10. A FUGA

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SABE AQUELE MOMENTO em que você está assistindo um filme e vê o protagonista caminhando para sua morte? Sempre me perguntei porque ele simplesmente não imaginou que aquela situação não daria certo. Meu pai me dizia que era porque quando estamos nervosos, não raciocinamos direito.

—Eu jamais ia fazer isso. Vejo o beco escuro, e entrar? —dizia determinada.

—Ele está nervoso, olha só, tremendo —meu pai justificava apontando para tela.

O que eu posso dizer agora e que ambos estávamos certos, o nervosismo nos faz cometer burrices do tipo que não deveriam acontecer se estivéssemos pensando corretamente. Eu voltei para casa sozinha após receber uma flor de papel e em seguida uma trilha de flores a luz do dia.

E aqui estava eu, a vítima, portas fechadas respirando com dificuldade e tentando rastrear com os olhos qualquer anormalidade no quarto, além da rosa vermelha.

De imediato não vi nada, então de maneira discreta procurei entre a mesa um estilete de cortar papel. Peguei o estilete e tranquei a porta do banheiro por fora. Me restaram algumas opções, olhar por entre as cortinas, olhar o guarda roupa e abaixo da cama. Se alguém tivesse no banheiro não teria como sair sem arrombar. O que podia me dar um tempo para correr.

—Garota! —disse a voz grave vinda de longe.

Pulei de susto.

—Garota! Rápido venha!

Eu conhecia aquela voz, segui o som em direção a janela. E em frente, sobre os galhos nus da árvore e o vai e vem da cortina bege, lá estava o indivíduo de capuz, ocupando uma posição que não pertencia a ele, e com uma feição severa e preocupada.

—O que está esperando? Venha rápido —disse o sujeito sussurrando com impaciência, sem me dar tempo para responder ou processar a frase, em um salto ele já estava no meu quarto.

—O que? —perguntei irritada. A vontade é de soca-lo, mas acredito que pela expressão dele, talvez não seja o autor das flores de papel.

Vi o elemento ainda sem nome para mim, se agachar me oferecendo suas costas.

—Não vou subir nas suas costas —sussurrei determinada a ele.

—Eu não vou pedir mais uma vez. Devo te deixar morrer? Aquilo que te fez a armadilha vai voltar —ele concluiu virando-se para mim e depois voltando a sua posição inicial oferecendo as costas. —Suba logo, ele vai perceber e nos pegar.

—Como posso confiar em você? Já tentou me matar.—relembrei o importante fato entre nós. Ele parecia responder algo mas parou subitamente.

Um estrondo atrás de mim, a coisa que estava entre a porta queria entrar apressadamente. Não havia outro jeito, apoiei as mãos sobre o pescoço do quase estranho de capuz e em poucos um segundo eu estava saltando pela janela, nas costas de quem havia me ferido poucos dias antes. O mundo dá voltas, é o que dizem.

—Você é muito lerda —alfinetou o rapaz, ainda correndo que nem um leopardo por entre a floresta de Elora. —Agora ele está nos seguindo que nem um javali —concluiu arfando.

—Eu...—o vento frio fazia meus cabelos açoitarem minha face. —Eu não sabia...—desisti de gritar e me concentrei em não cair das costas do sujeito e de não vomitar o recente frappuccino.

—Se segure firme. —disse me repreendendo.

Eu estava muito desconfortável, o fato de estar agarrada em um "desconhecido" enquanto ele corre que nem uma lebre, não é a melhor opção. Mas considerando a falta de opções em que estou, essa era provavelmente a única chance de sair viva.

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