Capítulo 5

22 3 0
                                    

Duas semanas. Já faz duas semanas que estou tendo aulas em casa. E a Daiane e o Liam não dão uma trégua.
Nesse exato momento estamos sentados no meu quarto. Eu com a cabeça enfiada nos cadernos, e o Liam sentado na minha cama enquanto ri de mim.
— Vamos lá Emma. Não é tão difícil quanto parece. Você só precisa fazer uma redação dissertativa sobre fé. Não importa qual seja. Pode ser a sua fé em Deus. A sua fé em que nada atrapalhará o casamento de sua irmã. Se não conseguir falar sobre a sua fé, fale sobre sua crença. No que você crê menina Emma?
  — Você não é tão velho ao ponto de me chamar de menina Liam.
Puxo a manga da minha blusa mais pra baixo. Incomodada com o assunto da aula.
— Por qual razão isso importa? Não irá mudar em nada.
Puxo minha manga novamente, mas dessa vez é para coçar as cicatrizes feita nas noite anteriores.
— Eu quero ver o quão profunda pode ser sua reflexão sobre esse tipo de assunto Emma.
Ele para de falar do nada. Ele olha pra mim por longos minutos e desvia seu olhar do meu rosto para meu braço. Imediatamente o ergo para cima numa forma de alongamento para disfarçar.
— Vou deixar você pensar sobre o assunto. Vou beber uma água. Vai querer alguma coisa? — Ainda me surpreendo com a liberdade que ele tem na casa da minha irmã.
— Um pudim não é nada mal.
Assim que ele sai, me sento na cama com o caderno em mãos.
No que eu tinha fé? No que eu creio no momento?
  Enquanto eu e o Daniel namoravámos, eu tinha a fé que íamos conseguir ir além. Eu tinha aquela crença que a mãe dele poderia me aceitar. Enquanto estava junta dele, eu tinha fé que mamãe estaria orgulhosa.
Creio que eu que não passava de uma ilusão. No momento em que perdi meus pais, eu perdi tudo. Afinal, eu não tinha mais as pessoas que eu amava e que cuidava de mim.

Quando eu me dei conta, já estava na terceira folha da redação. Liam me olhava com um sorriso arteiro.
— Há quanto tempo está aí? Nem vi quando chegou.
— Sério que você não sentiu minha falta? Faz mais de uma hora que eu estava conversando com a sua irmã. Aqui está seu pudim. — Ele diz me entregando um prato com a melhor coisa que exite nesse mundo.
— Eu fiquei aérea. Eu acho.
— Sem problemas. Posso ver?
Entrego o caderno pra ele e começo comer.
Em nenhum momento, mencionei o que aconteceu entre quatro paredes entre mim e o Frost. Foi bom as coisas que aconteceram, mas humilhante também.
Liam não não tira seus olhos das folhas por um segundo. E quando ele finalmente termina, me olha com uma cara assustadora.
— Você fez aquele teatro todinho só pra não me mostrar o seu talento Em?
— O que? — Achei que ele ia brigar comigo.
— Isto aqui está ótimo. Sério Emma. Você tem um grande potencial. Suas reflexões e suas críticas são tão intensas e profundas.
— Não exagera Liam. Por favor. Eu só coloquei pra fora o que eu estava sentindo.
— E é isso o que eu quero que você faça. Coloque pra fora o que sente. O que te faz bem. O que te faz mal.
— É mais fácil falar do que fazer.
— Sei disso. Mas é melhor colocar pra fora do que guardar pra si.
Termino de comer e coloco meu prato em cima da mesa. Sinto que ele está me encarando, mas não faço e não digo nada.
Sento na cama e ele senta ao meu lado e pega no meu braço. Retraio meu corpo no mesmo instante.
Ele puxa meu braço novamente e ergue minha manga. Ele acaricia suavemente as elevações na minha pele e leva a mão para o meu rosto. Espero a bronca, mas ela não vem.
A única coisa que sinto é seus braços em minha volta e uma a de suas mãos no meu cabelo.
— Eu não sei o que aconteceu. E também não espero que você me conte. Mas a pessoa deve ter te magoado muito pra você ter chegado ao ponto de se ferir dessa forma.
— Não tem o porque de você estar se preocupando com isso Liam.
— Não deixe a Daiane perceber. Ela provavelmente vai querer te dar uma lição de moral sobre se abrir e não se machucar.
— Não vai contar?
— Você deve ter suas razões para isso. Bom! Deu a minha hora. Já vou indo. Quero um relatório na sua mesa na sexta feira sobre o porque da ONU ter sido criada. Até amanhã. Baixinha.
— Chama-me de baixinha novamente pra ver se eu dividirei minhas batatas com você novamente!
Bato a porta pra abafar a risada dele. Idiota.
Pego uma peça roupa preta e entro no banheiro.
— Droga!
Com tudo isso que tá acontecendo tinha me esquecido do meu ciclo menstrual. Pego a toalha e enrolo no meu corpo e saio do banheiro. Pelo horário, está só eu e a Daiane em casa.
— Dai! — Bato na sua porta.
— Aconteceu alguma coisa Em? Já acabou a aula? — Ela fala enrolando uma toalha no corpo também.
— Já faz um tempo. Você tem algum absorvente sobrando? Eu me esqueci completamente de comprar e meu ciclo começou hoje.
— Tenho sim. — Ela entra dentro do quarto e volta rapidamente com um pacote em mãos.
— Obrigada Dai. Amanhã antes da aula eu compro um e te devolvo.
— Pode ficar Emma. Não precisa devolver.
— Já que insisti. — Dou de ombros e volto para o meu quarto.

Depois de um banho relaxante, eu coloco meu pijama e me jogo na cama. Pego meu celular e mando mensagem pro Reziel. Sou respondida no mesmo instante. Milagres acontecem.

Boa noite!!!! Como vc tá?

Boa noite!! Eu tô bem. E com saudade de vc. 

Impossível não ter saudades de mim.

Agora pronto. Fico longe por uns tempos e fica todo convencido.

Nunca nem vi ╮(╯▽╰)╭

Como que estão as coisas aí? Alguma novidade??

Tirando que ninguém está se adaptando a sua partida? Encontrei a Panda hoje.

E como que ela tá? Estou morrendo de saudade dela. De todos vocês na verdade.

Está bem. Na verdade ela está até trabalhando já.

Isso é ótimo! E como que... Como que o Daniel está?

Em... Por favor não faz isso com você...

Eu preciso saber Reziel. Por favor. Me diz como ele tá.

Tentando não mostrar que está arrependido da merda que fez pra agradar a mamãe. Mas parece estar tão mal quanto você.

  Sempre odiei ver ele mal. Principalmente por causa desse monstro que ele chama de mãe.

Eu sei Em. Eu sei. 

Reziel eu vou dormir. Pois já está tarde. Até amanhã. Mesmo horário amanhã?

Claro. Até amanhã Maninha. 

Até...


AloneOnde histórias criam vida. Descubra agora