47 - Milena.

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*ALERTA GATILHO: A cena a seguir contém relatos de depressão.

Perder alguém que você ama não se compara com nenhuma dor do mundo, essa dor não tem cura, essa dor não passa por mais que você tente tirar ela do peito. 

Eu não aguento mais essa coisa dentro de mim, ela me acompanha em cada passo meu, por mais que eu tente ignorar, ela não me larga.

Eu vivi metade da minha vida sem o meu Pai, eu vive minha adolescência sabendo quem Ele era, de certa forma, Ele nunca deixou de se fazer presente de alguma forma, por mais que Ele tenha conseguido, nem teve tempo se preencher o buraquinho que havia deixado em meu coração nesses anos todos em que eu senti falta da sua presença, Ele ainda era meu pai, por mais distante e falho que Ele fosse, eu nunca pensei que perde-lo me doeria tanto. 

Já faz uma semana, talvez mais que três, eu não fui ao enterro, não pude ir, não sei, eu não tenho mais vida e nada faz mais sentido pra mim, a falta da minha mãe tem uma parcela grande  nisso tudo, eu só tomo banho e durmo, ando tão acabada, magra e com uma tristeza sem fim.

A minha mãe liga com frequência agora, ela está com a minha vó e prometeu que viria me buscar quando resolvesse tudo, mas resolver o que?  Meu pai está morto, não tem mais tráfico, o que ainda está pendente?

Eu sentia falta das minhas amigas, me sentia pressa a essa bolha em que criaram a minha volta, eu sinto falta da minha vida.

O Luan comprou outro celular pra mim, mas era tudo com cautela, nada podia ser exposto.

— Quer dar um rolê? — Luan entrou no quarto sem camisa

— Acho que vou dormir um pouco — Ele negou com a cabeça me olhando

— Tu passou a tarde dormindo, levanta vai — se aproximou — Anda, loira — puxou a minha coberta me fazendo bufar

— Você é insuportável — reclamei fazendo ele rir

— Levanta ou eu te pego no colo e te jogo na piscina — revirei os olhos levantando

O Luan tava sendo muito bom pra mim, se não fosse ele as coisas estariam bem piores. Me arrumei, depois de tantos dias eu estava me sentindo bonita.

Desci e quando cheguei na sala o Luan já estava pronto e cheiroso, como sempre.

— Vamos? — chamei a atenção dele

— Que isso em! Com uma gata dessa do lado vou ter que andar de fuzil — riu me olhando

— Ah se manca — desconversei sem graça abrindo a porta

— Ih, fica vermelhinha não, toda cheia de vergonha — me abraçou por trás beijando a minha bochecha

— Luan..— tentei me afastar ao sentir ele beijar minha nuca, me causando arrepios

— Porra, muito cheirosa — falou abafado me fazendo rir

— Que carência é essa em? — falei quando ele se afastou destravado o carro

— Tô afim de comer comidinha de viado hoje não — abriu a porta pra mim

— Por isso tá cheio de amores pro meu lado né? Falso — impliquei mexendo no som do carro

— Que isso, princesa, eu sou só amores por você, tu que não me dá condição — falou rindo, aquele sorriso que me desmonta  

— Quem vê até pensa mesmo — falei escutando uma risadinha dele

Ainda é cedo, vai dar 21h, nós estacionamos e caminhamos pela orla, eu estou esse tempo todo aqui e não tinha vindo à praia ainda, paramos em um barzinho e o Luan  pediu logo uma cerveja, óbvio, já eu quis um suco.

— Nossa que frio — reclamei sentindo a brisa gelada

— Num tô sentindo nada — Luan olhou para algo no celular e riu

— Problema é seu — impliquei fazendo ele me olhar

— Tu tá cheia de marra né? Acabo com essa marra toda aí em dois segundo — apoiou a mão na mesa, me olhando sério

Gargalhei — Ah é? Como? — debochei me debruçando na mesa e mordi o lábio inferior dando um sorriso

— Garota, não fica dando esses sorrisinhos pra mim não — avisou aproximando o rosto do meu, meu estômago pulou, aí droga

— Tá se sentindo intimidado por um sorriso, LN? — provoquei, nossos olhares conversando entre si

— Não provoca se não for sustentar depois — falou relaxando na cadeira, ri bebendo um gole do meu suco

— Você sabe que eu sustento — desviei o olhar vendo ele se apoiar na mesa, ficando com o rosto bem próximo do meu

— Sustenta, sustenta pra caralho, fode como ninguém — falou baixo só pra mim ouvir, a sensação conhecida já estava ali — Perdeu a língua? —  provocou voltando posição normal

Eu nada falei, nem precisava né, o Luan é bem direto quando quer e sabe bem em como atingir a outra pessoa.

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Olhares - Livro 1.Onde histórias criam vida. Descubra agora