— Ainda é doloroso. As lembranças. Os momentos. O assunto em si.
Liam me olha com uma expressão solidária e segura minha mão.
— Não precisa falar pequena. Se não quiser. — Ele diz passando a mão pela minha bochecha e impedindo uma lágrima de cair.
— Obrigada por entender e não forçar a barra.
— Eu entendo como é. Esse é um dos motivos de não querer estudar na Lâmia School?
— Bem, eu acabei de sair de um relacionamento e de perder meus pais. Não estou pronta pra encarar um dos lugares que mais afeta o emocional de um adolescente.
— Eu te entendo. É doloroso certas lembranças.
— Eu sempre fui sozinha. — Que se dane as conseqüências. — A minha mãe de certa forma sempre deu mais atenção para a Daiane. Então tínhamos uma certa rixa uma com a outra. Mas eu fui deixando de ser sozinha ao longo dos anos. Há oito anos, especificamente, eu entrei no ginásio. Foi quando o conheci. Na verdade é bem patético o nosso primeiro encontro. — Falo enquanto me encolho na cama e abaixo a cabeça. — Eu estava saindo da biblioteca, apressada com alguns livros e papelada para apresentar um trabalho quando fui derrubada no corredor. Ele não pediu desculpas e saiu correndo também. — Falo dando uma olhada pra ele. — Foi aí que tudo começou.
— Em, não precisa fala se não quiser.
— Eu quero falar. Só não consigo! Juro pra você. — Engasgo com as lágrimas. — É tudo tão recente...
— Venha cá pequena.
Ele me puxa para seus braços e me aperta fortemente. Ele começa a passar a mão no meu cabelo e sussurra palavras reconfortantes.
Quando Liam me solta, passa a mão na cabeça em um gesto nervoso. Conheço ele a menos de um mês e já comecei a ficar habituada a suas manias.
— Quer dar uma volta? Não quero ver você encolhida dessa forma nessa cama em pleno sábado.
— E pra onde vamos? Vai fazer dois meses que cheguei aqui e não conheço nada ainda. E não estou muito afim de conhecer muitas pessoas.
— Que tal não irmos em um lugar onde tenha pessoas?
— E que lugar não tem pessoas Mr. Liam?
— A floresta sombria.
— Que nome brega. — Falo sorrindo.
— Também acho. Mas é só um nome. Então. Vamos?
— Posso trocar de roupa pelo menos? — Pergunto olhando para minhas roupas.
— Não mesmo. Vem do jeito que está.
Quando finamente chegamos, tenho notícias da Daiane. Steve vai ficar conosco por uma semana pra ter certeza que não tentará nada imprudente, (segundo a Dai ele pode ser bem idiota às vezes) então eu iria cuidar do meu cunhado. Estranho não?
No momento em que coloco os pés pra fora do carro sinto uma atmosfera completamente diferente. É bem mais aconchegante do que na onde eu morava no Brasil.
— Pra onde vamos? E por que estamos aqui?
— Quando eu era pequeno, minha vó me trazia aqui. Ela me dizia que era uma forma de manter tradições. Continuarmos ligados com os nossos ancestrais.
Ele pega a cesta na mão e sai na frente pra mostrar o caminho.
— Então é como se fosse uma forma de você se manter ligado a ela?
— De certa forma. Cuidado com o tronco. — Ele me entende a mão e a pego. — Minha família sempre prezou os velhos costumes.
— Isso é muito bom. De certo modo.
— Tirando a parte em que todos são propensos a mudanças.
Continuamos andando por vinte minutos até chegarmos em uma clareira. Quando Liam solta minha mão, sinto falta do seu calor. O que é estranho. Pois sentia a mesma coisa com Daniel.
E lá vamos nós novamente. Por menor que seja. Qualquer coisa que seja, me lembra dele. E isso é torturante.
— Sente-se aqui. Vamos refletir sobre a nossa existência nesse vasto universo.
— O que aconteceu com você hoje? Está tão filósofo.
— Livro você de uma aula e de uma cólica e sou recompensado assim? Que injusto senhorita Rodrigues.
