Bad Habits, Capítulo 20

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São Paulo, Brasil. Oito de Maio de 2019.

Ariana

O nome dele não saía da minha cabeça. Eu ria, debochando de mim mesma e da situação em que me coloquei. Lembrei de quando li Lua Nova e falei "impossível ficar catatônica por causa de um homem". Ora ora.

Minha mãe tentava me animar a todo custo, mas eu estava destruída, para dizer o mínimo. Eu tinha arrancado todos os pôsteres do meu quarto, deixando somente um com o rosto dele. E passava o dia inteiro sentada na cama encarando o maldito pôster. Meu estoque de bebidas e cigarros acabava e eu me movia somente para comprar mais e me enfiava dentro do quarto de novo. Eu queria sentir uma dor que não fosse psicológica.

Ele me ligava todos os dias.

Todos os dias eu queria atender e dizer o quanto eu o amava.

Mas a lembrança dele deitado na cama com aquela mulher me deixava louca. Eu não conseguiria perdoar aquilo.

No terceiro dia uma ligação diferente me motivou a atender o telefone. Chamada de vídeo de Jamie.

Ajeitei os cabelos e atendi.

- Olá Ari - saudaram. Jamie e Katie apareceram na tela, Forrest no colo dele.

Meu coração ficou quente.

- Olá meus amores! Como vocês estão?

- Preocupados, na verdade - Katie constatou - você saiu e não deu mais notícias. Como você está?

- Estou bem - menti - tentando por as coisas nos eixos, você sabe. 

- Você não parece estar falando a verdade - constatou Jamie enquanto Forrest tentava pegar o celular. Sorri.

- Eu não sei bem o que dizer sobre isso. Mas devo dizer que tudo que precisarem sobre o projeto do álbum, eu vou continuar providenciando. Eu só preciso de um tempo.

- Pode ficar tranquila sobre isso - disse ele - nossa produção está parada.

Eu não queria perguntar o porquê, mas meu coração nunca obedece minha mente.

- Por quê?

- Bom... Posso falar? - indagou Katie olhando para Jamie e ele assentiu - Alexander pirou, Ari. Ele não faz mais nada. Ele só bebe, fuma, cheira e retorna pro mesmo ciclo.

Eu não estava melhor. As únicas vezes que saí foi pra usar porcaria em balada e voltar para casa com mais para meu estoque. Não funcionava, quanto mais alta eu estava, mais eu pensava nele.

Ele estava sofrendo também. Achei reconfortante, pelo menos eu não estava na merda sozinha. Ao mesmo tempo, a possibilidade dele estar tão mal quanto eu me doía, como se sua dor me machucasse mais do que a minha.

Suspirei.

- Estamos na mesma - sorri como se aquilo fosse bom - não há o que ser feito.

Eles se entreolharam.

- Você não pretende voltar, não é mesmo? - Jamie perguntou.

- Não Jay. Não pretendo - apoiei o celular na perna e acendi um cigarro - eu não sei o que fazer, mas não pretendo.

- Eu sinto muito - disse Katie - vocês eram um casal e tanto.

Sorri, triste.

- Obrigada Katie. Sinto falta de todos vocês. Vou tentar fazer visitas depois. Vocês me receberiam?

- É claro que sim! - disse Jamie - você pode vir quando quiser. 

- Isso é ótimo! - sorri - Obrigada pela preocupação, pessoal. Preciso ir agora - menti - adeus Forrest, meu fofinho. 

Ele acenou dizendo tchau.

- Adeus pessoal!

Eles acenaram e eu desliguei a chamada para chorar em paz.

No dia seguinte, acordo com pancadas fortes em minha porta.

Mas que diabos...

Olhei o relógio. Duas horas da tarde.

- Quem é?!

- Quem você acha que é, sua puta? Abre essa porta.

- Olivia, me deixe em paz!

