André vai se casar

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— Juli! Não acreditooooo! É você mesmo? Caramba! Quanto tempo, mulher!

— Pois é, eu sumi um pouquinho, não foi?

— Você chama quatro anos sem notícias, sem uma mensagem ou postagem nas redes sociais de sumir um pouquinho? Sério! A gente já não sabia mais o que fazer para ter notícias suas. Como você está? O que tem feito? Por onde anda? Me conta tudo!

Juli sorriu ao ouvir a voz vibrante do outro lado da linha. Quando se lembrava da vida que tinha no Brasil, era das amigas que mais sentia falta. Dos encontros em cafeterias, das idas ao cinema, dos jantares que ela proporcionava em sua casa só para elas. No seu primeiro ano de Europa, mais precisamente na Itália, ela viveu de modo quase eremita, como quem quer contrariar o mundo: "Olha, estou na Itália e não ligo para nada disso!". Optou por não fazer amigos quando morou em Costigliole d'Asti, enquanto cursava mestrado em cozinha e enologia italiana sem conhecer nada da região de Piemonte. Finalizado o curso, pegou suas coisas e foi para Parma, com a ideia de adquirir novos conhecimentos em massas na mais conceituada academia italiana. Ainda precisando ocupar a mente, depois de Parma, rumou para a região da Toscana, onde trabalhou em alguns restaurantes, desafiando o clima romântico da região com sua amargura e rabugice. Seus dias se resumiam a cozinhar, beber e dormir. Não fazia turismo, não conhecia pessoas, não se socializava. À noite, para expurgar André Di Bianchi de suas lembranças, bebia vinho. Já se foram muitas garrafas. Mas dizem que é assim mesmo; um grande amor leva tempo para curar. Independentemente das mudanças que ocorriam nela, das cidades por onde passava ou das pessoas que entravam e saíam de sua vida, André era uma sombra teimosa que insistia em permanecer em seu coração.

Juli chegou a enlouquecer de saudade, perdida em uma espiral de dor, angústia, remorso e tantos outros sentimentos que consumiam sua energia. Varava noites em claro revivendo seu casamento; o que deu certo e o que deu errado. Escreveu cartas sem enviá-las, planejava retornos, encenava diálogos. Quando fechava os olhos, depois da terceira ou quarta taça de vinho, conseguia reconstruir a imagem de André em sua mente. Traço por traço. Ela prendia a respiração, fechava os olhos e deixava-se levar pelas lembranças. Seus olhos, seu nariz, seus lábios. Ah, os seus lábios! Nunca conhecera tamanha dor e chegou a pensar em dar um fim à sua agonia. Com o tombar dos meses, no entanto, o turbilhão foi dando lugar a um vazio. Ultimamente, quando pensa em André, seu grande amor, sua figura surge nebulosa, como um borrão meio deformado. E uma coisa nova que agora crescia dentro dela, tomando o lugar de antigos sentimentos. Não era mais amor. Era algo horrível, forte, peçonhento. Ela se alimentava disso. E gostava.

— Ai, Mariana! Você não imagina como sinto falta de vocês.

— Não me enrole e conte tudo. Tudo.

Juli fechou os olhos para tentar imaginar a cara da sua amiga, do outro lado da linha. Para sua surpresa, uma figura borrada foi tudo o que encontrou.

— Ah, hum, vejamos... passei algumas temporadas na Itália, Espanha, Grécia...

— Grécia! Meu Deus! Sou louca para conhecer a Grécia. O que você fez lá?

— Trabalhei na cozinha de um grande resort de Santorini durante um verão inteiro. Foi muito enriquecedor.

— Santorini?! Que delícia! Deve ser lindo, não deve? Conheceu algum deus grego?

— Nada de deuses gregos. Foi só trabalho mesmo.

— Jura que passou um verão no paraíso e não rolou nada?

— Eu ainda não estava em condições, Mari. Você sabe.

— Ah! Entendi. É... Eu imagino.

Juli percebeu o silêncio constrangedor e não soube como desfazê-lo. Não queria tocar no assunto logo de cara. Queria saber do André, claro. Mas não como ex-esposa e sim como futura concorrente.

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⏰ Última atualização: Apr 23, 2019 ⏰

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