A semana passou correndo. Muitas tarefas, e muita quentura, me sentia no próprio inferno. E para piorar, eu era obrigada a trabalhar em frente à casa toda manhã, o que significava ver uma mulher diferente saindo da casa do Senhor Feudal a cada dia. É nojento demais. Sei que ele nota meu incômodo e parece brincar com isso.
Hoje acordei me sentindo disposta, sentindo que coisas boas viriam naquele dia. Levantei da cama bem cedo, pus meu vestido branco que vai até alguns centímetros depois dos joelhos e penteei meus longos cabelos negros. Quando saio do quarto, reparo que todos já se encontravam em seus postos, trabalhando. A sala estava vazia, minha mãe deixara meu café da manhã na mesa: um copo de cerâmica com café preto e uma fatia do pão que sobrara de ontem. Me sento e espreguiço-me na cadeira. Pego o pão e o levo a boca.
Paro no meio do caminho. Claro, esqueci de fazer a reza.
Uma das coisas que mais ouvia na igreja quando criança, era sobre a importância de rezar antes de qualquer refeição e antes de dormir. Os monges diziam sempre que se esquecêssemos de fazer isso, ou de cumprir as leis da igreja, estaríamos condenados as chamas ardentes do inferno.
Fecho meus olhos e começo:
Pai nosso que estás no céu...
Santificado seja teu nome
Venha a nós o teu reino
Perdoa nossos pecados
Assim como perdoamos os nossos pecadores
Não nos deixe cair em tentação
Amém.
Abro meus olhos satisfeita. Levo o pão até a boca e mastigo com tranquilidade. Olho o ambiente da sala; estava uma bagunça, o chão estava sujo, pois chegou pedidos de jarros de cerâmica do casarão e minha mãe era a única que sabia fazê-los como ninguém; eu ainda estava praticando, por isso não ajudava muito, já que meus últimos 5 testes acabaram em estrago. Limparia tudo depois.
Corro os olhos pelo resto do lugar, não tinha muito o que ver, mas ainda assim eu gostava de prestar atenção nos mínimos detalhes. Paro meus olhos na janela grande perto da porta de entrada.
Vejo meu pai e o Senhor Feudal conversando.
Espera. O que ele está fazendo aqui? Os nobres nunca vem até os servos.
Quase me engasgo com o pão em minha boca. Recupero o fôlego, e tento chegar mais perto da janela, na tentativa de ouvi-los.
Nada.
Será que viera nos expulsar? Deve estar contando ao meu pai como odiou por eu ter demonstrado na cara dura a minha reprovação aos seus casos de uma noite. Já até imagino aquela boca bem projetada soltando da forma mais fria possível que teríamos que pagar uma Taxa de Justiça e abandonar o feudo no dia seguinte por conta de meus olhares condenatórios; deve estar fazendo meu pai se sentir envergonhado por ter uma filha como eu, que só traz problemas para a família. Com certeza eu estava absolutamente encrencada.
Vejo meu pai se virar para entrar na casa.
Não, não, não, não...
Dou um pulo até minha cadeira e tento fingir que nada acontecia; o que era difícil, pois minhas mãos e testa suavam como nunca.
—Está tudo bem florzinha? —Meu pai pergunta olhando diretamente para o suor em meu rosto.
—S-sim... é apenas o dia que está escaldante. —Disse, tentando parecer menos nervosa. —Você estava lá fora fazendo o quê?
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Amor Sob Trevas
Ficción históricaUma mulher. Dois homens. Um tempo cujo maior desafio é se manter vivo. Bem-vindo a Idade Média. #AMOTOTÓ #TheBest #ConcursoPF #GoldLeaves **Plágio é crime!