Me enfiei debaixo dos meus cobertores e afundei meu rosto na camiseta dele que eu tinha ali, sentindo seu cheiro. Eu não queria falar com ninguém.

- Ariana, eu sei arrombar portas.

Suspirei exasperada, levantei e abri a porta.

- Minha nossa senhora, você está horrível.

Eu sabia que estava.

Se eu sou tempestade, ele era o furacão.

E eu estava devastada.

- Obrigada Olivia, era só isso?

- Cale a boca, me deixe passar - ela entrou no quarto e olhou em volta - interessante. Cigarro, LSD e cachaça. É isso que você quer pra sua vida?

- Eu não tô nem aí - respondi fechando a porta.

- Pois deveria. Dia 15 é seu aniversário e eu gostaria que se você durasse pelo menos até o ano que vem para eu poder dizer que você entrou no clubinho da morte aos 27 quando alguém perguntasse. Se continuar assim, não chega nem aos 26.

- Grandes merdas é aniversário. Numa quarta-feira, ainda. Tô pouco foda-se amiga, desculpa.

Peguei uma garrafa de conhaque embaixo da cama e sentei na poltrona. Ela me encarava, os olhos preocupados. Eu sabia que o deboche escondia preocupação. Ela deu uma volta em seus próprios pés analisando o quarto e parou olhando o pôster.

- Ariana - ela suspirou - se você não consegue viver com isso, talvez devesse resolver.

- Eu vou fazer o que? Eu vi, Olivia, ninguém me contou nada. Quer que eu o perdoe e aja como se nada tivesse acontecido?

Meu coração doía demais, mas era bom ter ela ali. Ela se sentou na minha cama e corri para seu colo, chorando desesperadamente.

- Eu o amo tanto, Oli. É tão injusto!

Ela acariciava meu cabelo dizendo "pode chorar, Ari" e "tudo vai ficar bem". Eu me senti tão grata que chorava mais ainda. Quando eu finalmente me acalmei ela disse:

- Sua mãe está preocupada. Ela não consegue falar com você, sabe que aconteceu algo entre você e Alex, mas não sabe o que.

- Não quero contar. Ela vai me achar burra e talvez esteja certa.

- Eu sei. Mas tente fazer um esforço.

- Eu não sei, Oli. Eu só quero que isso passe.

- Pense nos seus irmãos.

Suspirei. Ela estava certa.

Nos dias que se seguiram eu tentei conviver com a minha família pelo menos alguns minutos por dia. Antes de beber ou qualquer coisa assim eu tomava um banho, penteava os cabelos e tomava café da manhã com eles antes de mamãe e Diego irem para o trabalho. João saía para a escola logo em seguida e eu ficava sozinha novamente com as minhas mágoas.

Pelo menos sabem que estou viva. 

Alguns jornalistas e fotógrafos começaram a rondar minha casa e aquilo me deixava mais apreensiva ainda de pôr a cara para fora. Chequei as notícias e vi minha cara estampada em matérias sobre Alex. Meu coração era arrancado a cada vez que lia o nome dele. "Namorada tropical", "Novo affair de Turner", "Nova namorada de Alex Turner é brasileira". Bufei, incrédula. Como eles tinham descoberto onde era minha casa? Aparentemente eles não sabiam que eu estava ali, mas ainda assim, achei absurdo.

Descobriram tarde demais, não há mais relacionamento para se perseguir.

Olivia vinha todos os dias checar como eu estava já que eu deixava meu celular desligado. Eu não queria cair na tentação de atender as ligações dele. Eu não queria ouvir as desculpas esfarrapadas que ele provavelmente me daria e cair em seus braços, desesperada. Eu não merecia aquilo, por mais bêbado que ele estivesse.

Mas mesmo com tudo isso pairando na minha mente, eu o queria mais do que nunca.

Love Is A Laserquest - Alex Turner Fanfiction (Arctic Monkeys)Onde histórias criam vida. Descubra agora