marcado para sempre. Quem olhasse sua tatuagem de serpente de fogo saberia que havia sido escravo, quem o visse o julgaria e saberia de sua vergonha, não teria moral.

Os outros assassinos passaram pelo mesmo processo, silenciosos, sem objeção alguma. Luanna tinha recebido a marca na cintura. Iounnes foi marcado na barriga. Zohinj e Quelinon foram tatuados na perna.

Os novos escravos receberam roupas novas. Karsten evitava a olhar Luanna, nua, os belos cabelos escuros brilhando na altura de seus seios. O jovem assassino não deveria ficar olhando, desconcertado. Não era a primeira vez que tinha visto uma mulher nua, mas havia algo nas curvas de Luanna que o fazia olhar intensamente. A garota percebeu e corou, Karsten também, vestiram rapidamente as roupas e se apresentaram novamente à Caruzzo.


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As funções tinham sido divididas. Karsten e Iounnes seriam encarregados de carregar as mercadorias e suprimento para os navios. Luanna iria para as cozinhas. Caruzzo havia caçoado dela, dizendo que uma garotinha bela deveria ter outros fins, mas estavam faltando pessoas para cozinhar. Zohinj ajudaria a limpar a fortaleza e Quelinon estava encarregado de cortar lenha. Os assassinos de Ashin seriam servos gerais.

Aquilo facilitaria o plano. Agora só precisavam encontrar o guarda corrupto e colocar o plano em prática.

@FelipeTheWriter – espero que tenham gostado! Não se esqueçam de votar e comentar! 

O Conto dos 5 Reinos - As Crônicas das IlhasOnde histórias criam vida. Descubra agora