Capítulo 4

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Era estranho sair de casa depois de tanto tempo. A Daiane conseguiu me arrastar pelo mercado com ela e não consegui evitar de pensar na mamãe. Ela me fazia acordar cedo em pleno sábado só pra ir fazer compras com ela no atacado. Odiava, ainda odeio, acordar cedo em fim de semana. E toda vez que mamãe me fazia ir com ela, eu era obrigada a empurrar o carrinho.
— Vamos lá Emma. Está com a lista que eu te dei?
— Lógico que sim né Dai. Sou mais responsável que você quando tinha minha idade.
Ela olha pra mim e da a língua num sinal de implicância.
Pode até não parecer. Mas Daiane é dez anos mais velha do que eu. E seu aniversário de 26 anos está se aproximando. Apesar da diferença anual, somos bem parecidas. Cabelos longos e escuros, pele clara e paixão por livros.
— Vamos começar pelo mais chato. Por favor. — Imploro quando pego um carrinho e ela o outro.
— Para de reclama menina! Eu vou comprar os produtos de limpeza e as coisas para o jardim. Você compra as coisas da cozinha e para seu quarto.
— Tabom. Nos encontramos aqui?
— Claro. É mais prático. E cuidado pra não matar ninguém com esse carrinho e a falta do seu senso de direção.
— Vai se ferrar Daiane!
Saio empurrando o carrinho e procurando a sessão de grãos. Quando encontro pego três pacotes de arroz, três de feijão, dois de açúcar e dois de trigo. Nunca entendi o porque tudo ficar tão longe um do outro. Logo começo a procurar pelas verduras. O bom de ficar com a comida é que a Daiane deixa eu comprar comer o que eu quiser. Pego alguns brócolis e alfaces, já colocando no carrinho enquanto procuro a batatas, tomates e cebolas.

Quando finalmente chego na melhor parte, que é a dos doces a parte de cima do carrinho está quase pela metade. E a de baixo está com as coisas da nova decoração do meu quarto. Estou andando no corredor de recheio para bolos quando percebo que a Nutella e o doce de leite estão na prateleira de cima. E infelizmente não alcanço por conta dos meus 1, 50 de altura. Olho para os lados pra ver se tem algum funcionário que possa me ajudar e não encontro ninguém além de um cara que está justamente pegando um pote de brigadeiro na prateleira do outro lado. Não acredito que vou fazer isso.
— Com licença senhor. Bom dia. Não queria incomoda-lo, mas gostaria de saber, se é possível pegar aqueles potes pra mim. É alto de mais para que eu possa alcançar. 
— Bom dia! Não é incômodo algum. E por favor não me chame de senhor só tenho 20 anos. Prazer em te conhecer, me chamo Liam. E você? — Ele indaga me entregando os potes de doces.
— Meu nome é Emma. Prazer em conhecer você. Muito obrigada por ter pego pra mim os doces.
— Não tem o porque agradecer. Eu também não entendo porque as coisas mais gostosas eles colocam na prateleira de cima. É nova aqui? — Ele diz empurrando o seu carrinho e eu empurro o meu para poder pegar as caudas de cerejas e chocolate que estão do lado esquerdo do corredor.
— Sim. Cheguei faz pouco tempo.
— Já está matriculada na Lâmia School?
— Hum? Ah, não. Vou estudar em casa. — Falo timidamente, afinal acabei de conhecer, vai saber quem é.
— Que legal! Essa semana eu começarei dar aula pra uma garota em casa também.
— É professor? — Indago supresa, afinal ele é muito novo.
— Sim. Me formei a dois anos.
— Qual sua matéria?
— Todas. Mas a minha preferida é história e português.
— Gosta de literatura? — Pergunto enquanto pego pêssego em calda.
— Sou apaixonado pela literatura. Gosto principalmente das obras de Dante. E você?
— Também sou cativada pelo Inferno de Dante. Mas minhas escritoras favoritas são Paula Pimenta e Cassandra Clare.
— Paula Pimenta? — Ele me olha com o rosto em uma expressão confusa.
— É uma escritora brasileira.
— Nunca ouvi falar. Quer dizer, talvez tenha ouvido mas não me lembro.
— É bem normal de acontecer não se preocupe. Mas os livros dela são apaixonantes.
— Imagino que sejam.
Quando entramos na sessão de salgadinhos, nem desvio o olhar do pacote da batata pigles. Liam olha pra ela da mesma forma que eu. E logo percebo que vai dar briga.

Eu mato a Daiane ainda! Hoje que ela me avisa que começaria as aulas e eu nem sei onde ela colocou meu material!
Sento no sofá da sala com o pacote de batatas em mãos. Logo começo a rir da briga de praticamente dois adultos por uma batata. A campainha toca e vejo Steve se encaminhar até a porta.
— Bom dia Steve. Como vai?
— Vou bem. E você?
Assim que ouço vozes arrumo minha postura no sofá dando espaço para Daiane se sentar.
— Por favor Em, não tenta por ele pra correr ok? Ele é um amigo nosso desde que entrou na faculdade. E fato de ser seu professor particular me preocupa.
— Credo Daiane. Acha que vou matar o cara?
— Não. Imagina. Agora me passa uma batata.
— Ah vai sonhando morena. Não foi você que teve que brigar no meio do mercado por essa batata.
— Às vezes me esqueço que você só tem 16 anos.
Reviro os olhos pra ela e levo um susto com a pessoa a minha frente.
— Você?!
— Não acredito!
— Emma. Esse aqui é Liam Wolf. Liam. Essa é minha irmã mais nova Emma.
— É um prazer conhecer você. — Eu digo dando uma piscadinha pra ele.
— O prazer é todo meu senhorita.
— Em. Aqui está seu caderno e seu estojo. — Daiane me entrega. Quando que ela saiu daqui?!
— Vamos amor. Quanto mais cedo a Emma começar, mais tempo ela terá pra decorar o quarto dela. — Steve diz pegando a mão de minha irmã e levando ela escada a cima.
— Melhor cuidar e ter cuidado com a minha irmã Mr. Wolf.
Ele da um sorriso de lado e se senta a minha frente. No momento em que nossos olhos se encontram caímos na risada.
— Por que não me disse que era irmã da Daiane?
— Você não perguntou. Quer uma? — Ofereço a batata com um sorriso sacana nos lábios.
— Você não existi garota! Meu braço ainda está todo marcado das suas unhas. — Ele gargalha enquanto pega três batatas.
— Vai achando que só porque é mais velho e o meu professor que vou te dar vantagem. Agora mudando de assunto. O que irá me ensinar professor Wolf?
— Vamos começar por história. O que me diz sobre o período absolutista?

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