Viva Indifference

Drowning our love to save it from the fires

"Você o quê!?"

Embora a voz dela estivesse bem mais alta do que era agradável, não havia força ou irritação em seu tom. A moça parecia incrédula e sem chão, dando ao namorado ainda mais certeza de que aquilo tudo era um erro.

- Eu vou repetir com outras palavras, tá? Não me entenda errado, Lynz, por favor... - Gerard tentava transparecer o mais calmo e controlado o possível. Sabia que se demonstrasse qualquer tipo de incerteza, ela iria entender ainda mais abobrinha. - Eu sempre me vi bissexual, okay? Você deve se lembrar, eu falei sobre isso antes. Eu fui sim atraído por você, eu nem seria capaz de mentir sobre isso! Eu tenho um carinho gigante por você e poxa, eu amo você Lindsay, você é a pessoa mais importante da minha vida, eu não quero perder você por motivo algum, mas o nosso relacionamento é baseado em honestidade, não é? Não foi isso que a gente prometeu, no começo e nesses anos todos? Então estou sendo honesto com você, porque eu percebi que você começou a achar que o problema é você, e não é Lynz, eu só...

- Só não gosta mais da minha fruta! Do nada! - Ela explodiu no primeiro fraquejar, a primeira pausa incerta que ele não conseguiu evitar. Com um longo suspiro, Gerard fechou os olhos em desistência, os abrindo apenas ao perceber que ela se movimentava outra vez. - Gerard, você... Você falou isso pro seu psicólogo?

- O que...? - Ele franziu o cenho tentando entender. Ela não poderia estar insinuando algum tipo de homofobia, poderia?

- Você falou sobre isso com o seu psicólogo? Porque isso não faz sentido algum!

- O quê que não faz sentido, meu amor? - Ele bufou e sua voz começava a beirar a impaciência.

- Você sempre foi gay! Você me enganou esse tempo todo! - Ela estava cada vez mais furiosa, tirando suas próprias conclusões, exatamente do jeito que o exausto Gerard tanto cuidou para que não acontecesse. - Você fingiu tudo! Desde o começo você fingia! É isso! É isso não é!?

- Lynz, eu já falei que não é assim... - O rapaz apoiou um cotovelo na perna para poder segurar a cabeça, massageando a testa em uma tentativa de aliviar a tensão entre as sobrancelhas ao que o stress ia aumentando.

- Sem "Lynz" aqui! - Ela se levantou da cama, dando passos furiosos de um lado pro outro do pequeno apartamento, esbarrando na cadeira com rodas em frente a escrivaninha algumas vezes antes de empurrá-la furiosamente na direção do namorado. Atento, foi rápido o bastante para endireitar a postura e segurar a cadeira antes que ela o atingisse, deixando que rolasse de volta pra sua posição enquanto Lindsay continuava a esbravejar e gesticular logo a frente. - Eu... Eu nunca tive tanto nojo! Se fosse qualquer outro gay, tudo bem! Mas você...! Agora eu vou ficar com isso pra sempre na minha cabeça! Quatro anos de namoro, Gerard! Quatro anos e... E você estava pensando em homens enquanto a gente...? Argh! Eu achei que era de verdade! Eu acreditei em tudo que você... Todas as promessas! Eu achei que a gente fosse casar, Gerard!

- Eu já falei que tudo foi ver... Casar? - Ele mesmo se interrompe ao que as palavras lhe atingiram, se levantando pra ficar ao mesmo nível da mulher. A voz se elevou em crescente com a nova irritação, assim como o mover de seus braços em gestos duros. - Casar, Lindsay!? Você quem me falou várias e várias vezes durante esses quatro anos e meio que não suportava a idéia de "envolver coisas jurídicas em relações interpessoais" e vem me falar agora que achou que iríamos casar!?

Ela se calou. Seus olhos ainda expressavam incredulidade e desdém. Gerard questionava todas suas escolhas, cada vez mais tentando se lembrar se ela já havia demonstrado qualquer resquício daquele comportamento antes. A resposta não viria, pois apesar do comportamento explosivo ser algo que estava habituado, lembrava-se muito bem de que antes de começarem a namorar, Lindsay era sua melhor amiga. Era quem o entendeu e aceitou acima de todos, foi assim que se tornaram tão próximos... Ainda mais próximos do que ele era com seu irmão caçula, totalmente hétero e com dois filhos de casamentos diferentes. Céus, Mikey nunca seria capaz de entender... O rapaz se viu completamente frustrado com a situação. Há pouco menos de uma hora atrás, contar pra sua melhor amiga que estava sentindo atração sexual por homens parecia a melhor coisa a se fazer. Agora era claramente seu pior erro.