Point Of View: Camila Cabello.
Dia 3.
Minhas pernas estavam jogadas em cima da mesa na minha frente, a exaustão gritava nos meus poros. O tempo que passei correndo para tentar tirar todo o estresse da semana foi gigante, e mesmo com todo meu preparo físico, meu corpo ficou completamente dolorido, eu havia passado do meu limite. Eu gostava de ultrapassar as barreiras impostas por mim nesse aspecto.
Me ajeitei novamente na minha poltrona colocando minhas duas mãos atrás da cabeça. Fechei os olhos por alguns segundo. A intenção era descansar um pouco, o que não aconteceu porque a porta foi aberta.
Praguejei mentalmente.
– Tenho um comunicado pra você, agente Cabello. – Dinah disse.
Fui obrigada a revirar os olhos diante daquela formalidade.
– Não vai cansar nunca de tirar sarro com minha cara? – questionei cruzando os braços e retirando meus pés de cima da mesa.
Dinah era a diretora daquela sede, uma das poucas mulheres dentro do FBI, ela era mais que isso: ela tinha poder no FBI. Ela era respeitada por todos e tinha minha admiração. Dinah era uma das pessoas mais próximas a mim, o mais perto de melhor amiga. Eu admitia Dinah era minha melhor amiga.
– Recebi reclamações de alguns recrutas dizendo que você está sendo muito rigorosa. – falou seriamente.
– Isso não é novidade pra ninguém. Você me conhece melhor do que ninguém é claro que eu sou rigorosa. E é claro que é nessa sede que se formam os melhores agentes. – rebati no mesmo tom de voz.
Dinah abriu um sorriso e eu não pude me conter.
– Camila, você não muda nunca. Senti sua falta.
– É claro que sentiu. – me levantei para abraçar a californiana. – Alguma reclamação verdadeira? – perguntei me afastando.
– Ninguém tem coragem de fazer isso, Mila. – ela riu novamente.
– Alguma novidade?
– Sim, acho que em breve você vai voltar a fazer missões. – respondeu.
– Quer missão maior do que treinar quarenta recrutas? – desdenhei com ironismo.
– Você sabe o que faz aqui é de extrema importância, Camila. Não seja tão resmungona.
– Eu gosto de ação.
– Então tenha, faça o que quiser aqui. Só não tá na hora de você voltar. Você tem que se adaptar.
– Sim senhora, Diretora. – brinquei.
– Mas garanto que vou fazer o possível pra você voltar rapidamente.
– Agradeço por isso.
– Vamos lá, quero conhecer a nova turma.
Andamos conversando sobre algumas coisas rapidamente, Thomas se juntou a nós no corredor dando um abraço caloroso em Dinah.
– Que bom que voltou. – ele pronunciou sorridente.
Seguimos para o auditório, Dinah assumiu uma postura seria, mas mesmo assim era descontraída diferentemente da minha. Thomas abriu a porta segurando para que eu e Dinah passássemos, dei um aceno com a cabeça em agradecimento.
– Bom dia agentes. – Dinah cumprimentou.
– Bom dia. – responderam olhando-a com curiosidade.
– Bom acho que todos sabem quem eu sou, mas vou me apresentar formalmente. Sou a agente Dinah Jane e também diretora dessa sede do FBI.
Todos os olhavam impressionados.
– Vim trazer uma novidade para vocês. Talvez seja uma péssima noticia para alguns... – prosseguiu. – Dinah apertou o botão do controle em sua mão fazendo um painel preto descer ao lado do quadro. – Apresento a vocês o quadro da morte. – ela observou as expressões surpresas. – O objetivo desse quadro é formar os melhores agentes, e bom, nem todos irão se formar. Os cinco últimos no final das suas semanas aqui não se tornaram agentes do FBI.
Alguns agentes abriram a boca, alguns tinham expressões de choque.
– Cada missão dada a vocês irão ter uma pontuação. O que acontecerão com os primeiros lugares vocês só descobriram se forem eles. – disse com um sorriso irônico. – Seja bem vindos.
Aprendi que as pessoas se esquecerão daquilo que você disse, esquecerão daquilo que
você fez, mas nunca esquecerão da maneira como você as fez sentir.Os murmúrios começaram na sala todos pareciam apreensivos, menos Lauren Jauregui. A confiança que transbordava daquela mulher era notável. Tudo nela cheirava a desafio, assim como eu quando entrei em quântico. Todos cheios de sonhos, expectativas, esperança. Contudo, não sabem que nem sempre podemos mudar o mundo ou ser significativo em alguma situação, ás vezes tudo o que nos resta são mãos atadas, pés empacados, e uma hesitação de três segundos que coloca tudo a perder, ás vezes o que nos restas são escolhas erradas em momentos onde tinha tudo para dá certo. Ás vezes o que nos resta é a frustração de culpas que não são suas ou os pesadelos constante por vacilar por um segundo. O que sobra em determinados momentos é a constante repetição.
O que eles não sabem é que você pode ser o melhor agente da academia, mas se você errar uma única vez, apenas uma única vez, você será crucificado pelo resto da sua vida. Eles vão te fazer sangrar, porque é melhor errar aqui dentro onde há espaço para erros. Porque no mundo real, não existe margens pra isso. Uma decisão pode engrandecer ou acabar com sua vida e carreira. A questão é que eu me divirto sendo a agente mal aqui dentro, mas nem tudo se trata de diversão, é disciplina.
Eles vão falar, sempre falam. Vão julgar, sempre julgam. Vão fazer você se olhar no espelho e se perguntar se o que dizem sobre você é mesmo verdade. Mas o que você é, tá aí dentro. A verdade, tá aí dentro. Basta você olhar com calma, e não acreditar em tudo que eles dizem sobre você.
Em alguns momentos da sua jornada, você vai tirar forças da onde nem sabia que existia. A loucura quase vai abraçar seu corpo frágil, mas você resiste não só a ela, como também a todos os outros tropeços que poderiam te desestruturar. Os tropeços podem até te destruir, mas você vai aprender a transformar instabilidade em estabilidade.
Então você passa a ser mais forte, a vida vai continuar falando para você crescer, crescer dói, embora seja necessário. Quando você olhar para o próprio corpo e perceber as feridas cicatrizando, respire aliviado. Mas se caso elas ainda estiverem abertas, apenas agarre-se à metáfora de que tudo, absolutamente tudo, passa.