20. [FINAL] VOU ESTAR COM VOCÊ

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NÃO MUITO TEMPO atrás eu estava em Toronto, voltando do curso preparatório e indo na minha cafeteria favorita tomar um tradicional macchiato, antes de seguir para o meu emprego de meio período na livraria. Era a minha rotina nada secreta, não muito empolgante, mas tão confortável que jamais tive o pensamento de tentar mudanças drásticas na minha vida. 

Me tornar bióloga era um objetivo, talvez a minha necessidade de entender algumas coisas que me rodeavam, ou de ser útil para a minha própria espécie que não está cuidando devidamente de outras, e ser de ajuda ao meu próprio planeta. No entanto agora eu estava em outro mundo, dividida entre me manter viva e entender toda a trama que envolve a minha existência.

A poucos minutos saímos da ponte no palácio Vallir, agora novamente estávamos no que eu chamo de carruagem, sendo levada para a casa de Clant, o único ser que me fez travar e enrubescer a cada olhar, e a cada batida do coração. Embora eu tenha ficado um pouco assustada com o beijo de Ylior, sim, apenas um susto diante a cena que ele fez. Não devo pensar em mais nada além disso, nem sei porque estou pensando agora.  O meio vallir sempre me provocou, sempre estava prestes a puxar o gatilho com o charme e o ar irresistível. Não que eu ache isso. Ele é muito bonito e confiável, embora seja um tanto que mesquinho e irritante.

Encostei a cabeça na carruagem, que balançava um pouco devido a estrada. Já estava anoitecendo e acompanhei o céu mudar do colorido veranil para um lilás claro, até começar a escurecer mais. O que só evidenciou as auroras boreais no céu, elas pareciam dançar um clássico de Vivaldi, ou o mais provável, apenas seguindo a sua própria canção.

Olhei para Arom, que estava bem calmo agora. Sentado como um Lord, sua elegância sempre plausível. Algumas pessoas tem o dom de serem carismáticas, mas sinceramente acredito que Arom é o ser que ganha de todas as criaturas existentes em Slanfar e no meu planeta. Percebendo que eu o encarava ele soltou um riso amigável.

— O que te faz reflexionar senhorita? —perguntou sorrindo.

— Refle...xi o quê? —disse me sentindo burra por não saber sobre sua palavra refinada.

— Meditar. Me desculpe a curiosidade —respondeu calmamente.

— Ah, bem. Eu estava pensando sobre minha cidade Natal, meu antigo trabalho... Minha vida —respondi não mencionando nada sobre Ylior.

— Imagino que sua cidade seja interessante. Em que trabalhou senhorita?

Arom estar curioso era no mínimo engraçado, ele sempre parecia um ser superior, fino e talvez não acessível.

— Então... Primeiro não precisa me chamar de senhorita, pode me chamar de Alisha —falei rindo. —Eu trabalhei em uma livraria

—Me desculpe, é habitual que eu a chame de senhorita. Não pense isso como uma formalidade —disse ainda com o sorriso estampado. — Mas se estiver sentindo muito incômodo, eu posso parar

— Tudo bem Arom. Não se preocupe —falei notando ele assentir com a cabeça.

— Eu possuo conhecimento sobre as bibliotecas dos humanos. Gosto da história. Posso te mostrar minha coleção de pessoal de livros depois —falou visivelmente animado.

— Eu ia amar conhecer —disse sorrindo e me segurando na cadeira após um balanço brusco.

A estrada parecida cada vez pior, as rodas passavam por pedras e buracos com mais frequência.

— Arom. Eu sei que estamos indo a casa de Clant, mas porque não ficamos no palácio

Eu não ia perguntar isso, mas talvez seja mais favorável que eu esteja a par de qualquer situação, e não fique pairando sobre os assuntos. Querendo ou não eu sou uma meio Vallir, e uma guardiã. Arom pareceu pensar até que me respondeu.

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