Quando sento ao seu lado, meus pensamentos são invadidos por lembranças.Estava sentada no campo perto da escola esperando ele. Parecia que ele não chegaria nunca. Apoio o peso do corpo sobre os cotovelos e me inclino sobre a sombra. Mal deu tempo de me ajeitar quando sinto uma presença mais do que bem conhecida e bem vinda.
— Nossa. Você demorou. Esqueceu de mim foi?
— Não né amor. Tive que convencer a porteira a me deixar sair mais cedo.
— Interclasses?
— Uhum. — Ele coloca sua mochila no chão e se senta ao meu lado. — Oi. — Ele diz depois de me dar um selinho
— Oi. Como você tá?
— Eu estou bem melhor agora. Com você aqui. — Fala pegando minha mão e entrelaça nossos dedos. — Estava com saudades princesa.
— Eu também.— Você me escutou Emma?
— Desculpe. O que foi?
— Estava com os pensamentos no Brasil? — Ele me lança um olhar sugestivo.
— No meu melhor amigo. Eu acho. Sobre o que estava falando?
— Nada que tenha muita importância. Quer comer o que?
Olho para a toalha estendida no chão e vejo diversas coisas espalhadas pela mesma. Minha boca até saliva quando vejo um pavê. Imediatamente eu o pego.
— Tem alguma lenda regional aqui? — Pergunto após o ver pegar um pão de queijo.
— Depende da família.
— Como assim?
— Alguns anciãos acreditam que cada família descende de uma raça de sobrenatural diferente. Por exemplo os Wolf's, descendem dos lobos. Os Drummond's são descendentes dos elfos, e assim vai.
— Então os antigos acreditam que vocês são seres de um mundo sombrio? — Falo pegando uma uva e levando a boca.
— Tecnicamente sim. Há aqueles que acreditam que fomos amaldiçoados a não nos lembrar sobre nosso passado e que somos imortais.
— Isso é muita doideira. Mas interessante por certo ponto.
— Eu sempre gostei dessas histórias. Ajuda a fugir um pouco da realidade.
Olho pra ele por alguns instantes. Seu cabelo escuro cai sobre seus olhos claros e logo sua mão tira a mecha escura, a puxando para cima. Seu corpo está apoiado nos cotovelos, quase deitando na toalha xadrezada.
— Você me deixa intrigado quando me olha assim.
— Não imagino o motivo. — Digo sinceramente.
— Talvez seja seus olhos que mudam de castanhos escuros pata preto dependendo do seu humor. Ou seu jeito triste e perdido que me chama tanta atenção.
Em sua face, vejo uma expressão confusa, acompanhada por uma ruga entre as sobrancelhas.
— Talvez seja a sombra da garota que um dia eu fui.
Liam me olha novamente e balança os ombros. Eu me deito na toalha e coloco os braços embaixo da cabeça.Eu não estou mais agüentando essa situação. Todo santo dia eles encontram uma razão para brigarem. Seja pelo horário quem chegam em casa ou por quem está acompanhando. Isso está virando um inferno na terra!
Mais um grito. Mais algo se partindo contra a parede. Viro-me para o outro lado e pego meu celular. Não posso fazer muita coisa quando sou puxada da cama e atirada ao chão.— EMMA ACORDA! ACORDE EMMA.
— O que foi?
Estou com a respiração ofegante e Liam está com uma expressão assustada em seu rosto.
— Você está bem pequena? — Ele me puxa para seus braços e me aperta forte contra seu peito.
— Estou. O que aconteceu?
— Você adormeceu por algumas horas. Mas logo depois começou a se debater e gritar. Fiquei preocupado.
Desvio o olhar para o outro lado da clareira para evitar a tentativa de uma explicação.
— Quer ir embora? Já está escurecendo.
— Pode ser.
Juntamos todas as nossa coisas e colocamos na cesta.
Sem demorar muito já estávamos a caminho do carro.
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Alone
Romance"Quando finamente pensei que algo poderia dar certo, vem aquela notícia que desabou meu mundo..." O que poderia acontecer com a mudança de um país para outro e a descoberta de novas coisas na vida de uma garota que andava abalada tanto fisicamente...