Capítulo 2

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Acordo com dor de cabeça e sinto meus olhos inchados por causa do choro da noite passada. Saio da cama e me encaminho até o banheiro. Eu achei exagerado, mas acho que a Daiane imaginou que eu iria querer meu próprio espaço depois de tudo.
Realmente me assusto com o meu reflexo. Estou com o rosto inchado e com os olhos vermelhos de sangue e manchas pretas embaixo por conta das lágrimas que rolaram a noite inteira.
Lavo meu rosto, escovo os dentes e ligo o chuveiro. No momento em que a água morna bate na minha pele sinto um relaxamento que não sentia a dias.
Com toda a mudança de última hora, não deu de pegar todas as minhas coisas, o que resultou em ter somente as roupas pretas na mala. Como ando com mais frio que o normal, pego uma calça jeans e uma blusa preta pra usar. Depois de vestida, sento no parapeito da janela. Desde que cheguei não sai do quarto. Não sinto vontade de comer, não sinto vontade de sair, muito menos conhecer o noivo da Daiane.
Olho pela janela e vejo como o jardim é grande. Mamãe provavelmente teria colocado uma mesa enorme no meio para poder reunir todo mundo num almoço em que ela estivesse de folga no fim de semana. Ao pensar nisso, acabo lembrando de como ela ficou estressada com papai quando a nossa cozinha ficou pequena demais e mal coube a mesa que vovó deixou de herança.
O céu está com nuvens carregadas de chuva. E o fato de não saber onde estou colabora com a minha preocupação já que não sei se aqui neva ou não. Morei minha vida inteira num país tropical. Nunca vi a neve. Imagino como deve ser a sensação.
Ouço batidas na porta e falo baixinho pra pessoa entrar. Daiane passa pela porta com uma expressão pensativa no rosto.
- Precisamos conversar.
- Não adianta insistir, não quero sair daqui. Estou bem assim. - Digo saindo da janela e me encaminhando para a cama.
- Não é sobre isso Emma.
- É sobre o que então?
- As coisas não podem ficar assim para sempre. Sei que está magoada com ele. Sei que o que ele fez foi errado. Mas não o deixar te apoiar também não vai mudar nada.
- Não quero o apoio dele Daiane. Ele é um dos motivos que me fez estar aqui.
- Não diga isso Emma. Não foi culpa sua.
- Não quero falar sobre isso.
Viro de costas pra ela e começo a andar pelo enorme quarto vazio.
- Suas coisas estarão chegando amanhã. Tem algo que eu possa fazer pra ajudar? - Ela pergunta depois de um longo suspiro.
- Você poderia me comprar uma lata de tinta preta?
- Pra que disso Em?
- Esse quarto é muito claro. Está fazendo mal para minhas vistas.
- Entendo. Vou comprar pra você. Vai querer seu material de escrita?
- Por mim você pode queimar.
Ela solta mais um suspiro antes de sair do quarto e fechar a porta. Assim que a ouço se afastar, desmorono novamente.
Ninguém disse que seria fácil. Mas também não precisava ser tão difícil e doloroso dessa forma.

Quando resolvo sair do quarto, já havia passado três semanas. Não falei com ninguém. Meu celular ficou desligado durante esse tempo e realmente não senti vontade de falar com ninguém.
No momento em que adentro a cozinha sinto cheiro de bolo de cenoura. O que faz meu estômago fazer um barulho vergonhoso já que não como a dias.
- Bom dia Emma. - Daiane diz beijando minha testa.
- Bom dia. - Respondo sem animo.
- Reziel ligou. Ele perguntou de você...
- E?
- Falou que está com saudades.
- Como ele tá?
- Bem. Só não tá melhor porque está sem a melhor amiga e preocupado com ela.
- Daiane por favor, me diz que não falou do meu estado pra ele.
- Ele só tá preocupado contigo Em. Aconteceu muitas coisas recentemente e você não fala com ninguém desde que chegou aqui. Ele quer saber como você está, e entendo ele.
- Preciso de um tempo pra mim Daí. Está sendo complicado...
- Eu te entendo melhor do que ninguém. - Ela pega minha mão e da um leve aperto na mesma. Senti falta disso. - Agora vá descansar. Você tá parecendo o It com essas olheiras.
- Adoro seu senso de humor. - Falo ironicamente. - Até mais tarde. - Dou-lhe um beijo na bochecha e volto para meu quarto.

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