Cap 21 - É Real

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Gabrielle estava nos seus dias de isolamento, não saia de casa ficava só o tempo necessário em qualquer outro cômodo e logo voltava para seu casulo.

Era pela tarde, ela estava desenhando algo no seu caderno sentada no assento da janela ela deixava a sua mente voar, não pensava em nada e ao mesmo tempo pensava em tudo.
O celular estava na cama, toca, sem saber quem é ela atende.  Ela não esperava que justamente eu ligasse, Gabrielle não sabia o por que realmente saiu de casa naquela tarde.

Foi como um rio que se entrega ao mar.

Eu estava na praça, esperando por ela que parecia que não viria afinal, eu esperei quase uma hora e meia para ligar novamente, mas antes de completar a chamada eu vejo ela chegando onde eu estava.

Ela vestia um vestido leve próprio de verão, pregueado com mangas curtas, era azul claro em cima mas a cor ficava mais escura aos poucos até a saia, tamanho médio, usava com seu inseparável Alt Star, mas desta vez também azul, quase preto, cabelo solto como de costume.

Gabrielle senta perto de me no banco da praça, não fala nada um bom tempo presa nos seus pensamentos sobre o porque esta aqui.

- Quer saber por que te chamei? - digo, já era fim de tarde, 17h30

- Sim. - Gabrielle responde desanimada, sem olhar diretamente para mim.

- Lembra que eu falei que ia te ensinar uma coisa?

- A não chorar por medo. - ela fala, achando impossível.

- Na verdade a chorar pelos motivos certos... Não pense que o medo é algo ruim.

- É claro que o medo é ruim. - Gabrielle me encara, cruzando os braços irritada, o medo ultimamente tem sido uma barreira para a arte dela afinal.

- Não é não, eu posso te explicar. - falo me sentando de frente para ela. - Lembra do quadro que fez para a primeira fase da exposição, você pôs o nome de Show de Cores, eu lembro bem do céu que te mostrei no parque e também lembro do seu quadro, eles se parecem, mas não são um retrato um do outro. O céu que pintou quando você viu sentiu medo dele e quando você pôs ele na tela, todo mundo sentiu o que você sentiu.... Que era real, mas visto por um olhar atento aos detalhes como se você realmente tivesse colado aquele céu do seu sonho no papel... Seu medo fez você ter atenção, observação... Naquele instante você ficou sensível... Uma folha te derrubaria mas nem um furacão te distraia.

- O medo me ajudou a pintar melhor? - Gabrielle pergunta tentando entender com vergonha.

- De certa forma, porque ele te deixou sensível ao que acontecia ao seu redor. - respondo rápido.

- Como sabia que era um sonho meu? - Ela pergunta tímida, olhando para seus pés.

- Senhorita Polo, quer viajar comigo? - convido me levantando do banco da praça com meu melhor sorriso.

- Viajar?! Para aonde?! - Gabrielle pergunta assutada e rindo.

- Vem, prometo que ainda hoje estará em casa. - estendo minha mão para ela. - A gente nem vai sair da cidade.

- Então... Por que chama de viagem? - ela cruza os braço fala com os olhos quase fechados.

- A Senhorita sabe que também existem viagens curtas? - riu para ela, isso enfim a convence a pegar minha mão estendida.

Gabrielle não solta minha mão eu não queria que ela soltasse, assim era mas fácil guiar ela para aonde eu queria ir. Eu ando devagar pelas as ruas de Finís, não havia muito movimento, a gente atravessava a pista sem problemas.

- Estamos indo para o parque? - Gabrielle pergunta curiosa como sempre.

Já estávamos no portão de trades do parque eu entro de uma vez puxando Gabrielle pela mão, nós andamos até uma porta no muro percebo que ela ficou tensa, anos morando naquela cidade frequentando muito esse parque e ela nunca tinha visto esta porta.

A porta em especial não podia não ser notada, era enorme de vidro liso, mas a cor era vermelho escuro, Gabrielle nunca tinha visto algo parecido.

Eu coloco a mão sob a porta que emite um som como um pulsar de um coração ela se desliza para o lado devagar abrindo o caminho para nós.

XxxX

De repente Gabrielle ficou pálida, seus olhos lacrimejando, ela estava no palco de um de seus sonhos.

Era uma campina verdejante, os ventos estavam fortes, no sonho ela estava no meio da campina, agora ela estava ao meu lado sobre o monte, de cima tudo parece menor.

- Co-mo a ge-n-te chegou... Aqui?! - Gabrielle respirava com dificuldade, o que me diz que ela está com medo.

- Pela porta vermelha de vidro no parque. - falo o óbvio, - Não se preocupe Senhorita Polo eu estou perto de você desta vez. - termino, com meu sorriso mais confiante.

Gabrielle me encara pedindo mais informações mas agora não era o momento, eu me sento no chão na grama admirando as nuvens negras no horizonte, por fim Gabrielle faz o mesmo.

Lado a lado eu começo a desvendar para Gabrielle o sentido do seu sonho.

- Vem vindo uma tempestade. - falo sorrindo vendo as nuvens se aproximando devagar.

- Não é melhor sair daqui? - Gabrielle fala com medo, para ela ficar ao ar livre em cima de uma montanha em meio a uma tempestade não é seguro.

- Está certa.

- É melhor sair daqui?

- Não sobre isso - sorriu para ela - Sobre o que você pensou... que não é seguro ficar aqui quando a tempestade chegar.

- Como sabe o que eu pensei?!

- Não tenha medo Gaby, eu estou aqui.

Gabrielle fica confusa por um tempo, seu pensamentos iam e viam sobre o que era aquilo, mais um sonho?

- Gabrielle, pegue nisto. - falo firme, tentando convencer ela que isto não é um sonho, aponto a grama onde estamos sentados.

- Grama. - ela fala para sí mesma, ela arranca um punhado do piso.

Eu estendo a minha mão para ela tocar também.

- O que sente? - pergunto, com ela apertando minha mão com força.

- Sua mão.

- É real, Gabrielle você está aqui... Comigo. - eu falo encarando seu olhos castanhos - Se permita está aqui comigo.

Gabrielle respirava pesadamente, mas estava começando finalmente a viver essa nova experiência. Eu preciso que ela entenda que tudo é real, senão ela só se lembraria de me como um sonho seu que não se repete.

Eu não quero ficar em uma tela escondido no quarto em um canto, preso em uma parede ou pior junto das outras lembranças que não queria lembrar.

- É Real. - Gabrielle fala por fim.

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