2. ONDE ESTOU?

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SENTI MEUS PÉS FORMIGANDO, algo com um brilho dourado quase me cegou, uma mão está diante de mim, tentei falar e...

Acordar quase sufocando virou uma chata rotina, meus pais souberam disso e antes de vir a Elora me fizeram ir a um psiquiatra, o mesmo diz ser stress, mas eu estou calma, até muito calma, desci as escadas em direção à cozinha e encontrei todos arrumados dizendo prontos para ir a um passeio. É o dia vai ser longo.

A pior parte de ir às ruas de Elora sem amigos é que você fica o tempo toda com seus pais, em restaurantes provando inúmeros pratos e bebidas quentes, sentados e somente. Não que eu desgoste dessa rotina, mas as vezes sinto que poderia aproveitar mais, conhecer mais lugares sem me sentir limitada. Dessa vez meu irmão encontrou um amigo, e quando digo isso é que provavelmente vou ser substituída no tradicional jogo de pingue pongue na casa da Tia Norma. Meu irmão é mais alto mesmo sendo 4 anos mais novo que eu, acho que por isso sou melhor no jogo, as vezes apostamos e ele raro ganha de mim.

Chegamos perto de um rio e vimos uma multidão ao redor de algo na ponte. Aproximei e vi que todos olhavam para baixo, uma extremidade do pequeno lago abaixo de nós. E em sua margem estava o que parecia ser um filhote de ganso, imóvel, entre as asas semiabertas. Decidi descer as escadinhas quase invisíveis ao lado da ponte e fui até ele enquanto alguns falavam que estava morto. Me abaixei ignorando os olhares das pessoas e o toquei, pude sentir a pele fria entre as penugens, estava bem sujo de lama, talvez realmente fosse um ganso, mas ele tinha penas cintilando azul, até onde eu sei gansos não tem penugem azulada, ou talvez eu só nunca tenha observado um de tão perto. Em todo caso era lamentável uma ave tão bonita morta. As pessoas que conversavam diante da ponte, foram se dissipando, e deixando para trás o assunto do corpo falecido do animal.

— Ele deve ter morrido de manhã, não vejo muitas aves por aqui... —disse Gregor, que nem havia percebido me seguir.

Passei a mão nele como forma de consolo, queria poder enterrá-lo, não é bem da minha natureza simplesmente deixar o pobre animal assim morto no chão, então peguei ele e enrolei no lencinho que carregava no bolso.

— Vai enterrar ele é mana? —perguntou Gregor.

Fiz que sim com a cabeça e disse para meu irmão avisar aos meus pais que ia encontrá-los na cafeteria que eles escolheram depois de enterrar o filhote perto do lago.

Procurei por algo pontiagudo para cavar, apoiei o filhote com cuidado no chão e desenrolei do lenço, foi então que percebi os olhos do mesmo moverem em direção a mim. Como pode ser possível isso? O toquei e vi que não estava mais frio e nem aparentemente morto, no mesmo instante ele saiu voando baixo, pelo que sei gansos não voam tão bem. O segui floresta adentro um pouco acima da margem do lago, foi então que vi um azul vivo e deslumbrante das asas abertas e enormes do animal, estava claro que ele não era um ganso.

Enquanto admirava a beleza dele o mesmo veio em minha direção fazendo um estranho ruído, parecia querer me atacar então fui dando passos para trás não percebi que estava no despenhadeiro até que tombar em algo. Ouvi ruídos de alguém me gritando, no mesmo instante meus olhos começaram a arder, percebi que não respirava, abri a boca como num último suspiro, mas senti minha garganta arder, vi um vulto dourado, tentei toca-lo, mas apaguei.

Senti algo corroendo meu estômago, uma terrível sensação de acidez, tentei abri os olhos, mas a claridade era quase insuportável, estreitei a visão e pude ver um lustre rústico que mais pareciam galhos de árvore contorcidos acima de mim. Minha cabeça estava pesada e meu corpo dolorido como se tivesse caído de um penhasco, ou... sido AFOGADA?

—Bom dia! Vejo que já acordaste pequena visitante.

Meus olhos correram assustados em direção a voz masculina e aveludada, parei em um homem pálido à dois metros de mim, com longos cabelos castanhos semi presos, bem esguio e com roupas estranhas, que pareciam uma túnica ou um vestido longo na cor Cinza.

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