17 - Luan.

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Sextou? sextou o caralho, favela tá puro terror, nem baile vai ter, tive nem tempo de comer, o caverão tá na entrada do morro desde 7h da manhã e já são 14h da tarde e nada deles subirem, a entrada da favela tá tampada de polícia, ninguém entra e ninguém desce.

— Bala neles ou espera eles subirem? qual foi Martins não fala nada porra, vai deixar esses caras subirem assim porra? — GB disse puto arrumando o fuzil

— Até agora não falou qual vai ser do esquema, eles vão subir vai tá geral despreparado, Diniz sumiu menor, Martins não passa um rádio — FB levantou pegando o binóculo pra olhar a entrada da favela pela milésima vez

— Relaxa po, tá com medo? se eles subirem vai ser a mesma trocação de sempre, tem ninguém despreparado aqui não, tá geral ligadão que os caras tão aí, vocês tão muito nervosinhas  — falei relaxando na cadeira.

Eu já sei do esquema, Diniz tá resolvendo o problema que ele arrumou com o Martins, só tô  esperando o aviso do chefe.

— Tu tá muito tranquilo po, que porra é essa? comeu quem pra tá assim? — Maycon zoou, ri negando com a cabeça, me negando a falar qualquer coisa, se eles soubessem

Desce geral da lage, eles vão subir e quem vai bater de frente com eles lá em baixo vai ser o Diniz, ninguém troca tiro até o Diniz dá o primeiro pipoco, quero ele cara a cara com o caveirão — A voz do Martins soou no rádio do GB

Então ele botou o cara pra bater de frente sozinho com os caras? Cara a cara com o caverao não ia sobrar nem osso contar história.

Desceu geral para se posicionar em seus devidos esconderijos, os moleques não estavam entendendo nada, alguns tava até com medo pelo Diniz, mas o cara traiu, agiu de má fé, só os de fé sabem dessa história.

Martins tá até sendo generoso com ele, já tá geral concentrado,  alguns fazendo suas orações.

A primeira rajada soou longe, pistola, não deu nem dois minutos pra bala cantar, se é possível, tem alguém dentro da casa ao meu lado, e esse alguém não é um dos meus.

Olhei pro Maycon fazendo sinal de silêncio, mas  moleque se desesperou quando viu a cara do PM pela janela e saiu atirando apavorado, só deu tempo de se jogar no chão, e ver as balas voando por cima de mim.

— Me balearam LN, caralho irmão — gritou com a mão por cima da barriga ensanguentada, a camisa azul, cheia de sangue

Arrastei ele pelos becos, pelo braço, ele meio se arrastando, encontrando o Vitinho abaixado, fomos subindo com o Maycon cada vez mais desacordado. 

O tiroteio ainda não tinha parado, longe disso, entrei dentro de casa desesperado com o Maycon nos braços, Luana tava orando na sala, me olhou chorando.

— Me ajuda, ele tá ferido Luana — ela continuo parada, parecia que tava congelada, os olhos arregalados, nervosa — Reage, porra — gritei botando ele no sofá

Ela correu para pegar os kits de primeiro socorros que ela tinha em casa, eu e Vitinho partimos de volta pro ataque.

Botei a mão no braço sentindo a ardência forte, tomei um de raspão, pressionei o braço e olhei pra frente, o filho da puta não tava longe dali, o tiro quase no meu peito, mas eu me virei rápido, dei uma rajada pra cima e escutei o barulho da bota pisar forte no chão.

— Perdeu, bota o fuzil no chão e a mão na cabeça — me virei rindo, a mão tremendo parecendo até ter parkinson — Bora, porra, tu tá preso! — gritou nervoso

— Perdi, porra, calma, tá nervosa? — zombei ameaçando botar o fuzil no chão e apontando em direção à perna dele e larguei o dedo

Eu não vou matar ele, mas não vou dar a chance dele me matar, ele caiu gritando no chão e eu meti o pé correndo encontrando FB e uns outros em cima da lage.

Foi papo de 2 horas de tiroteio sem parar, uns deles caídos, mas sem mortes, só ferimento.

Diniz? nem osso pra contar história, a nossa batalha tava ganha, mas que eles haviam subido para tomar, isso era fato.

O Maycon tava em um lugar que nós se cuida quando tá ferido aqui dentro da favela, já tava acordado, e a bala retirada, logo logo o menor tá na pista de novo, novinho em folha.

— Tu tá ferido porra — Luana disse nervosa quando eu entrei dentro de casa

— Calma, eu tô bem — tentei acalmar ela

Ela fez um curativo e eu fui tomar um banho depois dela me dar o mesmo sermão de sempre, eu to precisando relaxar, tô tenso pra caralho ainda.

Deitei e desbloqueio o celular indo direto pro wpp e clicando no contato da Milena, tem papo de umas 12 mensagens dela e mais algumas de uma galera que eu não dei muita atenção.

Mensagem de Milena Martins 🧚🏻‍♀️
Que tiros são esses???? - 14:22
Luan, responde - 14:24
Muito tiro, que Deus guarde vcs😩😭😭 - 14:30
Tô com o coração apertado - 15:00
Você tá bem? assim que ver me responde, por favor - 15:00
morrendo de preocupação - 15:40
Meu pai veio aqui, ele tá bem, mas tu não dá sinal de vida 🤬🤬 - 16:34

Eu ri, ver ela preocupadinha assim chegava a ser engraçado já que ela quase sempre tá discutindo comigo, e depois de ontem a gente quase não se falamos, eu nem tive tempo de pegar no celular hoje.

Mensagem de Luan 🤑🏍: to ferido mas passo bem 🤒

Mensagem de Milena Martins 🧚🏻‍♀️
O que?
Aonde vc mora?
Eu vou pedir para um dos meninos me levar aí
Tá ferido aonde? pqp

Gargalhei, deixei ela no vácuo e me arrumei pra ir lá, nem que fosse pra ver ela só da janela, eu quero ver ela.

Tá tudo tranquilo na favela, já retiram os feridos, mas não vai rolar o baile, provavelmente fora até um pagodinho mais tarde pra tirar esse clima pesado.

Estacionei e os meninos já vieram tudo falar comigo, uns preocupados, outros na empolgação de falar como foi a trocação, marquei dali fumando com eles e lembrei de mandar mensagem pra ela.

Mensagem de Luan 🤑🏍: aparece aí no portão

Mensagem de Milena Martins 🧚🏻‍♀️: vc tá aqui?

Mensagem de Luan 🤑🏍: aham, mas da uma disfarçada.

Mandei, ela visualizou e não respondeu, não posso dar mole né? Qualquer um aqui daria minha cabeça pra ter a moral que eu tenho com o pai dela, a gente ri mas ri desconfiando.

*Não esqueça seu fav e seu comentário.

Olhares - Livro 1.Onde histórias criam vida. Descubra agora