Capítulo 10

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Chegamos cedo. Quando acordei pela manhã e comuniquei minha mãe que iria ao serviço hoje, um sorriso enorme se estampou em seu rosto. Não a culpo. Ela não sabe meu segredo. Apenas está pensando na renda que estamos recebendo com esse trabalho extra. Afinal, sempre fomos acostumados a servir sem receber nada em troca. Era nossa primeira vez ganhando algo além do direito de morar no feudo. Não me admiro de mamãe e tia Stella estarem tão empolgadas com tudo isso.

Logo que entramos, somos separadas. Uma criada me pega pelo braço e me empurra para a cozinha. Me explica detalhadamente quais são os pratos favoritos do Sr. Thomas e me mostra onde fica cada coisa. Depois me deixa sozinha, dizendo que tinha muito o que fazer pela casa. Observo cada elemento da cozinha enorme ao meu redor. Pratos e talheres da mais incrível qualidade. Nunca havia visto coisas tão caras diante dos meus olhos. Mas não podia esperar menos. Andrew, em seu excelente serviço de fofoqueiro, me contara o que ouviu sobre as inúmeras posses da família de Thomas. O Barão Cortês, seu pai, é um dos homens mais ricos de Roma. Tudo o que lhe atrai, compra.

Abro os armários, observando todos os tipos de elementos a minha disposição. Uma fartura impressionante para um homem solteiro. Mexo em cada um dos temperos, ervas, e carnes espalhadas pela mesa da cozinha. A criada havia me dito para preparar algo leve. Opto por uma sopa. É algo simples, porém leve. Por um momento, sinto vontade de cuspir em seu prato. Mas lembro que estou sendo paga pela primeira vez, então acabo deixando a ideia de lado.

Capricho em cada um dos temperos. O cheiro é de matar. Enquanto cozinho, percebo a grande agitação das criadas. Limpam tudo o que encontram pela frente. Sorrio, imaginando quão incrível seria ter tanta ajuda assim em casa. Apesar de o lugar ser pequeno, somos muitos e bagunceiros. Andrew iria adorar essa vida boa. Não daria um descanso sequer para as pobres moças.

Me pego perdida nesses pensamentos e nem vejo a mulher parada em minha frente, chamando por mim.

—Você é surda? —Ela diz, com toda arrogância do mundo.

Penso em responder à altura, mas mudo de ideia quando olho as vestes da mulher. Uma nobre. Usa um vestido de um tecido da mais alta qualidade, com um decote caprichado e sapatos pretos muito elegantes. Seu cabelo, porém, está bagunçado. Está sem joias e sua roupa está amassada.

Reflito um pouco. Claro.

O decote, roupas amassadas, cabelo bagunçado. Era mais um dos casos do Senhor Feudal. Meu estômago revira quando imagino as coisas que os dois fizeram juntos. Extremamente nojento.

Percebo que a mulher desconhecida me pede água. Demoro um pouco para achar um copo, ainda desacostumada com tantos utensílios ao meu redor. Entrego um cheio, feito de vidro.

—Finalmente. Barão Thomas precisa escolher melhor suas servas. —Diz, pegando o copo de minhas mãos.

Cerro os olhos em sua direção. Tenho vontade de responder ''Se está insatisfeita, é só usar suas próprias mãos da próxima vez''. Mas apenas suspiro e digo:

—Deseja mais alguma coisa? Caso contrário, a serva aqui tem coisas mais importantes para fazer. —Falo e sorrio o mais sarcasticamente possível.

Ela nota minha audácia e abre a boca para proferir alguma ofensa. Mas em vez disso apenas me lança uma careta e sai da cozinha. Provavelmente pensou que era perda de tempo bater boca com alguém de classe tão inferior.

Volto minha concentração à sopa.

Estou cozinhando faz horas e ainda não o vi, o que me faz trabalhar com mais alegria. Até chego a cantarolar. Se continuasse apenas na minha toca, no meio dos servos, não precisaria vê-lo com frequência. Termino a comida e monto seu prato. Deixo sobre a mesa para que a criada leve assim que passar.

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