Observação era a chave. Karsten aprendeu a ver com atenção. Em dois dias o assassino já conhecia grande parte dos guardas e os horários de seus turnos. Os dias eram quentes e úmidos. Karsten e Iounnes terminavam o dia sempre ofegantes e suados com os trabalhos.
Os assassinos precisavam de um sinal. Algum guarda que o capitão Ounner havia comprado para sua causa. Werner parecia um guarda que poderia ser comprado, o homem saía da fortaleza diversas vezes ao dia e estava sempre sorrindo.
O trabalho era desgastante e a comida era terrível. Em sua grande maioria era servido mingau de aveia às manhãs e um horrível ensopado de legumes com carne de sabem os deuses o que ao anoitecer. Era o único momento em que podia ver Luanna durante o dia, era ela quem servia os “deliciosos” pratos para os escravos nas duas refeições diárias.
Karsten passava a maior parte do tempo de mau humor. Nian morreria o mais rápido possível. O jovem assassino estava extremamente aborrecido com a marca que lhe tinham feito, mas não podia perder o disfarce... estava sempre cabisbaixo, não olhava ninguém aos olhos, evitava os guardas e quase não falava com os membros de seu grupo.
O crepúsculo chegava ao fim da tarde. As muitas cores em tons vermelhos, alaranjados e azuis estavam espalhados no céu pareciam uma bela pintura que os artistas de Volcano Islands exibiam na capital. A luz do sol chegava ao rosto cansado e suado de Karsten deixando as feições do assassino em um tom de laranja-brilhante.
Iounnes tinha perdido a conta de quantas caixas já havia carregado naquele dia. Esperava ter cumprido a meta, escravos que não completavam a cota diária de trabalho eram açoitados publicamente. O sol ia se pondo e os guardas começavam a reunir todos os escravos de Nian para a “Chamada” diária.
O pátio principal estava lotado de escravos, guardas e comerciantes menores, que levariam os escravos de Waymar para seus respectivos compradores. Iounnes parou ao seu lado, como sempre havia sido treinado a fazer, não possuía arma, mas conseguia ser letal mesmo assim.
Henz Waymar, filho mais velho de Nian Waymar e intendente chefe do castelo subiu à grande plataforma de pedra e começou a falar:
- Passa-se mais um dia e peço para que se aproximem os guardas fiscais dos trabalhos dos escravos. Espero não ter de açoitar tantos hoje. – Henz Waymar tinha a voz gutural e alta, que fez Karsten se lembrar das descrições de vozes dos antigos comandantes de batalha que lia nos muitos livros que pegava na biblioteca da capital de West Islands. O intendente sorriu antes de continuar – este ano será realmente lucrativo para nossos negócios, por isso preciso que vocês trabalhem duro, preciso de escravos que demonstrem serviço para os clientes, por isso as punições serão um tanto mais... severas, não tolerarei escravos fracos e preguiçosos.
Os fiscais se aproximavam da grande plataforma de apresentação em seus diferentes uniformes em tons azuis, vermelhos e amarelos, as mãos sempre próximas à bainha da espada para o caso do início de alguma rebelião.
Os fiscais responsáveis pela cozinha foram os primeiros a se apresentar. E enquanto falavam dos números do serviço diário Karsten reparou na presença de vários guardas oficiais, vestidos em cota de malha e armaduras ornamentadas com o símbolo do abutre gigante dos Waymar entre os escravos, carregando as longas espadas que os guardas costumavam usar.
Apenas uma mulher, escrava da cozinha foi levada aos postes de açoitamento pelos péssimos serviços. O guarda a empurrava entre a multidão reunida, a mulher gritava e chorava aos trancos e empurrões do grande guarda. Assim que este a amarrou contra o poste de açoitamento, os discursos continuaram.
Os fiscais do trabalho de carregamento de mercadorias começaram a discursar. O sol ia se pondo, deixando o ambiente cada vez mais escuros, insetos vinham aos enxames como abutres sob uma carcaça. Um guarda se posicionou ao lado de Karsten de uma maneira que o assassino quase não conseguiu identificar. O homem usava cota de malha e uma longa espada, provavelmente uma herança de família.
