I Don't Like You Anymore, Capítulo 2

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Alexander

Minha cabeça estava girando, provavelmente por causa dos conhaques que tomei mais cedo e eu só queria que ela parasse com aquele circo. Estávamos em um hotel próximo ao local do show. Os caras e Geoff, nosso empresário, estavam nos quartos ao redor e tive a certeza que ouviam tudo.

Desejei estar sóbrio para ela não ter o argumento de que eu não falava sério porque tinha bebido.

Eu nem lembrava mais qual era exatamente o motivo da briga, pois ultimamente os mesmos eram pequenos e frequentes. Suspirei pesadamente.

- VOCÊ PODERIA AO MENOS TENTAR...

- Lou, - interrompi o monólogo - chega disso. Eu tô cansado, tenho um show mais tarde, ok?

Louise me encarou, os olhos me fuzilando, as mãos na cintura.

- SE ESTIVESSE TÃO PREOCUPADO COM O SHOW NÃO TERIA BEBIDO TANTO.

- Tudo bem, você está certa, me desculpa. Era isso que queria ouvir? – levantei da cama e fui até o banheiro. Lavei o rosto, me preparando psicologicamente para a réplica.

- Não adianta, não é? – ela perguntou quando entrei no quarto novamente.

- Escuta - falei pausadamente -, eu não quero ir pra França na folga. Eu não quero viajar, eu quero ficar aqui e descansar. Só isso. Não quero ser rude, mas você pode ir se quiser.

Já passamos tanto tempo distantes mesmo.

- Sempre eu que tenho que ceder? – ela fez cara de choro.

- Quantas vezes eu não já cedi? – massageei as têmporas. De novo o jogo do "eu-faço-tudo-por-você-e-você-não-faz-nada-por-mim". Mas não era verdade e eu já tinha noção de que era um jogo. – Escuta, eu cedi. Mudei a rota da turnê para passar mais tempo com você. Tentei realizar todos os pedidos que você fez, direta ou indiretamente. Até mesmo coisas que eu não faria, como ignorar fãs por nada.

- Bom, você realmente queria dar atenção à gente surtada, é isso?

- Não precisávamos ter saído correndo.

- Eu só estou pedindo...

- Chega Lou.

Eu estava no meu limite e eu não queria gritar, ser estúpido ou qualquer coisa assim.

- Eu... – hesitei – Não acho que isso esteja dando certo. Você não parece feliz e esse é o propósito de um relacionamento. É a distância, é a rotina, são os fãs... Sendo que sabíamos de tudo isso desde início... São as fotos que você pede para eu posar... É você querendo fazer todos os caprichos da sua mãe e me incluindo nisso – suspirei – é exaustivo. Temos visões diferentes sobre isso.

Louise sentou-se na cama, de costas para mim e eu acendi um cigarro, esperando a resposta. Que seria muito calma ou muito explosiva, sem meio termo. Em partes eu preferia que ela gritasse, pelo menos eu saberia o que ela realmente pensava. Depois de minutos em silêncio, ela disse apenas:

- Pense se é isso mesmo... Que você quer.

[...]

Entrei na banheira depois de estar aliviado por ter pedido um quarto separado para mim. Fingi que não vi a sobrancelha da recepcionista se erguer quando fiz o pedido, mas eu precisava ficar sozinho. Não estava sofrendo, pelo menos não naquele momento, mas sabia que não tinha mais nada a se pensar. Eu não passaria por mais estresse do que o necessário. Isso não era felicidade.

O álbum Walls And Bridges de John Lennon tocava ao fundo e eu imaginava se ele se sentia solitário assim quando percebia que seus relacionamentos não estavam dando certo...

Possivelmente mais violento do que solitário, pelo menos no começo. Nada para se vangloriar.

Ouvi alguém à porta.

- QUEM É? – BERREI.

- SIR JAY.

- Pois entre, Sir Jay. Estou na banheira!

Jamie apareceu na porta do banheiro. O rosto indecifrável, muito sério. Fiz sinal para que ele abaixasse o som. Sentou-se no banco ao lado da banheira e juntou as mãos, me encarando.

Bufei.

- Ela foi te contar?

- Cara – ele riu e disse numa voz mais fina – "convençam o Alex de que isso é uma besteira, de que não é necessário, de que é um erro".

Eu ri alto da imitação péssima.

- Ela não para de reclamar, logo, não está satisfeita. Não está feliz, então, por que a insistência?

- Eu não sei, cara. Mas ela apareceu lá com aquela cara de choro...

- E NENHUMA LÁGRIMA! – dissemos em uníssono e rimos.

- Sinceramente – peguei minha taça de vinho – você não é um bom mediador, debochando de sua cliente, senhor advogado.

- Eu só estou dando meu depoimento – ele ficou sério de novo – Al, falando sério. Todos os relacionamentos tem problemas, sabe? E se você não tent...

- Jay, eu sei disso – interrompi – apenas não me sinto como antes sobre nós dois. Você não precisa fazer aquele discurso de "Alex, você está ficando velho, precisa sossegar com alguém".

- Ué – exclamou ele – eu nunca disse isso!

Jamie era o cabeça da banda, o cara de família "casei-tive-filhos-e-está-tudo-bem-vocês-deveriam-tentar". Eu amava isso nele, mas não era a minha hora.

- Não com essas palavras – respondi e tomei um gole de vinho – sabe, Jay... Eu não me sinto mais como antes. Acho que estamos saturados. Nós dois, juntos e separados. Mas ela não admite.

- Pense um pouco sobre isso – ele suspirou – e vê se para de beber, isso vai ser televisionado.

- Eu estou bem, Jay. Na verdade, estou ótimo – respondi sem muita certeza.

Ele levantou uma sobrancelha.

- Te vejo mais tarde, Al. Depois do show temos uma festa para ir, então deixa para encher a cara lá.

- Aqui e lá, você quis dizer.

Ele riu e saiu.

[...]

Estar no palco sempre clareou meus pensamentos, apesar das luzes, dos flashes, do sentimento de não merecer tudo aquilo... O sentimento de confusão de não entender como tantas pessoas se identificavam com o que eu escrevia, com o que eu sentia. E setenta mil pessoas... São setenta mil pessoas. A energia, as vozes em uníssono, o êxtase a cada música...

Isso clareia as ideias sobre o que você ama ou não. E eu me sentia exausto.

Ela estava a minha esquerda do palco quando acabou... Passei por ela suado, cansado e suspirei:

- Sim, é o que eu quero. Me desculpe.

Ela foi para a saída onde os carros ficavam e eu fui para o camarim.

Love Is A Laserquest - Alex Turner Fanfiction (Arctic Monkeys)Onde histórias criam vida. Descubra agora