Capítulo 3

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Quando saio de dentro da casa pela primeira vez, já ia completar um mês que estou morando aqui.
Ando conversando já com Daiane e Reziel mais freqüentemente. Ontem mesmo ele me disse que o Frost (decidi chamar pelo sobrenome porque doi menos) reprovou na sua matéria técnica. O que me surpreendeu já que ele é o melhor da turma. Ele também me disse que o Frost já não anda mais com o grupo e nem com ninguém. Desde que vim embora ele se afastou de tudo e de todos.
Reziel e eu passamos horas conversando, descobri através dele que iria ter um evento cospley e a Amanda estava inscrita. Amanda é uma das poucas amigas que eu tinha. Gostava de chamar ela de panda. Ele também me disse que teve um show de talentos logo depois que eu sai. Ninguém conseguiu pegar o meu lugar pelo que ele me explicou.
Depois de colocarmos a conversa em dia, eu desliguei o celular e fui para o jardim que vejo do meu quarto. Assim que chego, me surpreendo com a quantidade de tulipas que há. São as minhas favoritas.
Sento-me encostada em uma árvore e começo a lembrar do dia em que a minha vida mudou. Foi oito anos atrás. Se eu soubesse que estaria aqui, nunca teria entrado naquele corredor.

Quando Daiane chega ja passa das oito.
- Chegou tarde. Aconteceu alguma coisa? - Pergunto descendo da escada pra ajudar com as compras.
- Tive que ajudar um paciente com distúrbio emocional hoje.
- Entendo...
- Fala Em.
- Eu realmente não quero atrapalhar, mas... Eu não quero entrar em escolas esse ano. Posso ter aulas em casa?
- Tem certeza disso?
- Não estou preparada pra encarar muitas pessoas no momento Dai.
- Ok. Assim que o Steve chegar falamos disso.
- Ele vai dormir aqui hoje?
- Ah, não. Vamos jantar. Então comporte-se mocinha. - Ela diz batendo o dedo na ponta do meu nariz.
- Como se meus amigos fossem sair do Brasil pra vir pra cá.
- Emma seus amigos são loucos igual você.
- Mas que preconceito. - Digo enquanto subo as escadas rindo.
Quando entro no meu quarto, vejo a caixa que estava evitando tirar dali a dias. Deixo onde está e vou para cama. Afinal, está complicada minha situação. E não estou afim de chorar novamente. Troco de roupa e me jogo na cama. Passo mais de duas horas horas olhando pro teto quando consigo dormir.

Nós estávamos sentados na praça de alimentação do shopping esperando o resto dos meninos chegarem com os nossos pedidos. Daniel coloca a bandeija a nossa frente e envolve meus ombros com os seus braços e me da um beijo na testa.
- O que acharam do filme? - Ele indaga pegando uma das minhas batatas fritas. Dei uma cotovelada nele de brincadeira e ele beijou novamente minha testa.
- Eu ainda estou sem palavras. Ela poderia ter ficado com ele!
- Mas aí não iria ter como ele mudar por causa dela Laura. - Digo depois de tomar meu refrigerante.
- Isso é frustrante. Não acha Lari?
Larissa que até então estava em silêncio se manifesta com os olhos marejados.
- Por que diabos ele teve que morrer?
- Será que é porque é um drama e alguém sempre morre? - Falou Reziel com sarcasmo nítido na voz.
- Concordo contigo. Ele morreu pra salvar ela. É clichê? Demais. Só que o amor é assim. Nós nos sacrificamos pelo bem estar do outro.
Sempre gostei do Eduardo por causa disso. Sempre foi ótimo com as palavras.
- E você amor? - Ele olha pra mim enquanto passa as mãos no meu cabelo.
- O jeito como as coisas aconteceu me impressionou de verdade. Tipo, quem no mundo de hoje em dia iria sacrificar tudo o que tem pela pessoa que ama e pela pessoa que odeia? Porque ele amava ela, mas ao mesmo tempo odiava a presença da irmã dela. Só que uma não poderia viver sem a outra!
- Você tem comentários tão intensos. - Bruna se manisfesta depois de acabar com o prato dela. O esfomeada. - Mas concordo contigo Emma. Ele praticamente deu uma de Jesus pelas duas.
- Realmente gostei da nossa programação hoje. Vamos fazer mais alguma coisa ou já vamos embora? - Pergunto já pegando minha bolsinha da cadeira.
- Acho que podemos ir já. - Diz Reziel.
- Amor tem como você me esperar só um pouquinho?
- Aconteceu algo? - Indago passando a mão em seu rosto.
- Longe disso. Só esqueci de passar num lugar. Vão indo na frente eu alcanço vocês.
- Ok. Eu te amo muito tá?
- Eu também te amo muito amor. Agora vai lá. - Ele fala depois de me dar um selinho.

Acordo com o rosto molhado de lágrimas e toda suada. Olho pro relógio e já passa das duas. Levo a mão a cabeça e puxo meu cabelo para trás.
Naquele dia, quando ele sumiu e se separou da gente, ele chegou com três pequena sacolas nas mãos. Em duas delas eram blusas que eu queria comprar a alguns meses. E na outra um chaveiro. Uma surpresa e tanto.
Levanto da cama e vou até a janela, me sento em seu parapeito e olho o céu. Tinha bastante estrelas nessa madrugada, mas também muitas nuvens carregadas. Por um momento me senti como esse céu. Aparenta ser belo, mas sempre é espectador de vários desastres sem poder fazer nada.

AloneOnde histórias criam vida. Descubra agora