O fiscal de estatura baixa, com os cabelos parecendo mel em tons de amarelo-brilhante disse os nomes. Três jovens altos de Ownerless Lands que tinham se recusado a fazer qualquer tipo de trabalho forçado. Eram muitos do povo miserável e pobre de Ownerless Lands que eram escravizados deliberadamente, desde que o antigo reino deles caiu em uma guerra a 50 anos atrás. O antigo reino que se chamava Holkergrass foi completamente destruído – mesmo com seus lendários guerreiros que se proclamavam Bárbaros de Sangue – quando tentaram invadir e tomar Tomorrow Islands em saque. Os três jovens teriam um “tratamento especial” dissera Henz Waymar ao público.
- Rauh! Será você quem tratará destes três “nobres convidados que temos” – O guarda que estava ao lado de Karsten se moveu e, quase imperceptivelmente deixou algo no bolso do jovem assassino. Karsten fingiu indiferença, mas olhou para o rosto do guarda, tentando memorizar as feições do homem que Ounner havia comprado.
Iounnes estava tenso, enrijecido em seu lugar, ele também havia percebido o movimento dos guardas, mas os jovens assassinos não podiam levantar suspeitas então permaneceram calados e cabisbaixos, prestando atenção nos discursos de trabalhos ridículos dos fiscais.
Os assassinos tinham de ficar tranquilos, frios e serenos para não chamarem atenção demais, estavam pisando em ovos desde que atravessaram as portas da fortaleza. Não tinham visto Nian Waymar em lugar algum, não perguntavam muito, mas aos que perguntavam, nenhum sabia responder. – movimento interessante de Nian – pensou Karsten, se os escravos não soubessem aonde ficava Lorde Waymar, seria difícil assassiná-lo. Teriam de ser cuidadosos também com isso.
A ansiedade de Karsten fez com que o tempo se passasse rapidamente a partir daquele momento. Mal percebeu quando os escravos estavam todos indo embora e a lua já estava no céu. Os pobres escravos com rostos abatidos e tristes que estavam amarrados aos postes de açoitamento olhavam para Karsten, que tentou memorizar bem seus rostos, pois aquilo podia ser útil para seu plano.
Iounnes seguiu Karsten pelo caminho de volta às celas dos escravos. Os corredores estavam escuros e fazia calor. Um guarda abriu o portão, a cela abafada e seca cheirava a suor e dejetos quando os assassinos entraram. Luanna já estava lá, Zohinj e Quelinon também. Yussuf e Ward chegaram depois.
Karsten tocou o pedaço de papel áspero e a moeda que estavam em seu bolso e se perguntou em como mostraria o papel a todos os assassinos presentes. Dirigiu-se ao canto da sala e com agilidade pegou o papel em mãos e viu o que estava escrito.
"Queime este papel ao terminar de ler. Nian Waymar
está alocado no topo da torre principal, apenas
criados de cozinha e pouquíssimos da limpeza tem
acesso. Você pode me encontrar nos fundos da fortaleza
perto da ferraria, posso lhes fornecer alguns equipamentos
interessantes. Deixe a moeda para poder te identificar – atenciosamente, alguém anônimo."
O assassino compartilhou o papel com os outros assassinos de maneira sutil e refletiu sobre as palavras, preparando um plano para encontrar o guarda que os equiparia.
Karsten se dirigiu ao monte de feno que chamavam de cama e se deitou, tentando com afinco dormir logo, pois o terceiro dia na fortaleza de Nian Waymar seria empolgante, no mínimo.
@FelipeTheWriter
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O Conto dos 5 Reinos - As Crônicas das Ilhas
FantasyKarsten é um assassino de West Islands. Assombrado por uma infância onde o pai tinha apenas a intenção de transformá-lo em uma arma. Ele apenas quer viver uma vida tranquila e pacífica. Aiden é um príncipe de Cold Islands. Oprimido pelos irmãos e pe...