Maratona pt/2

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Emma

      Estava deitada na cama pensando no sonho estranho que tive, quando me lembrei de avisar os garotos sobre a nossa saída. Peguei meu celular e mandei mensagem pra eles, logo ouvindo sonora da sala batendo e passos subindo as escadas. Deixei o celular carregando e corri para cama, já me deitando e me cobrindo até os ombros.

       Pode parecer loucura, mas uma coisa que sempre odiei foi a vulnerabilidade que tinha perante meu pai quando o mesmo bebia, Daiane sempre teve que tomar as rédias da situação, mas agora ela não está aqui. E normalmente quando ele bebia coisas ruins aconteciam e nunca dava para pedir ajuda. Raziel e Eduardo sabiam o que acontecia nessa casa, mas nunca contamos para Daniel.  Virei meu corpo para a parede tirando aqueles pensamentos da minha mente e  comecei a pensar em coisas positivas, como o tempo que eu iria passar com os garotos e fechei os olhos, tendo a visão de olhos safiras e esmeraldas invadindo minha mente.


          Acorde... Ele precisam de ti.


        Sentia meu corpo pesado, olhei pela janela e ainda estava escuro, me levantei e fui até a cômoda pegar meu celular. 04:55 AM. Acordei antes do alarme tocar, desliguei o mesmo e comecei arrumar minhas coisas para ir estudar. Olhei meu reflexo no espelho e não gostei de ver meu cabelo ondulado como estava, então decidi deixar a cascata escura lisa, o que me fez demorar cinco minutos a mais no banheiro, mas o resultado foi melhor que o esperado. Estava apreensiva com alguma coisa, mas não conseguia descobrir o que era, tinha a sensação que havia algo fora do lugar.

        Desci as escadas já com minha mochila na mão e meu caderno de músicas em outra.  Eu tinha uma grande mania de escrever minhas músicas favoritas e estava vendo qual poderia cantar com o pessoal, quando um barulho na cozinha me distrai. Minha mãe já estava de pé preparando o café da manhã, coisa incomum já que sempre saia pra escola e ela estava dormindo. Larguei minhas coisas em cima do sofá e fui até ela a abraçando.

     — Bom dia flor do dia. — Brinco com a mesma. — Que milagre é esse?
  
     — Bom dia minha princesa. Tenho uma reunião na empresa hoje, tenho que ir mais cedo.

     — Entendi. Me dá uma carona?

     — Claro. Já arrumou suas coisas?

     — Sim senhora.

     — Então vamos.

        Saímos para a garagem e ela trancou a porta após conferir se estávamos com tudo que era necessário. O longo caminho foi preenchido por risos e conversas, o clima estava agradável, então não iria perguntar se algo tinha acontecido na moite anterior. Ela parecia estar bem, não havia um único arranhão em seu corpo, e sua voz transmitia tranquilidade. Assim que chegamos na escola ela me deu um beijo no rosto e me desejou um bom dia, eu fiz o mesmo lhe desejando uma boa reunião

        No momento em que pus meus pés no portão do colégio sinto meu corpo ir de encontro ao chão, mas sou amparada por um mão conhecida. Raziel. Olhei pra causa daquele acidente inusitado e vi Laura me olhar animada, o que me fez imaginar o que aconteceu, porque não era comum ela sair pulando na gente. Era mais fácil Larissa, Bruna ou até mesmo Amanda fazer isso, mas não ela. Olhei para meu irmão com uma indagação na face e o mesmo deu de ombros, com um sorriso no rosto.

        Quando adentramos o prédio entendi o motivo da Laura estar animada em plena 06:45 AM. A temporada de esportes estava começando e ela finalmente havia entrado para o time das líderes de torcidas. Seu nome estava estanpado em uma grande faixa, lhe dando as boas vindas, como tradição do nosso colégio. Dei um enorme sorriso com aquilo e a abracei fortemente, mas uma coisa que chamou minha atenção e me deixou completamente em choque, foi ver outra faixa sendo colocada com o meu nome no clube de música. E eu não havia feito minha inscrição.

       — Eu ainda mato vocês. — Digo dando risada.

     O resto do pessoal chega e nos encaminhamos para a nossa sala, pois todos tinham a primeira aula juntos naquele dia.

      Eduardo, Raziel e eu estávamos sentados em um banco recuperando o ar após termos ido na montanha russa mais irada do parque de diversão. Ainda estava com as minhas pernas bambas quando eles se levantaram e começaram a me puxar pelo parque, por algum milagre meu cabelo não estava parecendo uma vassoura após ter pego uma ventania do cão a cada descida que o carrinho dava. Assim que paramos, vi o motivo deles me levarem ali.

       — Que tal nos dar a honra de lhe ouvir cantar? — Indaga Raziel fazendo uma reverência de brincadeira, sendo acompanhado por Eduardo.

       — Se nos permitir tocar com visa realeza. — Diz o loiro após se levantar.

       Eu dou risada deles e enlaço meus braços neles.

       — O que vamos tocar? — Pergunto sorrindo.

        Estava tendo uma apresentação para as pessoas ali, foi montado um palco simples, com alguns instrumentos e tinha um senhor fazendo as inscrições. Os garotos deram de ombros e disseram que eu poderia escolher a música enquanto eles faziam nossa inscrição. Estava extasiada. Fazia muito tempo que não cantávamos juntos, havia um bom número de pessoas ali, estava nervosa, mas logo me acalmei. Eles não me deixariam errar.

       O tempo foi passando, cada grupo que se apresentava era melhor que o anterior, teve até uma mulher cantando ópera, que me deixou arrepiada. Quando chegou nossa vez, estávamos mais nervosos e ansiosos que tudo, mas deixamos o receio de lado e subimos no palco. Raziel se sentou enfrente a bateria e Eduardo pegou o violão/guitarra, não sabia o que era pois os modelos eram parecidos e eu fiquei com o microfone. Já havia dito qual música iríamos apresentar, então assim que a melodia começou, me deixei embalar pelo som e deixei que as notas musicais saíssem calmamente, como a própria canção pedia.

      — Coração não é tão simples quanto pensa...

       Cantar nunca me fez tão bem como estava fazendo nesse momento. Estava me sentindo leve e melhor que nunca, todos os meus problemas desapareciam quando cantava e os garotos pareciam saber que eu precisava daquilo. Quando terminamos, todos nos aplaudiram, inclusive aqueles que estavam sentados se levantaram para nos aplaudir. Descemos do pequeno palco e logo os abracei fortemente.

      — Muito obrigada por isso.

      — Você merece um tempo seu maninha. — Diz Raziel com a mão em meus cabelos.

       — Você arrasou Em. — Diz Eduardo bagunçando meu cabelo após terem me soltado.

        — Vocês são os melhores amigos que alguém poderia ter. Amo muito vocês.

       Eles sorriram para mim e saíram me puxando pelo parque. Brincamos em cada brinquedo que não tínhamos ido, comemos em várias barraquinhas e encerramos o dia vendo a cidade do topo da roda gigante.






          Acorde Siren. Você precisa despertar.

     

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