Antes da missa do funeral, dirigimo-nos todos para uma pequena sala com muitas flores espalhadas, existe um banco em cada lado da sala e no centro está o meu pai dentro do caixão.
Entro na sala e vou até ao caixão e fico a olhar para ele sem vida, sem sentir o seu calor, sem poder fazer nada para o trazer de volta.
Pai, se a saudade que sinto te pudesse trazer de volta, eu seria novamente a menina sorridente que tu tanto gostavas, seria outra vez a tua boneca de porcelana, voltava a ser tua e tu voltavas a ser meu. Mas eu sei, que nada disso vai acontecer, porque tu partiste e nunca mais vais voltar. E eu só espero que sejas feliz onde quer que estejas. E espera-me, espera-me, porque um dia voltarei a ser a tua menina embalada nos teus braços!
Estremeço quando a minha mãe me toca no ombro.
- Assustaste-me! - digo.
- Desculpa. - diz passando-me a mão nas costas - Mas estás bem? - pergunta com ternura no olhar.
- O que é que tu achas? - respondo.
- Tens razão! - Ela senta-se e eu também me sento.Meia hora depois, vamos todos para a igreja.
Toda a gente se senta nos bancos de madeira e observo melhor as pessoas que estão aqui presentes. Fico pasmada quando vejo a Jess e a mãe entrarem. Elas sentam-se nas últimas filas do lado direito, do mesmo lado que eu.
- Mãe, olha quem chegou! - sussurro olhando discretamente para elas.
A minha mãe olha para trás e diz a meio de um suspiro:
- Deixa-as estar!
- Mãe, eu acho que elas estão...
- Já chega, Arley! Para com isso! - diz levantando o tom. E as cabeças viram todas para nós.
Lanço-lhe um olhar fulminante e de seguida olho para a frente.
Parece que a minha mãe não aguenta ficar um dia sem discutir.
Após todos se sentarem, os funerários caminham pelo meio da igreja com o caixão aos ombros e colocam-no numa mesa em frente ao altar. O padre entra e sáuda-nos. Após um longo discurso religioso, o padre dá-nos permissão para dizer algumas palavras. A primeira pessoa a voluntariar-se é a minha avó Mary. Já há muito tempo que não a via e, de repente sinto pena dela, por ter perdido o filho, depois de ter de ultrapassar a morte do seu marido no último ano. Até sinto a solidão transmitida no seu olhar. Apetece-me correr para os braços dela e dar-lhe tudo o que não lhe dei durante este tempo.
Ela sobe até ao microfone, coloca os seus óculos, abre um papel e começa a ler o seu discurso escrito com palavras bem escolhidas e cuidadas, palavras ditas com sentimento que derretem o meu coração e me pesam na consciência.
No final do discurso, os cabelos grisalhos da minha avó brilham com a vibração dos aplausos.
A próxima pessoa a levantar-se sou eu mesma, que caminho timidamente até ao microfone próximo do caixão, aclarou a voz e começo a falar sem discurso escrito:
- Como todos devem saber, eu sou a Arley, a filha do Mr. Cooper. Eu sempre estive habituada a ouvir todos os tipos de música pela casa, desde as músicas mais antigas, passando pelas músicas infantis até às músicas mais ouvidas atualmente, mas agora, que o meu cantor favorito faleceu - aponto para o meu pai - a casa está silenciosa, está solitária e fria. - faço uma pausa e deixo cair uma lágrima - Eu podia ter-lhe dito todas as palavras bonitas, eu podia tê-lo abraçado todos os dias, mas agora é tarde demais para tudo isso. - Deixo cair mais três lágrimas e olho para o meu pai que inesperadamente mexe o dedo indicador e eu desato aos gritos:
- Ele mexeu-se! Ele está vivo! - Existe um grande alvoroço em toda a igreja até que a minha mãe vem ter comigo.
- Filha, vamos sair daqui! - sussurra a minha mãe muito serenamente.
- Mas o pai está vivo! - exclamo desesperadamente.
- O que tu viste é normal, eu vi o mesmo quando o meu pai morreu. Agora, vamos embora! - a minha mãe agarra no meu braço e leva-me para fora da igreja. Entro no carro despedaçada em lágrimas, por mais uma vez ter estragado tudo, por, pela segunda vez ter perdido a oportunidade de me despedir do meu pai.
A minha mãe coloca o cinto de segurança e arranca sem dizer uma única palavra. Eu coloco o cinto e olho pela janela.
- Estraguei tudo, não estraguei?! - queixo-me.
- Não. Claro que não, meu amor! - responde com ternura, colocando a sua mão na minha perna.
Prosseguimos o resto da viagem em constante silêncio, cada uma nos seus pensamentos ao som do motor do carro.
- Arley, vai ver se há correio, enquanto eu estaciono o carro, por favor! - pede a minha mãe quando chegamos à rampa da garagem.
Saio do carro, abro a caixa do correio. Retiro de lá todas as revistas e panfletos de publicidade e pego com delicadeza na única carta, que por acaso é para mim.
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Todos os dias são um bom dia para chorar
RomansaNo mesmo dia em que Arley descobre que vai ficar sem a sua melhor amiga, algo diz adeus à sua amizade antes da hora prevista. Graças a esse acontecimento, Arley encontra o seu primeiro verdadeiro amor, mas também muitas contradições que a impedem de...