Capítulo treze - Infectado

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Logo atrás uma multidão mórbida surgia, eram em torno de seis. No mesmo segundo que avistavam suas presas grunhiam selvagemente, elevando seus berros de agonia que ecoaram pelo corredor escuro e em suas mentes, aterrorizando cada canto. Suas faces se contorciam e as mandíbulas se abriam tal forma que poderiam quebrar a qualquer momento, aquela cena era indescritível, pavorosa, quase levando com eles a esperança que restava.

Levou poucos segundos, antes que eles iniciassem sua corrida pela extensão que os separavam. Dispararam como onças, ferozes, esticando as mãos para agarra-los de uma vez e acabar com suas vidas.

-- Corre!! -- Mael gritou, agarrando no braço de Lucy que parecia estar paralisada com a situação, e logo eles dispararam também, correndo por suas vidas. Seus corações batiam freneticamente.

-- O que a gente faz?! -- Ela gritou também, sua voz ecoando em tom de desespero.

-- Eu não sei, só corre!! -- Aquilo soou patético, de qualquer forma, ele mal podia pensar. Talvez alguma ideia surgiria conforme corria por sua vida.

Ele virou-se por um breve segundo, para encontrar com o murgo que estava a poucos passos, cambaleando, mas o perseguindo sem parar. Não pode ver logo a sua frente o cadáver estirado no chão, ao qual o fez tropeçar e ir para o chão. Seu braço o atingira com um baque surdo, e logo atrás vinha a criatura, que se jogara para cima dele. Antes que pudesse atingi-lo em cheio, o garoto girou seu copo ao lado e evitou de ser pego, esgueirando-se pelo piso a fim de afastar-se.

O murgo era persistente, e mais uma vez, avançou. Mael defendeu com os braços, forçando os ombros da criatura que grunhia em seu rosto, o líquido que escorria de sua boca respingando em tudo a sua volta, inclusive no garoto.

-- Mael!! -- Lucy parou de correr quando notou que o garoto não mais a acompanhava, e quando viu que ele fora pego por um deles, ela desesperou-se. Para seu temor, os outros cinco também se aproximaram cada vez mais, ela viu-se em um corredor sem saída. Sacou sua arma, e sem mais opções, disparou contra eles.

Em dado momento, quando seus músculos falharam em conter o murgo, o bendito cujo caiu para sua direita e agarrou seu braço com as duas mãos, onde o abocanhou. Mael gritou, a dor irradiando por seu corpo inteiro e lhe fazendo contorcer-se, aquilo ardia e queimava, como se rasgasse sua pele e jogasse acido por cima. Ele usou das forças que tinha nos pés para chuta-lo, e quando o mesmo caiu para o lado o garoto se apressou para pegar o canivete que encontrara mais cedo, olhou para cima e o murgo já se levantava mais uma vez para agarra-lo. Ele levantou-se também, e usando de seu braço que ainda possuía força, atingira o instrumento no meio do crânio da criatura. Ele finalmente caiu, um único grunhido revelava que havia sido derrotado. 

O garoto grunhiu, só assim soltando a respiração que nem ao menos sabia que prendia. Ele pressionou a ferida, o sangue fluía rúbido sobre suas vestes as manchando, estampando a dor exorbitante que sentia como mil agulhas perfurando-lhe a pele. Mordeu o lábio quando fez mais força, tentando conter o sangramento.

-- Você tá bem? -- Lucy abaixou logo ao lado -- Tá tudo bem??

Ele não conseguiu responder, aliás, mal precisou, Lucy arregalou os olhos quando viu a marca dos dentes do murgo e o sangue que escorria, levou as mãos até a boca, sem outra reação além de surpresa e medo.

-- Ah meu Deus.. -- Ela sussurrou. Mael sentiu medo, ele não queria virar um deles, não queria virar um monstro inconsciente. Só então se permitiu sentir o desespero.

Ele se levantou, quase cambaleando, não deixando de pressionar a ferida.

-- Tá tudo bem. -- Disse, tentando amenizar e enganar a si mesmo. Ela se aproximou, analisando bem a mordida, sentiu o coração apertado, temendo pelo garoto que fora mais uma vítima de todo o horror. Mais uma vez os grunhidos mórbidos ecoaram pelos corredores, diante deles, os que não estavam mais vivos estavam calados, derrotados com um único acerto preciso no crânio, não vinha deles. Haviam mais do que esperavam, e estes estavam ficando cada vez mais próximos, guiados por seus extintos falhos que apenas os ensinavam a correr atrás de carne viva.

-- Vamos, a gente tem que encontrar o Jin e o Liu. Vamos dar o fora daqui. -- Ela disse e ele não a contrariou, mesmo que fadado a virar um murgo, não queria se juntar a eles ainda. Mael tentou esquecer a dor que irradiava de seu braço, e juntos eles seguiram pelo corredor.

Ao menos sabiam o que os aguardavam adiante.

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-- Aqui, pega, fedelho. -- Jin mirou na direção de Liu e atirou duas latas, ele agarrou uma, quanto a outra foi para o chão e teve a lateral amassada.

Liu lhe revidou um olhar nada agradável.

-- Para de brincadeira. Eu quero sair logo desse lugar, vamos logo com isso. -- Disse mal-humorado e abaixou-se para recuperar a lata que estava no chão. Ele colocou as duas em uma das bolsas de pano, parcialmente vazia. Não sobrara muita coisa naquele local, o que era estranho, uma semana atrás quando estavam na cidade aquele hospital ainda estava cheio. 

Jin pulou da cadeira que usara para alcançar as prateleiras de cima, aterrissando no chão.

-- Bebezão. -- Ele zombou. Pegando mais três latas empoeiradas, as últimas daquele lugar. -- Acho que acabamos com tudo.

Ele pegou uma das sacolas cheias, já Liu pegou as duas quase vazias. Deram dois ou três passos, e Liu já agradecia mentalmente por finalmente se livrar daquele cheiro horrível. Fora quando um estrondo rompeu o ar, ecoando por todas as áreas daquele hospital, inclusive dentro de suas mentes.

-- Isso.. foi um tiro? -- Liu sentiu um gosto amargo tomar conta de sua garganta. Ele estremeceu.

Jin encarava o ar, sentindo o quanto ele estava pesado e fúnebre. Aquele som rasgou seus ouvidos, e o fez enrugar as sobrancelhas.

-- Vamos. -- Sem esperar mais, ele começou a correr na direção ao qual ouvira o barulho, e Liu o seguiu, se questionando o que causara aquilo.

De qualquer forma, qualquer coisa que causara aquilo, indicava um prelúdio de algo terrível.

O caçador de mentes ( REESCREVENDO )Onde histórias criam vida. Descubra agora