O Portal Para Slanfar - A DESCOBERTA

16. UMA SAÍDA, ÚNICA CHANCE

APAGANDO E ACENDENDO, eu estava literalmente me tornando um pisca-pisca. Não é o momento certo para ironizar a mim mesma mas vou colocar a culpa no meio vallir por me induzir ao sarcasmo. Isso me faz lembrar algumas coisas, Ylior me pedindo para fugir, a minha ideia com a moto, e a principal dessas ocorrências, o drow me seguindo.

Tento levantar a cabeça, mas um peso me impossibilita. Percebi ser o capacete, então com dificuldade consegui mover o braço esquerdo e joga-lo longe, mas não sem antes internamente urrar de dor. A dor se espalhava em diversos pontos por meu corpo, e o pior disso tudo é que eu não sei dizer exatamente onde.

O farol da moto ainda estava piscando de longe, deixando uma fraca iluminação entre mim e parte da pista. Meu desejo era ficar deitada no asfalto, na verdade em condições normais eu deveria ficar deitada e esperar algum socorro, provavelmente estou com diversas fraturas. Mas eu não estava mais no meu mundinho, agora eu era descendente de uma portadora, o que me tornava uma meio Vallir. E estava sendo perseguida por seres desse mundo. Eu tinha que ser forte e tentar levantar, porque como diria meu pai, "quem espera para ver acaba vendo de mais", e eu não quero ver um ser pálido de cabelos fogo.

Tirei algumas mechas do meu cabelo coladas no rosto e apoiei meu cotovelo esquerdo no asfalto, com dificuldade consegui sentar mas percebi que estava vendo algumas coisas meio confusas, distorcidas. Acredito que devido a tontura mas ainda assim forcei a visão e felizmente não enxergava nada pálido como um corpo caído, ou cabelos vermelhos, o único vermelho que identifiquei foi o meu, meus braços feridos e provavelmente alguma outra parte do meu corpo.

Não ver o drow podia ser bom mas também era um sinal ruim, queria poder encontrar alguma pista dele, assim eu me sentiria melhor.

Ao tentar levantar, minhas pernas simplesmente não se moviam direito, eu estava sem firmeza alguma. Forcei com os braços novamente e quase gritei de dor. Enquanto ainda estava tentando fixar os pés para ter um apoio maior, escutei uma risada abafada.

Eu não podia ver de onde vinha a voz. Não pertencia a Ylior muito menos Clant. Subitamente o dono da voz apareceu em minha frente, então levei um grande susto, eu já o conhecia. O tawaki gordo, o namorado da Tia Norma. Sua comum aparência sinceramente não me dava medo mas da forma que ele estava agora era diferente, olhos amarelados e os pelos eriçados como um porco espinho, a habitual roupa humana agora estava rasgada, o que evidenciava ainda mais a pelagem estranha.

— S-sem correr garotinha-a —disse o tawaki pausadamente como quem correu uma maratona.

— O que quer? —tentei falar mas soou mais baixo do que eu queria.

— Seu colar e —disse ele ofegante e continuando olhou para floresta. —E ela mesmo, não é?  

Nesse momento percebi que ainda tinha uma segunda pessoa, meus olhos varreram por todos os cantos que eu conseguia enxergar. De início não vi nada até que fora da pista, na parte da floresta, uma silhueta seguia em nossa direção. O drow de cabelos vermelho, ele realmente parou longe com o impacto da moto. Mas não me senti vitoriosa com isso, ele estava de pé agora e eu, estava mal mente sentada no asfalto.

— Só precisamos dela para extrair o flirm —respondeu ao tawaki. —Depois é inútil —disse apressando-se em chegar perto de mim.

O indivíduo de cabelos vermelhos se agachou para ficar frente a frente comigo, senti um toque gélido em meu maxilar, virei o rosto e ele fez um som de desaprovação.

— Essas coisinhas, são tão ridículas —sibilou pegando meu maxilar novamente e olhando cada centímetro do meu rosto. —Me pergunto o que Kartus vê nessa carne humana.

Olhei para cima, o twaki estava me olhando, mas sua feição não era de vitória, parecia culpa ou vergonha. Talvez escutar um drow falando de um humano assim, tenha deixado ele triste já que uma vez Ylior me disse que eles são fiéis as suas parceiras. E ironicamente a parceira dele é a minha Tia.