35°Capítulo

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 Ainda nesse dia, quando eu e a Chris estamos a sair da sala de aula, vindo dos cacifos, o Jason corre na nossa direção.
-Arley, chega aqui! - pede o Jason pegando-me nas mãos, levando-me até ao seu cacifo.
-O que se passa? - pergunto desorientada. A Chris fica no outro lado do corredor sorrindo de forma matreira.
O Jason abre o cacifo e tira de lá um aquário com dois peixes: um preto e um prateado.
-Eu sei que só faltam duas semanas para o baile, mas queres ir comigo? - convida-me, dando-me o aquário para as mãos. Eu nunca fui a favor do aprisionamento de animais e ver aqueles dois peixes alí presos causa-me uma sensação de pena, não só pelos peixes, mas também pelo Jason que só tinha o objetivo de me agradar. Será que lhe digo?
Olho para a Chris que me acente com a cabeça com o objetivo de eu aceitar o convite, mas eu interpreto da forma que me convém.
-Jason, eu não gosto de ver esses animais aí presos. - digo a medo.
-Podemos ir libertá-los a um rio! - sugere, corando. - Mas vais comigo ao baile?
-A Chris pode ir connosco? - pergunto, olhando para ela.
-Quantos mais melhor! - exclama entusiasmado.
-Chris! - chamo.
-Parece que vais connosco ao baile! - conta Jason, mal ela chega perto de nós.
-A sério?! - exclama incrédula. - Vocês são fantásticos!

Despeço-me da Chris que vai para casa com a mãe e vou de bicicleta até ao rio mais próximo com o Jason para libertar os peixinhos.
-Tens de admitir que até se tornou romântico eu ter aprisionado os peixinhos. - diz o Jason com um brilho nos olhos.
-Parece que sim. - respondo, dando-lhe uma cotovelada
Depois de libertarmos os peixes, ficamos sentados na areia a apanhar sol.
-Correu-te bem o teste de Matemática? - pergunto no meio do silêncio.
-Sim e a ti?
-Também. - Encosto a cabeça ao ombro dele.
-Tu já sabias que a Chris era lésbica? - pergunta-me.
-Sim. - respondo num sussurro.
-Então era por isso que ela me parecia estranha. - supõe ele.
-Talvez...- respondo, voltando a relembrar o nosso beijo.

Por volta das sete da tarde, vou até casa de Chris, tal como combinamos antes de sairmos da escola.
Ficamos a pesquisar vestidos para o baile de finalistas.
-O que achas deste? - pergunta Chris apontando para um vestido tipo Cinderela.
-É muito princesa da Disney. Não quero um vestido muito extravagante, quero algo simples. - digo. - E tu, o que vais vestir? - pergunto, pois só estamos a ver vestidos para mim e ela também vai ao baile.
-Talvez use o da minha mãe. - responde - Eu já o vi e já o vesti, acho que fico incrível nele.
Continuamos a ver os vestidos durante mais meia hora, até que chegamos à conclusão de que eu não gosto nada, ou que simplesmente hoje não estou virada para isso.
-Acho que já não quero ir para a faculdade, Chris. - desabafo.
-Porque não?
-Não posso deixar a minha mãe sozinha. - digo.
-A tua mãe é adulta, Arley! - exclama ela, pousando o computador. - Ela consegue viver sozinha.
-Mas é diferente. Quem é que me garante que ela vai ficar bem? - argumento.
-Não podes deixar de seguir a tua vida, miúda! - diz, segurando-me nas mãos.
Mal ela diz isto, o computador dá sinal de mensagem. É um email da Julliard: Agradecemos muito a tua candidatura. Após revermos os resultados das tuas provas intermédias, gostávamos que te apresentasses na nossa escola para a realização de provas de acesso. Para mais informações podes consultar o nosso site.
-Parabéns! - guincho, dando-lhe um abraço.
-Isto não quer dizer que entrei na escola. - acalma-me - As provas de acesso são as mais importantes.
-Tenho a certeza de que vais arrasar. Tu tocas muito bem! - encorejo-a.
-Não é apenas a prova de fagote, é também a prova de Formação Musical, de Composição e Análise... - diz ficando cada vez mais ansiosa.
-Calma! - digo segurando-lhe as mãos - Vai correr tudo bem!

Algum tempo depois vou para casa e fico a pesquisar mais vestidos no meu quarto, com a minha mãe que está super entusiasmada com o facto de eu ir ao baile, até posso dizer que está mais excitada do que eu.
-Não gostas deste? - pergunta-me ela, apontando para um vestido curto, acima dos joelhos, bordô.
-É bonito, mas não me imagino com ele vestido.
- És tão esquisita, Arley! - brinca a minha mãe.
- Eu quero algo simples, que não seja só para usar no dia do baile. - explico.
-É o teu baile de finalistas, tens que usar algo especial!
-Não tens o vestido do teu baile? - pergunto.
-Tenho, mas não é a simplicidade que tu procuras.
-Mostra-me! - O vestido é comprido até aos pés, até meio o vestido é azul claro e depois começa a ficar branco, na parte final do vestido tem flores cor de rosa, as alsas do vestido cruzam-se nas costas e também têm pequenas flores.
-É lindo! - exclamo maravilhada. Visto-o e vejo-me ao espelho.
-Ficas fantástica nele! - elogia a minha mãe.
-Talvez o use no baile. - digo convicta das minhas palavras.
Fico contente por já ter o que vestir no baile, gostava tanto que o meu pai me visse a sair de casa para ir ao baile, que me pudesse dizer que estou linda, para me abraçar, dizer para me divertir sem beber demais. Volto-me novamente para o espelho e vejo o meu pai ao meu lado a sorrir e choro.

Todos os dias são um bom dia para chorarOnde histórias criam vida. Descubra agora