Capítulo oito - Anunciação

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Mael sentia como se seu corpo se afundasse em um mar profundo. O tilintar das ondas tamborilavam em seus ouvidos, e atenuando a consciência brevemente perdida ele tentou mover qualquer músculo, tentou mover as pernas, os dedos e nada, sequer obteve resposta de seu corpo. Seus olhos estavam bem abertos, ardendo freneticamente de um lado ao outro sem parar, tentando localizar qualquer um dos perdidos ou qualquer outro ser humano que não estivesse semi-morto.

— Muito bem. — Ouviu a voz oscilando próximo aos ouvidos. — A primeira fase está quase concluída.

Aquele tom de voz era extremamente familiar, mas ele não pode associar ao de ninguém que conhecesse; talvez conhecesse, mas a mente escassa não lhe ajudaria mesmo que tentasse com todas as suas forças. Ele atenuou bem os sentidos, tentando identificar com os olhos e ouvidos.

— Mael, você está pronto? — A voz lhe perguntou, uma nuance revelou cabelos grisalhos de um homem.

— Estou. — Ele ouviu sua voz, mas sabia que não tinha falado nada. Aliás, ele tentava falar, mas seu corpo inteiro falhava em responde-lo de qualquer forma, era como se ele perdesse todas as suas capacidades cognitivas e mais uma vez estava prestes a despertar em um deserto.

— Ei, novato, está vivo?!

E os olhos se abriram.

Ele ofegou, sentindo um forte palpitar dentro do peito que subia e descia freneticamente, a luz forte do sol decaindo sobre a sua face e olhos o obrigando a crispa-los enquanto ele levantava o corpo de uma vez só sobre a rede. A cabeça girou e girou, assim como tudo em sua volta, e ele sentiu que quase iria para o chão.

Ele captou em sua frente pares de olhos azuis como o céu antigo, e quando os borrões do sono se foram ela estava logo em sua frente, fitando bem o rosto suado do rapaz e as bochechas ruborizadas.

— Você está bem? — Ela perguntou, uma careta se formando em sua bela face.

Mael ofegou pela última vez, trabalhando sua mente para convencer a si mesmo de que havia acordado, e agora mais um dia no acampamento se iniciaria, já podia ouvir os ruídos de atividade e o cheiro forte de tempero inundar o ar. Ele engoliu a saliva acumulada em sua boca, molhando a garganta extremamente seca.

— Estou.. tá tudo bem. — Ele disse sobre suspiros árduos. A garota no entanto sorriu.

— Pesadelo?

Mael a encarou de volta, tendo a visão dificultada pela forte luz do sol ardente e escaldante.

— Eu acho que sim. — Não sabia se podia associar aquilo a um pesadelo, afinal, não sabia o que havia de mal naquilo. Mais um pouco e só se lembraria parcialmente daquele sonho, já que a mente custou até mesmo para lembrar de seu próprio nome.

— Já que está tudo bem, vamos, Benny pediu para que eu te acordasse.

— Hã.. que horas são? — Perguntou a ela, confuso, torcendo para que não tivesse passado tempo demais dormindo mais uma vez.

O garoto girou o corpo para fora da rede e levou seus pés descalços ao chão, recuperando seus sapatos; estes não eram mais as mesmas botas de quando acordara, mas os perdidos lhe ofereceram roupas novas já que as antigas fediam a suor pelo tempo que passara no corpo. Agora era apenas uma camiseta azul marinho sem estampas, calças surradas e um par de sapatos comuns, provavelmente todas as peças retiradas da cidade após o caos tomar conta dela e os vendedores partissem deixando mercadorias para trás. Os sobrevivente se apossaram desse abandono repentino.

— Eu sei lá, Nove ou dez, por aí..

Ele arregalou os olhos e levantou seu rosto a ela, embasbacado.

O caçador de mentes ( REESCREVENDO )Onde histórias criam vida. Descubra agora